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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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A cultura digital como ato de resistência

Terminou domingo com um grande piquenique ao ar livre a maratona de cinco dias e cinco noites do maior festival independente de cultura digital e música eletrônica do mundo, o Mutek. Em sua 14ª edição, o evento criado em Montreal, na província de Quebec, porção francesa do Canadá, reuniu cerca de 20 mil pessoas interessadas não só no lado festivo da música eletrônica, mas também em sua faceta mais cabeçuda, personificada em atividades como painéis de debate, workshops, instalações audiovisuais e entrevistas com os artistas abertas ao público.

Além das noites abastecidas pelo som de artistas veteranos (como o lendário DJ de Detroit Robert Hood, o soulman eletrônico Jamie Lidell e o inglês Matthew Herbert) e produtores que estão estourando agora (caso do espanhol John Talabot e do inglês Jon Hopkins), também houve espaço para muita experimentação, especialmente na programação do A/Visions, seção do festival dedicada às performances audiovisuais mais diversas.

Entre as que mais deram o que falar esteve o projeto One Pig, do multifacetado Matthew Herbet. No palco do Monument National, ele apresentou uma performance inspirada no curto tempo de vida de um porco. Do nascimento ao abate, Herbert gravou os sons que o animal emite e os transformou em ponto de partida para seu experimento. A peça, que lhe rendeu críticas vindas de defensores de animais, terminou com um banquete preparado no palco por um chef (à base de carne de porco, claro) e com a plateia invadida por um forte cheirinho de bacon. Quem disse que música não pode ser 4D?

Neste ano, o festival lançou seu primeiro slogan ("a primeira vez é inesquecível"), com o intuito de atrair uma geração mais jovem. "E também foi uma forma de convidar quem já veio a voltar ao festival. Também estamos superanimados com o aniversário de 15 anos do Mutek, ano que vem. Isso nos motivou a fazer a melhor programação artística da história do festival. Quase metade das apresentações deste ano foram estreias mundiais", diz Alain Mongeau, criador e diretor do festival.

Presente em países como México (onde celebra 10 anos em 2013) e Espanha, Mongeau se diz animado com a possibilidade de fazer uma edição completa do Mutek no Brasil. "Fizemos algumas coisas pequenas no Brasil, mas agora há um grupo interessando em implementar o Mutek no país. Somos os 'latinos do norte' aqui em Montreal, falamos francês num continente onde 350 milhões de pessoas falam inglês. Sentimos uma conexão muito forte com a América Latina", diz Mongeau.

Um dos grandes diferenciais do Mutek em comparação a outros festivais de música eletrônica é o fato de quase não ter DJs na programação. "Quando começamos o Mutek, a música eletrônica estava sofrendo de uma péssima fama, sempre relacionada ao uso de drogas. A gente quis deixar bem claro que havia uma cena criativa na música em si, que não era só uma festa. Por isso escolhemos focar em artistas, produtores que fazem música, e não nos DJs", explica o criador do Mutek.

Por isso, nos palcos do festival se veem mesas lotadas de equipamentos como baterias eletrônicas, sintetizadores, microfones, samplers e até instrumentos criados pelos próprios artistas, como a máquina que modificava a "voz" do porco, usada por Matthew Herbert. "Gosto de me apresentar no Mutek porque para mim é um festival de resistência, não está preocupado com o que é comercial ou fácil", disse ele em entrevista aberta ao público.

"O Mutek é um ato de resistência, sempre foi. A música eletrônica comercial está por toda parte, em festivais gigantescos com DJs genéricos. Por isso minha preocupação é apresentar novos artistas ao lado de gente já estabelecida. Um exemplo é que este ano trouxemos o Robert Hood, um lendário DJ de Detroit. Ele não tem feito muita coisa nova, mas é um DJ que fez história",, enfatiza Mongeau.

Para 2014, os planos são ambiciosos. "Esperamos atrair 100 mil pessoas", conclui.
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