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Mato-grossense traz ‘flores de coco’ do século 19 a Cuiabá após imersão com doceiras antigas

Da Redação - Isabela Mercuri

Uma rosa tecida à mão, com fitas de coco natural, que engana até mesmo o olho mais treinado. Será um artigo de decoração? Um sabonete? Não. É um doce do século XIX, que enfeitava as mesas dos grandes casamentos do passado, e que em Mato Grosso foi resgatado pela gastróloga Helaine Magalhães, que depois de se formar em gastronomia decidiu fazer uma imersão em doces antigos e trazê-los para a atualidade.

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Helaine é natural de São José dos Quatro Marcos (308km de Cuiabá), mas passou grande parte de sua vida viajando. Casada com um cuiabano que trabalhava em frigorífico, ela acompanhava os passos do marido, e nessas idas e vindas aprendeu a fazer doces com uma amiga, quando morou em Andradina, interior de São Paulo. Por coincidência do destino, a ‘professora’ foi a sogra de sua amiga, a doceira cuiabana Thelma Sheida. No início, Helaine fazia doces finos para casamentos. De mudança mais uma vez, veio para Diamantino, onde fez sucesso com a venda de ovos de páscoa e as encomendas para festas começaram a aumentar.

Cansados de viver ‘de um lado para o outro’, Helaine e seu marido decidiram que ele sairia do frigorífico, e os dois abriram uma cafeteria em Chapada dos Guimarães, em 2015. O que era para ser calmaria, na realidade, aguçou a vontade de saber mais da mato-grossense, que ingressou no curso de gastronomia do Univag e logo vendeu o empreendimento para se dedicar somente aos estudos. “Na faculdade eu tinha necessidade de imergir, de dar o sangue, e não dava porque a cafeteria me sugava muito”, lembra. “Eu fiz a escolha por estudar, vendi quando estava no meio do curso, porque não estava aprendendo tanto quanto precisava. Nesse um ano que eu fiquei só por conta da faculdade eu me joguei, virei estudante mesmo”.

Foi na faculdade que ela reconheceu sua verdadeira paixão. “Eu sou uma pessoa criada na roça, porque Quatro Marcos é interior do interior. Então isso da terra pra mim é muito familiar”, conta Helaine. “Quando eu ia pra gastronomia, que tinha aulas da culinária francesa, ficava um pouco perdida porque o que eu reconhecia como gastronomia, a minha experiência de vida era outra coisa”.

O que encantava Helaine eram os doces antigos, mas ela sabia que precisava conhecer mais, e a forma de adquirir esse conhecimento veio durante um projeto que ela realizou no 3º semestre, chamado ‘O Melhor das Américas’. “A gente escolheu um mochileiro pra contar essa experiência pros convidados. O mochileiro contava uma historia de uma viagem, porque a gente precisava costurar o cardápio”, lembra.

A experiência do mochileiro inspirou a mato-grossense a sair de seu estado natal e ir conhecer as coisas na prática. Primeiro, Helaine foi até a famosa doceira Adriana Lira, que lhe incentivou a conhecer a cidade de Goiás Velho (141km de Goiânia), um reduto da doçaria brasileira antiga.

“Passei dez dias andando pelas ruas sem conhecer ninguém, mas com uma lista de doceiras. Ela [Adriana Lira] me passou alguns nomes, algumas dicas, falou para eu ir sem pressa, passear pela cidade. E eu fui pra esquecer o que eu era”. Helaine se hospedou na casa de uma professora que não conhecia, e conversou com artistas plásticos, pesquisadores e moradores antigos da cidade, até conhecer Thaline Velasco, que aprendeu a receita de flores de coco com a avó, Alice Velasco, uma senhora que hoje tem cerca de 90 anos, e que fez muitas destas flores na década de 50.

Helaine e suas flores de coco (Foto: Olhar Conceito)

“A gente trocou receitas. Eu a ensinei a fazer a bala de coco, que era um doce que eu tinha mais facilidade pra fazer, e que tinha mais a ver com ela”, conta Helaine. O aprendizado durou toda uma tarde, já que Thaline não tinha nenhuma receita escrita, mas sim conhecimento empírico, ou seja, é tudo ‘no olho’.

De volta a Cuiabá, Helaine estudou mais seis meses até se formar, e no final de 2017 apresentou suas flores de coco em uma feira do empreendedor da Universidade. Ali, ganhou um prêmio de produto inovação, e diversos clientes, que já começaram a fazer suas encomendas para o Natal.

Hoje, quase três meses depois, a doceira e gastróloga faz suas flores diariamente, com a ajuda de uma funcionária, mas mesmo assim consegue produzir apenas cem unidades por dia. Segundo ela, são dois minutos e meio apenas para tecer as pétalas de cada um. Neste caso, a pressa é mesmo inimiga da perfeição. “Ela é trabalhosa, então é pra quem tem um propósito de trabalhar com sossego. É artesanal, a proposta é essa mesmo”, justifica.  Todas as flores são feitas com coco, açúcar e corante natural.

Mas Helaine quer mais. Matriculada como aluna especial no mestrado em história na Universidade Federal de Mato Grosso, e também como aluna do Sebrae, ela quer fazer contatos com outras pessoas que estudem a doçaria brasileira, para em breve expandir seu cardápio, transformando os doces tradicionais em opções bonitas e sofisticadas para todo tipo de evento.

Serviço

Flor de Coco
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