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Diretoria da AML repudia ações da chapa perdedora: ‘esperneio de derrotados’ e ‘pseudo intelectuais’

Da Redação - Isabela Mercuri

A atual diretoria da Academia Mato-Grossense de Letras, da qual faz parte a presidente eleita Sueli Batista - atual segunda secretária – divulgou na última terça-feira (24) uma carta em resposta às ações da chapa perdedora das últimas eleições, que não compareceu ao pleito eleitoral e divulgou, também, uma ‘Carta Aberta à Comunidade Mato-Grossense’ afirmando que o processo eleitoral não cumpriu o regimento interno. O documento da diretoria, nomeado ‘Repto em nome da dignidade acadêmica’, afirma que os ‘esperneios de derrotados’ levaram os assuntos da Academia à população de forma ‘desairosa’, e ainda chamou os adversários de ‘pseudo intelectuais’.

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A ‘guerra de imortais’ negada pelo documento se refere à disputa para a presidência, que foi a primeira em cem anos. De um lado, estava Sueli Batista, formada em jornalismo, com pós-graduação em metodologia e didática do ensino superior, MBA, além de formação como coach, empresária há mais de trinta anos e criadora de algumas ONGs no estado. Do outro, a mestre e doutora em educação, com interface na literatura e foco Manoel de Barros, Maria Cristina de Aguiar Campos, imortal da Academia desde 2015.

Maria Cristina se candidatou antes do lançamento do edital e, após a publicação oficial, a outra chapa se inscreveu. “A partir desse momento, pessoas da chapa prematura deram inicio a uma série de atitudes pueris, desafiadoras e provocativas que resultou em grave e inédita desavença na família acadêmica”, diz o documento oficial.

No dia da votação, a chapa ‘Viva a Casa Barão’, da qual também fazia parte o ex-presidente da AML Eduardo Mahon, não compareceu ao pleito, e o advogado publicou em suas redes sociais uma ‘Carta Aberta à Comunidade Mato-Grossense’ explicando porque a chapa não compareceu à votação.

Segundo Mahon, houve “equívocos na condução do processo eleitoral”, como a possibilidade de votação por cédulas encaminhadas pelos Correios, e pessoas do grupo ‘União e Harmonia’ ocupando cargos-chave na atual direção. Segundo o ele, estas atitudes contrariam o Estatuto da AML.

“Vale dizer que o inócuo boicote não é o primeiro que essa minoria realiza. Já há algum tempo seus componentes não comparecem nem às reuniões mensais e extraordinárias relativas aos eventos promovidos pela instituição”, respondeu a diretoria, por meio da carta. Além disso, disseram que “As esfarrapadas justificativas, que depois da derrota passaram a apresentar, não encontram o mínimo amparo no Estatuto, qualquer respaldo na história da Academia, tampouco sustentação ética. (...) As pseudos justificativas apresentadas não passam de esperneios de derrotados, embora seja deplorável que entre estes se encontram pessoas que participaram da elaboração do Estatuto o que significa, no mínimo, que deveriam conhecê-lo e respeitá-lo”.

Sueli deve ser empossada em breve, e ficará no cargo de presidente durante o biênio 2019-2021. Leia a íntegra do documento:

REPTO EM NOME DA DIGNIDADE ACADÊMICA
 
Nas ultimas semanas vimos pela imprensa e mídias sociais anunciar-se uma suposta “guerra entre imortais”. Todo o alarido surgiu em razão da disputa entre duas chapas pela Diretoria da Academia Mato-Grossense de Letras. Disputa legitima, natural e, de certa forma, bem vinda à medida que isso poderia representar um diálogo construtivo em torno do futuro de uma entidade que é a mais antiga das instituições culturais de Mato Grosso. No entanto, o que deveria ser um saudável e democrático debate interno, injustificadamente transbordou, levado que foi ao conhecimento de toda a sociedade mato-grossense. Ainda assim poderia ter sido positivo se, ao invés de questiúnculas, miudezas e idiossincrasias pessoais, tivesse sido colocado em discussão os problemas maiores ligados à cultura, ao conhecimento e, particularmente, a uma forma eficaz de procurar fazer aportar à instituição recursos financeiros que venham a contribuir para melhor dinamizar suas atividades. Lamentavelmente isso não foi, e não é, o que testemunhamos.

