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Notícias / Comportamento

Quase 70% dos que querem adotar não aceitam crianças com qualquer tipo de doença; Veja dados

Da Redação - Isabela Mercuri

Na última quarta-feira (25), aconteceu o ‘Dia Nacional da Adoção’. Nesta data, uma caminhada solidária reuniu a Corregedora-Geral da Justiça Mato Grossense, Maria Erotides Kneip Baranjak, que ocupa a vice-presidência da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), além de participantes da Associação de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) e do Programa “Bem Viver”. A ideia é tentar achar um lar para os 860 menores acolhidos nas 77 instituições públicas de Mato Grosso.

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O Brasil tem mais adultos querendo adotar crianças do que crianças disponíveis para adoção. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em todo Brasil há 6599 crianças aptas a serem adotadas. Para cada uma delas há quase seis adotantes (casais ou pessoas sozinhas) que poderiam ser seus pais (35845).

O grande problema, no entanto, é a diferença no perfil entre os pretendentes e as crianças. “O brasileiro aceita a adoção, mas em 90% dos casos quer adotar crianças brancas, que não tem nenhum tipo de deficiência, crianças bonitas, alegres, e o que nós vemos pra adoção são jovens, adolescentes, negros, neuropatas que não preenchem de forma nenhuma o perfil pretendido”, explicou Maria Erotides Kneip Baranjak, durante a caminhada.

E os dados estão abertos para quem quiser conferir. Ainda no site do Conselho Nacional de Justiça, por exemplo, onde estão cadastradas atualmente 35845 pretendentes, quase 23% aceitam adotar somente crianças brancas (8025). Os que aceitam adotar somente crianças negras, por exemplo, são menos de 1% (332).

Quando o assunto é a idade, a realidade é ainda pior. Somente 0,14% (51) dos pretendentes aceitam adorar crianças de até 14 anos. Enquanto 20,13% (7219) aceitam crianças de até três anos de idade.

Segundo a Corregedora-Geral, no entanto, a realidade em relação aos Portadores de Necessidades Especiais (PNEs) é também alarmante, mesmo com auxílio do Estado: “No caso de família acolhedora, o ente municipal ou estatal entra com o pagamento de uma bolsa auxílio pra criação. Em alguns municípios chega a ser um salário mínimo, e em outros de 600, 800 reais. Mas no caso de crianças com deficiência mental esse valor é maior. Então nós temos, por exemplo, município que paga mil reais. Porque nós temos gastos maiores, né? A educação especializada, o atendimento psicológico”, afirma. De acordo com o CNJ, 68,94% (24713) dos pretendentes do Brasil só aceitam crianças sem doenças. 

Sobre esse assunto, Maria Erotildes acredita que parte da solução seria o estado oferecer um seguro-saúde: "A gente sonha pra essas crianças um seguro saúde. Porque eu tenho certeza que se nós tivéssemos um seguro saúde pra essas crianças não haveria crianças neuropatas em acolhimento institucional", afirma.

As diferenças de perfil também giram em torno da necessidade de serem adotados irmãos, gêmeos, e crianças com problemas de saúde no geral. De acordo com o Conselho, 25% (1693) das crianças têm alguma doença, e mais de 65% delas (4340) possuem irmãos.

“O papel da justiça é garantir direitos constitucionais. A constituição fala que a prioridade absoluta é evitar que todas as crianças sejam colocadas em alguma forma de violência. E o fato da criança viver fora do núcleo familiar é, pra mim, a maior de todas as violências. A maior de todas as violações de direitos fundamentais. Por isso que eu estou aqui”, afirmou a Corregedora durante o evento.

Todos os dados estão disponíveis AQUI.
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