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Notícias / Gastronomia

“Já vi baiano chorar ao comer”, diz alagoano que vende acarajé em Cuiabá

Da Redação - Vitória Lopes

Através de um carrinho estacionado em um chão de brita, no Bairro Bela Vista, Marcos Matas apresenta a mistura do “centro-oeste com o nordeste”. Entre panelas de ferro e cheiro de azeite de dendê no ar, o alagoano vende o tradicional acarajé feito no ato do pedido, especiaria única em Cuiabá.

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Sentado no banquinho do seu comércio e atendendo um cliente no celular, Marcos conta que é natural de Maceió, e veio para a capital mato-grossense em março. Ele, que é formando em administração de empresas, decidiu percorrer 2.966,2 km e deixar o mar em busca de um mercado mais propício. Como ele mesmo explicou, “vender acarajé no nordeste é como chover no molhado”.

Enquanto bate a massa do feijão-fradinho com cebola e sal, o homem desmitifica a origem do acarajé. Muitos acreditam ser de origem baiana, mas na verdade, é africana. O acarajé é elemento central da cultura afro-brasileira e também do candomblé.

De acordo com ele, no nordeste quem geralmente produz os bolinhos são praticantes da religião de matriz-africana, que são as filhas de Iansã (as baianas) ou filhos únicos, no caso de homens. O quitute se tornou, assim, uma oferenda a esses orixás.

“É mais uma identidade, é a cultura negra. É uma identidade das nossas origens. Eu acho que a maioria das pessoas ligada à cultura negra deveria ter conhecimento sobre o acarajé, como foi que chegou, de onde veio e porque se vendia o acarajé”, explica. Além da confluência das regionalidades, o espaço também é ecumênico, já que pessoas de todas as religiões frequentam o local.

Marcos trouxe a receita o mais tradicional possível, que ele aprendeu sozinho. “Do jeitinho que se fazia acarajé no começo, eu to fazendo aqui em Cuiabá. Desde criança eu conheci assim, e eu gosto dessa originalidade. Eu disse que se eu for pra lá [Cuiabá], teria que vender do jeito que se fazia antes. Nada de distribuir com ou sem mais ingredientes”, conta.

Os principais ingredientes vêm direto de Maceió, como o azeite de dendê e o camarão. Há ainda o vatapá e caruru, para recheio. Sendo uma palavra composta da língua ioruba, “acará” significa “bola de fogo” e “jé”, “comer”´. Ou seja, “comer bola de fogo”. Portanto, sobre a pimenta, que é clássica na gastronomia nordestina, Marcos adverte que numa escala de 0 a 10 de ardência, a dele está no sete.

Inclusive, a pimenta é um dos temperos que conquistou sua clientela. Majoritariamente composta de nordestinos ou descendentes, eles se emocionam ao encontrar a iguaria a quilômetros de distância da terra natal.

“Eu já vi baiano chorar aqui, porque tinha tempo que não comia acarajé. E quando viu que era tão bom quanto o que eles estavam acostumados a comer na Bahia, eles choram. Principalmente a pimenta, porque cuiabano não tem costume de comer muita pimenta aqui (risos)”, conta Marcos, que chega a andar com pimenta no bolso porque as daqui são “colírios pros olhos”.

Mas para aqueles que não gostam de pimenta ou camarão, há opções de carne seca e frango desfiado com queijo. Aliás, o bolinho é feito na hora do pedido. Ainda batendo a massa, pergunto quanto tempo demora o preparo, e Marcos dispara “normalmente é rápido, mas é que eu estou conversando com você... (risos)”.

Ele então se levanta, põe a massa pra fritar e explica o processo para montar o acarajé. Sobre o futuro, o homem revela que planeja vender mais petiscos de origem nordestina inéditos para a cidade, como sururu, massuru, casquinha de siri e queijo coalho.

“O acarajé é a porta de entrada. As pessoas se identificam e comem”. E logo entra uma cliente natural do Piauí, que chega pedindo logo cinco, dando início as vendas do final da tarde de Marcos.
 
Serviço

Endereço: Rua 14, nº 24, bairro Bela Vista (atrás do Pantanal Shopping)
Telefone: (65) 98436-6579
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