Se não procedia a informação de que seria esta a primeira vez em que duas chapas estavam disputando a Diretoria é certo, porém, que esta é a primeira vez em nossa história quase centenária que um assunto que dizia respeito única e exclusivamente aos acadêmicos foi levado a público de modo tão desairoso, tão afrontoso, atingindo não somente os atuais acadêmicos mas todo o nosso passado de convivência respeitosa. E é por esta razão que estamos vindo a publico repudiar o comportamento nefasto, pernicioso e deletério de uma minoria de ressentidos. A pirotecnia verbal criada por uns poucos, unicamente para satisfazer o próprio egocentrismo, levou deliberadamente à distorção da verdade. Daí à ignominia dos assaques pessoais foi um passo apenas. Este informe tem o objetivo de esclarecer aos interessados e aos desavisados que a mentira, embora repetida várias e seguidas vezes, não pode jamais se sobrepor à verdade. Vamos então aos fatos.

Uma acadêmica, antes mesmo da publicação do Edital de eleição, açodadamente lançou-se candidata e deu inicio à sua campanha. Após a publicação oficial, outra chapa se inscreveu. A partir desse momento, pessoas da chapa prematura deram inicio a uma série de atitudes pueris, desafiadoras e provocativas que resultou em grave e inédita desavença na família acadêmica.

Tal comportamento solerte, desconhecido em nossa história, que em absoluto se coaduna com a vida acadêmica, teve efeito contrário ao pretendido, pois serviu para unir ainda mais todos os membros mais antigos e sóbrios da instituição. Em decorrência, de antemão sabendo-se derrotado, e embora tendo participado do processo eleitoral até a ultima hora, esse grupo deixou de cumprir a obrigação estatutária de votar. Ao ausentar-se da votação de forma inglória, demonstrou um comportamento indigno àqueles que devem dar o exemplo de respeito à instituição a que pertence e de reverencia à Democracia. As esfarrapadas justificativas, que depois da derrota passaram a apresentar, não encontram o mínimo amparo no Estatuto, qualquer respaldo na história da Academia, tampouco sustentação ética. Deste modo é que salta aos olhos que a derrota sofrida não foi apenas pelo voto. O bom senso, a seriedade e a serenidade do espírito acadêmico prevaleceram. As pseudos justificativas apresentadas não passam de esperneios de derrotados, embora seja deplorável que entre estes se encontram pessoas que participaram da elaboração do Estatuto o que significa, no mínimo, que deveriam conhecê-lo e respeitá-lo.

Vale dizer que o inócuo boicote não é o primeiro que essa minoria realiza. Já há algum tempo seus componentes não comparecem nem às reuniões mensais e extraordinárias relativas aos eventos promovidos pela instituição, tampouco às sessões solenes de posse de eleitos e mesmo à Sessão Magna da Saudade, criada para homenagear acadêmicos falecidos. Com tal comportamento maldoso não atingem colegas seus, mas sim a própria dignidade acadêmica. Tais ações desagregadoras nunca foram vistas em nosso meio acadêmico.

Como encenadores do desdém, do desrespeito e da intolerância assumem, com falso orgulho, o deplorável comportamento que espalha falsas notícias, que tenta torpedear as iniciativas da instituição e que visa a criar a cizânia. Ora, essas são as características dos autoritários e daqueles que lhes são servis. E, o que nos deixa abismados, é como alguns se dispõem a ser subordinados, numa deplorável servidão voluntária. A estes últimos, recomendamos a que leiam La Boétie que escreveu sobre A servidão voluntária, no qual recomendava como o caminho do verdadeiro cidadão: “Tomai a resolução de não mais servides e sereis livres”.

