Olhar Conceito

Sábado, 20 de abril de 2024

Notícias | Literatura

‘Roberto Carlos é o último censor de livros do Brasil’, diz autor da biografia do Rei

SÃO PAULO - No dia em que o golpe militar completou 51 anos, a Universidade de São Paulo (USP) promoveu o debate “É proibido proibir”, com a participação dos jornalistas e biógrafos Paulo Cesar de Araújo e Julio Maria. O primeiro teve a biografia “Roberto Carlos em detalhes” proibida pelo Rei em 2007, com 10 mil exemplares retirados de circulação. Já Julio lançou “Elis Regina: nada será como antes”, há duas semanas, no dia em que a cantora completaria 70 anos, com autorização dos três filhos dela.

No debate, realizado na noite desta terça-feira no campus da cidade universitária, na zona oeste da capital paulistana, os autores se centraram na discussão dos rumos das biografias no Brasil. Há um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional para regulamentar a publicação de obras do gênero, já aprovado pela Câmara dos Deputados, mas ainda não votado pelo Senado.

— O momento é outro. Precisamos estar atentos e oficializar isso. Principalmente no meu caso. Como meu livro está proibido e todas as tentativas foram em vão, espero uma mudança na legislação ou uma brecha para tentar trazer o livro de volta. Ele é o último censor de livro no Brasil. É importante falar isso no dia 31 de março — disse Araújo.

O historiador disse não acreditar numa mudança partindo do Congresso, mas apenas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que tem uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) para julgar. A relatora é a ministra Carmen Lucia. Julio Maria se mostrou incrédulo quanto à celeridade da alteração por ambas as esferas de poder e convocou os biógrafos a desafiar os integrantes do movimento “Procure Saber”. O grupo, liderado pela produtora Paula Lavigne, é defensor da necessidade autorização prévia dos biografados.

— O que vai mudar a legislação é a prática, com enfrentamento e coragem de ir lá e fazer. O pessoal do Procure Saber tem que ser desafiado pelos biógrafos. Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento precisam de biografias de verdade. Se eles não querem suas histórias contadas, é porque têm coisas a esconder. Estamos correndo o risco de ter as histórias contatadas com 'chapabranquismo': o biógrafo com medo de ser processado logo de cara, com uma editora que vai submeter o livro dele ao departamento jurídico. Vemos estórias saindo de biografias por medo prévio, autocensura do biógrafo, que vive um pesadelo eterno — alertou Julio.
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui

Comentários no Facebook

Sitevip Internet