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Notícias / Artes visuais

Artista plástica ensina técnicas milenares de tingimento e estamparia para fomentar comunidade indígena

Da Redação - José Lucas Salvani

Quem visita Rita Ximenes pela primeira vez em sua casa não demora muito para perceber a paixão que ela tem por arte. Sempre energética e entusiasmada, ela mostrou à equipe de reportagem algumas de suas obras. É justamente essa paixão que a levou para comunidades do povo Kurâ-Bakairi, por conta de um projeto aprovado pela Lei Aldir Blanc, e ensinar parte das técnicas que tanto domina e, desta forma, promover novas formas de se arrecadar renda. 

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A visita aos povos Kurâ-Bakairi foi realizada em Paranatinga (a 337 km de Cuiabá), em meados de março. A arte-educadora foi até o município para uma oficina sobre técnicas milenares de estamparia, como também formas de tingimento de tecidos com crajiru, cebola, açafrão, urucum ou hibisco, por exemplo. Além destes elementos, o objeto era encontrar formas de incentivar a explorar o cerrado para extrair cores para tecidos.



“Primeiro eu fui fazer essa pesquisa com eles. Eles tem jenipapo, um monte de coisa. Eu ensinei eles a explorar o que eles têm no cerrado. Primeiro fizemos isso”, explicou Ximenes em entrevista ao Olhar Conceito. Durante a visita, a artista plástica também ensinou a transformar o grafismo dos povos Kurâ-Bakairi em grafismo, para aplicar em tecidos.

Os alunos de Ximenes confeccionaram uma peça em agradecimento pelas oficinas. O composé, assinado por todos eles, inclusive pelo cacique da tribo, foi entregue para uma das unidades do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em Cuiabá. 



Ximenes explica que já há uma demanda para que ela vá a outras comunidades dos povos Kurâ-Bakairi - e ela pretende atender, levando novas técnicas como o batik. Há, ainda, procura por parte de povos indígenas de outras etnias, mas Rita explica que não consegue, por enquanto, atender todos, visto que tem outras ocupações enquanto arte educadora.

“Queria me vacinar [antes de voltar]. Tenho a segunda dose ainda, para depois ir. Tem um monte de comunidades indígenas que querem que eu vá, mas eu prefiro, pensando bem, consolidar todas as comunidades remanescentes dos bakairis. Não ir lá sem um apoio financeiro. Não é fácil ir sem um projeto”, explica sobre as dificuldades. “Eles precisam continuar tendo apoio”. 



O principal motivo para a visita de Rita é fomentar a economia local, oferecendo formas de obter novas fontes de renda. A artista plástica explica que sempre os incentiva, afirmando que os materiais e grafias produzidas por eles são únicos e que precisam ser valorizadas pelos demais.

Carreira

Rita nasceu em Mato Grosso do Sul e mora em Cuiabá desde os dois anos de idade. A veia artística existe desde criança – mas, segundo ela, isso não significa muita coisa. “Eu acho engraçado quando os artistas falam, ‘eu pinto desde criança’. Como eu sou arte-educadora, eu sou um pouco crítica nesse ponto. Todas as crianças são artistas, elas já nascem artistas. Mas vão crescendo e, às vezes, criam bloqueios”, explica.



Ela é formada pela Universidade de Cuiabá no curso de Educação Artística com habilitação em artes plásticas. Ximenes desenvolve a arte têxtil e pesquisa técnicas como o batik, arte originada da Indonésia, técnica em que se trabalha o desenho com cera quente, sobre as mais diversas texturas, desenvolvendo alternativas de aplicação da técnica com a estamparia, na arte contemporânea.

Na faculdade, se aventurou por diversas técnicas, e acabou se apaixonando pela estamparia. Tanto que, no último ano, fez uma exposição de tecidos pintados à mão junto a uma amiga. Depois disso, passou a se dedicar ao estudo do batik, a técnica milenar, que surgiu na Indonésia, em que se utiliza cera quente para vedar o tecido e, com isso, criar diferentes desenhos.
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