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Arquidiocese apresentará verdadeira imagem do padroeiro de Cuiabá após confusão histórica

Da Redação - Isabela Mercuri

Por muitos anos, os fieis de Cuiabá guardaram em casa uma imagem que não era a do padroeiro da cidade. Neste sábado (26), a Arquidiocese da cidade, junto a uma equipe de artesãos, vai apresentar o verdadeiro Senhor Bom Jesus de Cuiabá à comunidade – o mesmo que está dentro da Catedral. Após a celebração, será realizado um jantar com comidas típicas e cem réplicas da imagem estarão à venda, por R$120 cada.

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“Só existe uma imagem que do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, que é a que está na Catedral. Nenhuma família de Cuiabá a tem. Mesmo a Catedral, que deveria divulgar, vende um Bom Jesus que é de Palmas. Então recebemos essa incumbência, desde os 299 anos, de divulgar a imagem do padroeiro de Cuiabá”, contou ao Olhar Conceito o Padre Felisberto Samuel da Cruz, da Arquidiocese.

O esforço da Arquidiocese, desde o ano passado, é pela maior valorização do padroeiro, e o lançamento da imagem é somente um dos passos. Outro deles é oficializar a comemoração do padroeiro no dia do aniversário da capital – atualmente, ela acontece no mês de setembro.

História

Segundo o padre e historiador Felisberto, a imagem do Senhor Bom Jesus de Cuiabá chegou por aqui antes mesmo de Pascoal Moreira Cabral. “Ela foi esculpida em madeira em Sorocaba por uma artesã, e tinha cabelos naturais, doados por uma senhora, que estava com problema de câncer. Ela fez uma promessa, de que se fosse curada da enfermidade, doaria os cabelos para fazer a peruca para o Senhor Bom Jesus”, contou.

A imagem, então, chegou por São Gonçalo Beira Rio, e se fixou quando construíram a primeira capela, em 1822, de pau a pique, onde hoje fica a matriz. Sem muita segurança, ela chegou a ser roubada três vezes.

“Duas vezes ela estava no Porto, prestes a embarcar. Na terceira vez, ela foi encontrada em Camapuã, que ainda era Mato Grosso”, lembra o padre. Na época, o povo rezou e prometeu que, se a imagem fosse encontrada, seria construída uma igreja digna do Senhor Bom Jesus. Foi assim que ficou determinada a construção da antiga Catedral, de onde a imagem só saiu quando houve a demolição – voltando logo após a construção da nova. “Então, na voz do povo, ficou decretado que essas são as terras que ele [o Senhor Bom Jesus de Cuiabá] escolheu para morar”.

A imagem retrata o momento do sofrimento de Jesus, da prisão, da condenação. E ele está com uma cana de açúcar na mão, representando o sofrimento dos trabalhadores dos canaviais.

Mudança

A ideia de levar ao povo a verdadeira imagem de seu padroeiro veio quando Padre Felisberto ficou incumbido de organizar as celebrações religiosas dos 300 anos da capital. “Eu vi que havia muita confusão, porque para muita gente, o padroeiro é São Benedito”, conta. Começou, então, um longo trabalho de conscientização e de busca pela confecção da réplica.

Réplica feita em madeira, em tamanho real (Foto: Olhar Conceito)

Réplica que será vendida, de 30 centímetros (Foto: Olhar Conceito)

Para isso, foi contratado o artesão Ariston, de Várzea Grande, que fez uma réplica de madeira no tamanho original, e outras duas de 30 e 70 centímetros, para a Igreja. A partir destas, a artesã Dominique Biancardini começou a reprodução em gesso, junto ao gesseiro Jorge dos Santos, a profissional do biscuit Elizabete Oliveira Mendes Martins, que fez a coroa, Dona Virginia dos Santos, professora de pintura e a costureira Ivete Botelho Magalhães, que fez os mantos. Para a réplica em tamanho real, foi confeccionado um manto pela costureira Clarice Cassiana Leite.

A própria Dominique, quando decidiu fazer a réplica da imagem de Bom Jesus, foi até uma loja da capital e comprou o que estava disponível. Quando foi falar com o padre Felisberto, descobriu que aquele era o Senhor Bom Jesus de Palmas, e se empenhou ainda mais na empreitada de produzir as primeiras imagens corretas do padroeiro. “Pra mim é uma alegria ser responsável por reproduzir essas imagens. Eu, que tenho dois anos trabalhando nessa área, [receber isso] é uma celebração, um reconhecimento”, afirma.

O próximo passo, agora, é conseguir a mudança da celebração do Dia do Padroeiro, para que seja junto ao aniversário da cidade. Segundo o padre, Cuiabá é a única cidade do mundo em que as datas não coincidem. “Nós não queremos tirar o mérito da Catedral de celebrar do jeito dela, porque ele também é padroeiro da Catedral. Mas queremos lembrar que, antes, ele é da cidade, é da catedral e é da arquidiocese”, afirma.

Segundo Felisberto, houve uma feliz coincidência de essa incumbência ter caído nas mãos do primeiro padre nascido, criado e trabalhando na arquidiocese de Cuiabá. “Queremos que ele seja celebrado o ano inteiro. E não podemos ficar brigando, até porque o Senhor Bom Jesus não é propriedade da Igreja Católica. E eu quero lembrar que as outras religiões estão conosco nessa batalha de divulgar: os espíritas, umbanda, quimbanda, candomblé, luterana, até a mesquita. Todos abraçaram a causa de divulgar, porque ele é o padroeiro da cidade, e de todos que estão aqui na cidade, comem, bebem dessas terras, educam seus filhos, cuidam da natureza... é uma coisa do povo em geral”, finaliza.

A artesã Dominique segurando a imagem correta do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, ao lado do Padre Felisberto (Foto: Olhar Conceito)

Serviço

Cerimônia de Divulgação da imagem do Senhor Bom Jesus de Cuiabá
Data: Sábado, 26 de outubro
Horário: 19h
Local: Dependências do Colégio CEMA
Jantar com comidas típicas por R$15;

A imagem será vendida por R$120. Quem não puder comparecer, pode comprá-la depois na loja de Dominique (Bendita Arte - (65) 99215-7106) ou em qualquer paróquia da cidade.
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