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Notícias / Comportamento

No Dia Internacional Contra a LGBTQfobia, militantes falam sobre violência e retrocessos políticos em MT

Da Redação - Pedro Coutinho Bertolini

No dia 17 de maio de 1990 a Organização Mundial da Saúde excluiu a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID). Com isso, escolheu-se o dia 17 para celebrar o Dia Mundial da Luta contra a LGBTQfobia. Triste realidade histórica, constante e presente na vida cotidiana de brasileiras e brasileiros, a violação dos direitos humanos e civis de cidadãs e cidadãos Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e TRansexuais – LGBTQIA+, ainda é responsável por tirar a vida dessas pessoas.   

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Segundo dados do Observatório de Mortes e Violência contra LGBTQIA+ no Brasil, apresentados em um Dossiê, durante o período de janeiro a setembro de 2021, ocorreram 316 mortes de forma violenta no país. Desse total, 285 foram assassinatos, 26 suicídios e 5 outras causas. 

Para a advogada, palestrante, professora de direitos humanos, mulher LGBTQ e três vezes rainha da parada do Orgulho LGBTQIA+ em Cuiabá, Thaís Brazil, a data traz a importância da conscientização, símbolo da luta dessas pessoas que não são passíveis de curas ou tratamentos.  

“Não são pessoas erradas, desvirtuadas nem pessoas com qualquer tipo de patologia. Pelo contrário, são seres humanos que amam, que se identificam, que se apresentam em sociedade e vivem normalmente como qualquer outra pessoa”.  



Em relação aos números alarmantes e entristecedores de violência contra a população, Thaís pontuou que as exclusões são estruturais e culturais em nosso país. Para além da violência física e direta, há alarme também nos impactos cotidianos com atitudes preconceituosas, piadas que não são brincadeiras, a exclusão dos LGBTQIA+ pelos próprios familiares.  

“Os números [...] As violências não são apenas aquelas vistas, como violência direta, física, a morte. Mas principalmente as violências cotidianas. Os preconceitos, as piadas que não tem graça, que não são brincadeiras. As exclusões em maneira geral. O fato de a população não estar presentes nas escolas, universidades, nos cargos diretivos, nas assembleias legislativas, nas câmaras de vereadores. Tudo isso é um cenário da grande violência que ela não só é direta, mas estrutural e cultural em nosso país”. 

“O Brasil é o país que mais mata, por exemplo, pessoas transexuais e travestis, mas em contrapartida também é o país que mais consome pornografia de transexuais e travestis. Então a gente sempre se questiona ‘que relação é essa que em quatro paredes há um corpo de desejo, mas em público e no cotidiano, esse corpo é enxergado como passível de violência’. Dentre as diversas outras violências que podemos pontuar: estupro corretivo em mulheres lésbicas e bissexuais. A expulsão de casa que é a primeira violência que muitas de nós lgbtqia+ sofremos - a exclusão da própria família. São violências cotidianas”, acrescentou.  

Em 2021, os deputados estaduais da Assembleia Legislativa (ALMT) rejeitaram a criação de um Conselho LGBTQIA+ e arquivaram o projeto que foi enviado pelo Governo do Estado à casa de leis. Os conselhos de políticas públicas e direitos foram instituídos para assegurar a realização de direitos às parcelas da população de pessoas que são vulneráveis e sujeitas à invisibilidade para o estado. 

Para Thaís, a rejeição da criação do conselho representou uma derrota para toda a sociedade, uma derrota da ALMT, de toda a população e da história, que não se posicionou ao lado da população que é diariamente violentada e excluída.  

“A derrota é perceber que estamos morrendo e àqueles que deveriam nos proteger e representar, entenderem que nossas pautas não são merecedoras da criação de um conselho, usando uma desculpa inválida, descabível e sem proporção de que o conselho de direitos humanos já abarca nossas demandas”, pontuou.  

“A votação foi um exemplo: não só a derrota da ALMT, como também a primeira votação daquela vergonhosa proposta de Dia do Orgulho Hétero, que fez com que Cuiabá virasse chacota e piada em todo o país. Ainda que a proposta seja de um único vereador, a grande maioria, quase 100% da Câmara aprovou em primeira votação. O que também é uma vergonha. Portanto, Cuiabá e MT não são exemplos. E é por essas e outras que Cuiabá e MT sempre estão entres as capitais e estados que mais matam e violentam LGBTs no país”, finalizou.  

Para Clovis Arantes, membro fundador do Grupo Livre-mente e do Conselho Municipal de Atenção a Diversidade Sexual de Cuiabá, o dia 17 de maio representa um dia de resistência contra processos de patologização do corpo, dos desejos e afetos da população LGBTQIA+. 



“Então, desde essa vitória, é crime o profissional da saúde, um psicólogo, tratar da pessoa LGBTQIA+ como se fosse pessoas com uma patologia, transtorno e tudo mais. É uma vitória para essa população. Sabemos que é apenas uma vitória, porque ainda temos muito a conquistar, muito a lutar. Mas é importante que a gente tenha esse dia lembrado como um dia de resistência contra o processo de “patologização” que as pessoas tentaram fazer sobre os nossos corpos, sobre os nossos desejos e afetos”.
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