Imprimir

Notícias / Literatura

​Literatura de cordel: a história milenar de um patrimônio brasileiro

Da Assessoria

Advinda de terras portuguesas, a literatura de cordel, a renomada poesia popular, chegou ao Brasil no século 18. Aos poucos, a modalidade se popularizou no país, sobretudo na região Nordeste, verdadeira receptora dos primeiros folhetos.

Compondo parte da bagagem cultural que serviria ao denominado “processo civilizatório”, os colonizadores trouxeram alguns exemplares de cordel já nas primeiras embarcações. Aos poucos, a expressão de arte ganhou contornos populares, recebendo aspectos característicos da formação social brasileira.

Inicialmente, os autores brasileiros que se dedicavam ao desenvolvimento dessa literatura eram, a maioria deles, cantadores, responsáveis pelo aperfeiçoamento da desenvoltura característica do gênero — com improvisos de versos rimados, notas cantadas e utilização de instrumentos musicais.  

Há quem diga também que o cordel foi introduzido às bandas tupiniquins pelo poeta Silvino Pirauá de Lima, seguido pela lendária dupla Leandro Gomes de Barros e Francisco das Chagas Batista.

Tradicionalmente brasileira, a arte foi uma das grandes responsáveis por transmitir oralmente a cultura de variadas localidades de geração para geração. Narrativas do cangaço e seu mestre Lampião, contos de paixão e amor eterno, histórias de João Grilo, lendas e mitos do folclore... O cordel é plenamente capaz de manter vivas as tradições históricas de todo um povo.

Terra à vista: a chegada do cordel no Brasil

Pode-se dizer que o progenitor do cordel foi o movimento literário e poético do Trovadorismo medieval, instaurado no século 11. 

Os trovadores, mediante as mais variadas condições sociais, utilizavam versos metrificados para cantar e divulgar histórias dentro dos grupos sociais.

Grande parte das pessoas era analfabeta e só tinha acesso aos relatos por meio das trovas.   

O advento da prensa mecânica, invenção do alemão Gutenberg, durante o período da Renascença — que marcou o fim da Idade Média —, possibilitou a rápida impressão de palavras no papel. Com isso, tornou-se possível realizar grandes tiragens de diversos exemplares. A leitura, até então, reservada a um seleto contingente, passou a ganhar, vagarosamente, as ruas.  

O cordel foi um desdobramento direto da tecnologia alemã. Autores passaram a estender cordas — cordéis para os portugueses — nas ruas, pendurando sobre elas uma série de histórias e contos regionais.

Os colonizadores trouxeram, assim, o costume para as terras brasileiras, onde, posteriormente, ficou conhecido como literatura de cordel. 

A arte é notável principalmente no Nordeste devido à entrada dos portugueses na região.

Popularização do gênero

Apesar da colonização portuguesa sobre a Ilha de Vera Cruz ter ocorrido a partir do ano de 1500, a popularização do cordel ocorreu apenas 200 anos depois, no século 18, após a instauração de organizações e estruturas sociais baseadas no sistema europeu.

Por aqui, convencionou-se chamar a literatura de cordel também de poesia popular, uma vez que o gênero passou a abordar diversas temáticas regionais e nacionais. O estilo é transmitido de uma maneira descomplicada, com musicalidade e linguagem simples, fatores essenciais para a fácil compreensão.   

A disseminação, entretanto, ficou à sombra dos aclamados repentistas (violeiros), que, de modo semelhante aos trovadores medievais, repassavam as histórias por meio de versos cantados, caracterizados pelas rimas, musicalidade e ritmo envolvente.

Saindo por entre ruas e povoados, os repentistas espalharam o gênero por diversas regiões.  

Características elementares

É inevitável dizer que o cordel é marcado por aspectos místicos, atraentes e, até mesmo, extravagantes. 

As xilogravuras, desenhos carregados de expressões locais, geralmente nordestinas, por exemplo, são as artes responsáveis por ilustrar as páginas que sustentam as poesias.

O desenvolvimento do texto é outro fator notável. 

Ao usar técnicas de metragem — redondilha maior ou menor —, os escritores, com o uso das sílabas poéticas, rimam alternadamente os versos, formando, geralmente, seis linhas por estrofe.

A adaptação das músicas, que acontece pela composição estrutural, fica, assim, acessível ao público.

A reprodução impressa ainda segue os princípios do modelo tradicional de Gutenberg: esculpe-se uma base que serve como uma espécie de carimbo; em seguida, adicionam-se os pigmentos e o molde é prensado em uma superfície, já com a folha de cópia. O resultado é um impresso do negativo.     
   
Um verdadeiro patrimônio

No dia 19 de setembro de 2018, a literatura de cordel foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro. O Conselho Consultivo decidiu, com unanimidade, afirmar a importância do gênero para a cultura nacional.

A grande popularização foi a verdadeira responsável pelo ato, uma vez que, consolidado no Nordeste, o cordel rapidamente virou expressão cultural em todo o território tupiniquim. 
Imprimir