Imprimir

Notícias / Música

Sem poder trabalhar, artistas contam com ajuda da família para sobreviver à pandemia

Da Redação - Isabela Mercuri

Museus, teatros, cinemas, casas de shows e bares foram os primeiros a parar de funcionar quando a crise do coronavírus se alastrou pelo Brasil. Desde então, diversos artistas ficaram desorientados, sem nenhuma forma de ganhar dinheiro, pagar as contas e sobreviver. Em meio à crise, alguns pensam em novas alternativas de trabalho, enquanto cobram medidas do governo.

Leia também:
Psicóloga dá dicas para não “surtar” durante a quarentena: "Hora de inventar"
 
Uma das ações foi a criação de um ‘abaixo-assinado’pedin do o afastamento temporário pelo INSS para artistas e produtores culturais. “Destacamos que essas áreas estão sendo muito afetadas pela não realização de eventos, festas e shows tendo em vista todos os cancelamentos ocorridos por causa da pandemia”, diz a petição.
 
Recentemente, o governo federal anunciou um auxílio de R$200 para trabalhadores informais e autônomos nos próximos três meses, o que não cobre a maior parte das despesas dos profissionais.
 
A cantora Mariana da Silva e Souza, de nome artístico Mariana Borealis, por exemplo, tem 30 anos e dois filhos, sendo um com onze meses de idade. Segundo ela, está vivendo apenas com ajuda da família, já que toda a agenda de maio e junho foi cancelada.
 
“Eu não fiz uma poupança, não tive essa maturidade financeira de me planejar para passar por esse momento. A gente ouvia falar do coronavírus mas de uma maneira muito longínqua... Eu acredito que a mídia poderia ter avisado de maneira mais real, avisando o povo pra se preparar que a gente viveria um momento de congelamento”, lamenta.
 
Nesta ‘quarentena’, ela pensa em produzir e se dedicar à composição e a fortalecer suas redes sociais, mas ainda não sabe como vai conseguir pagar as contas. “Eu vivo hoje uma nostalgia e um que de melancolia. Tem uma semana que eu estou em casa, sem perspectiva de trabalho, e essa questão de não poder circular, de ter a liberdade privada, de saber que a gente tem uma responsabilidade não só consigo mas com o outro deixa a gente um tanto quanto pesado”, lamenta.
 
Sobre a possibilidade de auxílio pelo INSS, ela acredita que seria justo, e até uma resposta ao que os artistas dedicam à população. “Nossas inspirações, nossa saúde, nosso amor, a maneira que a gente se entrega pra cultura de um país tem que ser reconhecida como algo real”.
 
A visão não é tão otimista para o guitarrista capixaba Pedro Oleare, que vive há cerca de um ano em Cuiabá. “Isso é estritamente uma questão de sobrevivência dos profissionais da categoria, nada além disso.  Só que sabemos o momento que vivemos neste país: um momento de orgulho da ignorância, de anti-intelectualismo, de terraplanismo, de anti-científico também, desprezo com o pensamento... então levando essas coisas em conta eu não tenho muita esperança de que isso vá caminhar. Acho absolutamente necessário e é o mínimo que se podia fazer, mas não acredito que isso vai caminhar”.
 
Para o músico, o momento atual é a ‘receita da tragédia’, mas que já vinha sendo anunciada. “O governo Bolsonaro é uma tragédia para as populações mais vulneráveis desde o primeiro dia, mas agora a coisa chegou num ponto absurdo, porque o problema tocou até os setores mais abastados da sociedade”, afirma. “Que importância que cultura tem pra vida dessa sociedade? Qual o status dessa relação cultura, arte, ciência e sociedade neste momento? É o pior possível. Então é lógico que não vai sair coisa boa”.
 
Apesar de se considerar em uma posição privilegiada, pois não depende somente de sua carreira artística para sobreviver, o guitarrista também enxerga o momento como uma nova oportunidade de reflexão. “Se a gente não tiver como fazer desse momento um momento de reavaliação e reflexão sobre as escolhas políticas que fizemos e, mais amplamente ainda, sobre escolhas que fizemos como espécie vivendo neste mundo, se a gente não conseguir tornar esse momento num momento de reavaliação sobre isso, não vai servir pra nada”, lamenta.
 
A tatuadora Yara Silveiro, 26, trabalha como tatuadora há um ano e meio, mas ainda não consegue se manter só com sua renda e, por isso, conta com a ajuda dos pais. Neste momento de crise, pensou em se reinventar para seguir com alguma receita. “Minhas tatuagens são criações que eu faço de acordo com a demanda de cada cliente, mas às vezes faço desenhos prontos para serem escolhidos. Pensei em colocar em prática algumas ideias que eu adiava há um tempo, e disponibilizar para agendamento (após essa crise). No caso, pra agendar, eu peço um sinal simbólico que é abatido do valor total da tattoo. Se der certo, é uma maneira de eu passar um tempo e de ter alguma pequena renda nesse período”, explica.
 
Por fim, ela também afirma que acha possível tirar reflexões deste momento. “Meu sentimento alterna entre calma, porque sei que estou tomando os devidos cuidados e não há muito o que se fazer além disso, e medo, por não saber como será nossos próximos dias. Parece que quanto mais informações a gente busca pra sanar essa incerteza que nos traz tanta insegurança, mais a gente fica apavorado. Então por enquanto estou tentando achar esse equilíbrio, me manter positiva e saudável, física e mentalmente... Além disso, falando agora bem pessoalmente, me coloquei nesse momento no lugar das pessoas idosas, que na maioria vivem anos nas condições em que estamos vivendo agora: tédio, solidão e incertezas. Acho que é um ótimo momento pra nos colocarmos no lugar dessas pessoas, em especial nossos familiares, e pensarmos como podemos ajudá-los”, finaliza.
Imprimir