Sob a pretensa fala de “defenderem” a literatura, como se dela fossem os donos, causam a divisão em um campo já frágil e desprotegido. Por vias transversas estão na realidade combatendo uma instituição – a Academia Mato-Grossense de Letras – que, a duras penas, vem se mantendo impávida, por empenho quase que exclusivo de seus membros, ao longo dos últimos noventa e oito anos.

Mas, daqui da Casa Barão de Melgaço, símbolo majestoso da tradição mato-grossense, lançamos um repto aos protagonistas da desavença e do desdém: não conseguirão destruir a nossa instituição. Atitudes demagógicas, estimuladas por um pedantismo, que é fruto da arrogância e da soberba, em nada contribuem para o verdadeiro conhecimento e o autentico labor em favor da cultura. Não permitiremos que pseudo intelectuais, distanciados da realidade de seu povo e movidos apenas pelo ressentimento, pelo ódio e pela frustração enodoem a nossa tradição. A Academia mantém-se renovada e, sendo fiel ao seu passado, olha para o futuro.
 
Casa Barão de Melgaço, 24 de setembro de 2019.
 
A DIRETORIA
 
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho – Presidente
José Cidalino Carrara – Primeiro Secretário
Sueli Batista dos Santos – Segundo Secretário
José Ferreira de Freitas - Decano


E a carta divulgada por Eduardo Mahon:
 

CARTA ABERTA À COMUNIDADE MATO-GROSSENSE

Os escritores componentes da chapa VIVA A CASA BARÃO!, que concorre à direção da Academia Mato-grossense de Letras, optaram por não comparecer à sessão de eleição, considerando vários equívocos na condução do processo eleitoral, alguns abaixo apontados:

– No grupo concorrente, há pessoas que ocupam cargos-chave na atual direção e não se desincompatibilizaram de suas funções, de modo que, ao criar Conselho Eleitoral (de um só membro) para conduzir a eleição da gestão 2019-2021, contrariou-se o Estatuto da AML, segundo o qual o secretário da instituição é quem deve ser responsável pelo processo;

— Nos quase 100 anos da AML, não se tem notícia de eleição da mesa diretora por meio de cédulas encaminhadas pelos Correios, o que também contraria o Estatuto.

Comunicamos, com antecedência, esses e outros equívocos ao presidente e ao confrade nomeado responsável pelo processo eleitoral, atentos ao compromisso de observar a tradição acadêmica. Entretanto, nossas solicitações foram ignoradas, por isso decidimos não legitimar a eleição com a nossa presença.

Pretendíamos que a Academia Mato-grossense de Letras voltasse a ser um Ponto de Cultura mais aberto à comunidade, referência estadual em publicações, cursos e eventos literários. Nos últimos dois anos, ficamos carentes de respaldo em ações que refletissem o nosso engajamento coletivo em favor da Literatura. Felizmente, pudemos contar com o apoio de instituições como a Unemat, a UFMT, o IFMT, o Sesc Arsenal, o Cineteatro Cuiabá, a Biblioteca Estadual Estevão de Mendonça, além de escolas e associações culturais, que compreendem a importância desta inédita união entre escritores, professores e artistas, os quais, antes de tudo, são amigos e parceiros.

A principal característica de nossa chapa é a valorização da Literatura produzida em Mato Grosso. É triste não encontrarmos espaço e representação onde seria natural o acolhimento dos poetas e prosadores do Estado. Merece destaque todo profissional que publica e temos profundo respeito por todos, porém a nossa sociedade espera encontrar na AML mais do que autores. Precisa e deseja desfrutar da Arte que a Literatura pode lhe proporcionar.

Continuaremos a nos movimentar e produzir intensamente. Estaremos à disposição da sociedade na luta pela produção, circulação, divulgação e pesquisa das obras dos nossos autores, independentemente de serem ou não membros da AML. Para nós, só faz sentido pertencer à centenária agremiação se ela representar, de modo efetivo, a produção cultural mato-grossense e se disponibilizar a incentivar o público a dela se aproximar, tornando o espaço democrático e acessível a todos.

Somos conscientes de que vivemos um momento positivo, resultado da estreita amizade entre escritores e estudiosos de Literatura.

VIVA A CASA BARÃO! Sempre!

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