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Notícias / Literatura

Professor de história da UFMT lança livro sobre bispos que lutaram nas cruzadas

Da Redação - Isabela Mercuri

Um livro sobre os ‘bispos guerreiros’, que há alguns milênios pegaram em armas e foram para os campos de batalha ao mesmo tempo em que propagavam a fé cristã, será lançado em Cuiabá na próxima sexta-feira (13), às 19h, no auditório do Instituto de Geografia, História e Documentação (IGHD), na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A obra, de autoria do professor Leandro Rust, é publicada pela Editora Vozes, e resultado de três anos de pesquisa.

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De acordo com a assessoria da UFMT, o trabalho de pesquisa para “Bispos Guerreiros: violência e fé antes das Cruzadas” começou durante uma investigação no pós-doutorado do professor, realizada na Catholic University of America, em Washington (EUA), e financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “No ano seguinte, continuei a desbravar o tema aqui em Cuiabá, como um projeto de pesquisa acolhido pela UFMT”, relata Leandro.

Para conseguir o material de pesquisa, o professor buscou diversas evidências em “epístolas, diplomas, atas conciliares, opúsculos e, principalmente, crônicas. Registros de próprio punho são raros: aquele que busca a perspectiva dos bispos guerreiros sobre o mundo, quem busca ouvir sua voz e sua versão dos fatos se depara com um silêncio espesso e pesado. Mas, essas figuras polêmicas, controversas, atraíram a atenção de muitos contemporâneos. Os registros deixados por essas testemunhas formam o material pesquisado”, expõe.

Ainda segundo Leandro, a história dos bispos, apesar de ter acontecido há milhares de anos, aborda, de certa forma, questões da atualidade, em relação à religião, violência e poderes públicos. “O livro mostra como essas três faces da vida em sociedade se entrelaçam, assumindo formas surpreendentes. O faz, especialmente, ao tratar de usos socialmente justificados da força e do derramamento de sangue em uma sociedade onde o Cristianismo era a cultura hegemônica. “Bispos Guerreiros” revela como esses usos marcaram as lutas sociais e as estratégias de dominação, a recriação do imaginário e da lei; como afetaram a capacidade de se adaptar ao imprevisto e controlar os fatos; como tais usos estavam em jogo no afrouxamento da obediência e na negociação da autoridade, e ainda como a fé e a violência demarcaram as fronteiras entre privilégio e marginalização. Muitas dessas questões tocam diretamente alguns dos dilemas mais cruciais das atuais sociedades democráticas, que vivem dias de polarização ideológica, de ressentimentos coletivos, de acirramento de disputas, de verdadeiras disputas de fronteira entre a laicidade, a religião e a cidadania”, afirma o docente, acrescentando que entre as muitas experiências que o livro provocou como “laboratório humano no tempo”, a, talvez, mais cara foi a de não poder subestimar a relação humana como a violência. “Ela nada tem de simples, tampouco se resume a um problema moral ou exclusivamente jurídico”, define. 

“E mesmo que os ‘bispos guerreiros’ tenham se tornado figuras raras, em muitos casos, escândalos ambulantes – especialmente na medida em que as proibições do direito canônico ao porte clerical de armas saltaram do papel para o cotidiano –, esse vasto universo vivido por eles passou adiante na história ocidental. Quando participavam da guerra, aqueles bispos desembainhavam muitas armas além da espada e da voz de comando. Essas outras armas ocupam um lugar muito importante na história – mas pouco estudado. Eles ajudam a compor um quadro mais completo de processos de grande alcance, como a ascensão política do Papado, a eclosão das cruzadas e a diversificação das relações de repressão nos espaços urbanos ocidentais”, acrescenta. 

Serviço

Lançamento “Bispos Guerreiros: violência e fé antes das Cruzadas
Data: Sexta-feira, 13/7; 19h
Local: Auditório do Instituto de Geografia, História e Documentação (IGHD), na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
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