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Sábado, 14 de dezembro de 2024

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Uma nova perspectiva: O natal sem Jesus Cristo

Certo dia uma pessoa, meu irmão mais novo, me perguntou se Jesus Cristo era um coelho. Eu estava morando no Canadá na casa de uma família de origem indiana, e o filho mais novo do casal que me acolheu, Armaan, me contou que, para ele, a páscoa era uma data para ganhar ovos de chocolate. Quando tentei explicar o real significado da data, contando a história bíblica de Jesus, da crucificação e da ressurreição, a associação com o animalzinho que trazia ovos numa cesta foi instantânea. Armaan nunca tinha ouvido falar em Jesus Cristo. 




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Em outra ocasião, presenciei uma canadense (casada com um hindu) impressionada com um ritual macabro em que os fiéis tomam o sangue e comem a carne de seu Deus. Quando ela revelou o tal ritual, outra bomba caiu sobre a minha cabeça: E não é que ela falava da Santa Ceia?

A fala de Armaan e da mulher canadense me fizeram pensar. Em toda a minha vida, nunca questionei a maioria cristã do mundo, e acreditei fielmente que todos tinham ao menos ‘ouvido falar’ no “Filho de Deus”. É, talvez Deus seja realmente brasileiro.

Quanto mais saímos da bolha em que vivemos, do país mais cristão do mundo, mais percebemos que o que nós antes achávamos estranho (Uma deusa com nariz de elefante? Colocar comida no túmulo para vidas futuras? Tomar alucinógenos para chegar mais perto do divino?) é apenas diferente e desconhecido. Assim como o cristianismo pode ser extremamente confuso para quem não nasceu nele.

O caso brasileiro



Segundo o inciso I do Artigo 19 da Constituição Federal de 1988, o Brasil é um país laico. Segundo o preâmbulo desta mesma Constituição, os representantes do povo brasileiro escreveram o texto “Sob a proteção de Deus”.

Para começar a contestar a ideia de “Estado Laico” no Brasil, basta analisar o calendário brasileiro. Dos 16 feriados e pontos facultativos oficiais, oito têm origem cristã. Nenhum deles, no entanto, tem origem em outras religiões. Corpus Christi, Feriado de Nossa Senhora Aparecida, Paixão de Cristo e, o assunto desta semana, natal.

Com o objetivo de desmistificar as religiões que não tem origens cristãs, a equipe do Olhar Conceito decidiu fazer um ‘Especial de Natal’ diferente. Fugindo dos pinheiros, do Papai Noel, dos presentes e também do nascimento de Jesus, vamos focar no que outros grupos religiosos fazem e acreditam (tanto nesta data, quanto em suas festas específicas).

Dados

O Censo de 2010 mostrou que 64,6% da população brasileira se auto-declara “Católica Apostólica Romana”. Os evangélicos somam 22,2%, o que traz ao cristianismo 86,8% dos brasileiros. Os 13,2% restantes, espremem-se em um dos países mais cristãos do mundo. Esses números podem, às vezes, trazer a falsa ilusão de que o resto do mundo também se organiza desta forma.

É certo que o cristianismo é, também, uma das maiores religiões do mundo. São 2,2 bilhões de adeptos em todos os continentes. As outras crenças, no entanto, não ficam para trás: são 1,6 bilhões de muçulmanos, 900 milhões de hindus, cerca de 376 milhões de budistas e 15 milhões de judeus no globo. Muitos deles, acredite, nunca ouviram falar no nome “Jesus Cristo”.



Nos próximos dias o internauta vai mergulhar no mundo do Islamismo, do Budismo, do Judaísmo e do Ateísmo a partir de histórias de cuiabanos que precisam, todos os dias, enfrentar a realidade de um país laico “só que não”.

(Esclarecimento: São diversas as religiões não-cristãs praticadas no Brasil. Essas quatro foram escolhidas com base em seu grande número de adeptos no país – 107.329 judeus; 35.167 muçulmanos; 243.966 budistas; 615.096 ateus – e por não terem nenhuma ligação com a história do natal).
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