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Engenheiro civil de Cuiabá prioriza olhar sensível e busca formas de devolver a cidade aos cidadãos

Da Redação - Bruna Barbosa

Enxergar a cidade como um espaço que deve ser democrático sempre foi uma das prioridades de trabalho do engenheiro civil Márcio do Nascimento Ferreira, de 48 anos. Neto de uma nordestina que chegou em Mato Grosso viajando em pau-de-arara e trabalhou na roça para sobreviver, Márcio busca ter sensibilidade com o contexto social quando está desenvolvendo os projetos de edifícios que serão construídos em Cuiabá.

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Para além de um prédio de luxo, o engenheiro pensa nas possibilidades de devolver o espaço público aos cidadãos. Márcio é uma das personalidades de Cuiabá que serão homenageadas no Prêmio Jejé de Oyá, neste sábado (29), às 19h, no Teatro Zulmira Canavarros, na capital.

Além dele, o ator e secretário de Cultura de Cuiabá, Justino Astrevo, e a coralista Naíse do Vale Santana também receberam as estatuetas na cerimônia de premiação. 

O engenheiro conta que ter começado a profissão atuando diretamente nos canteiros de obra, “do último passar de pano a entrega da chave para os clientes”, como define Márcio, ajudou na habilidade de entender as necessidades de cada uma das pontas. Diretor regional da Plaenge, ele explica que sempre que vão começar a construir um novo empreendimento, pensam em como fugir de “ilhas de luxo”. 

“Quando vemos um lugar que queremos construir algo, pensamos no que podemos fazer para ficar bom para todos. Esse cuidado com o espaço público nós temos que ter. Não quero ser uma ilha de luxo, prazer e prosperidade. Esse olhar me trouxe o seguinte pensamento: não adianta pensar em fazer uma coisa boa só para quem vai morar. Não adianta criar uma ilha de luxo e facilidades, se a pessoa mora no contexto da cidade”. 

Um dos exemplos do movimento de devolver a cidade aos cidadãos aconteceu no bairro Bom Clima, em Cuiabá, onde a Vanguard construiu um edifício residencial. Em uma das fases da obra, a equipe descobriu que existia uma praça no projeto do loteamento da região. No entanto, na prática, o local era usado para despejar lixo. 

“Começamos a comunicar as pessoas dali, colocamos uma placa: sabia que aqui é uma praça? peça para o Poder Público vir limpar. Em uma semana, o lugar estava limpo. Elas não sabiam que ali existia uma praça. Vimos que deu certo e convidamos os moradores do entorno e faculdades de arquitetura e engenharia, para fazermos o projeto da praça que existia, mas não existia”. 

Movimento “hack the city Bom Clima”

A execução do projeto da nova praça foi transformada em uma maratona criativa com participação de 80 universitários de engenharia civil e arquitetura de Cuiabá, além dos moradores. O “Hack The City Bom Clima” aconteceu em 2020, e o melhor projeto foi doado para a Prefeitura de Cuiabá, para mostrar o que era possível executar no local. 

“Foram 24 horas, pessoal dormindo, jogando sinuca, comendo e projetando. Tivemos sete projetos diferentes e elegemos o melhor. Ele foi doado para a Prefeitura de Cuiabá, mostramos o que era possível fazer naquele local”. 

Márcio mostra orgulhoso as imagens da Praça Vanguard, que aparece completamente transformada em um vídeo. Com sorriso no rosto, ele explica que se sente privilegiado de poder participar de movimentos como esse na cidade. Atualmente, a praça respira vida e tem aulas de treinamento funcional, calistenia, beach tênis e tênis para os moradores, que são custeadas pela Vanguard. 

“Hoje se você vai lá, a praça tem vida própria. Toda quinta-feira tem feira e aos sábados estacionam carros de food truck. Custeamos aula de exercício funcional todo dia, às 17h30, para as pessoas da comunidade. Não é só para quem mora no nosso prédio. Toda terça e quinta-feira pagamos aulas de tênis para crianças. Agora começaram as aulas de beach tênis e vôlei de areia”, conta. 

O diretor regional explica que as equipes estão atuando da mesma forma na região da avenida Arquimedes Pereira Lima (Estrada do Moinho), em Cuiabá, onde outro edifício está sendo erguido. 

“Ajudamos na construção da praça em frente ao Big Lar, vamos fazer outra… Isso é para ocupar o espaço público com coisas boas. Não só para quem mora no nosso prédio, que precisa atuar de forma positiva para as pessoas do entorno”. 

Márcio diz que quando recebeu a notícia de que seria um dos homenageados, ficou surpreso e começou a se questionar se merecia uma das estatuetas mesmo. Depois de relembrar um pouco da trajetória profissional, o engenheiro civil brinca que resolveu apenas ficar feliz pela indicação. 

“Recebi a notícia da homenagem com muita surpresa, nunca imaginei isso. Engenheiro tem uma cabeça muito prática e pragmática. Quando me contaram que tinha sido indicado, me pegou de surpresa. Fiquei preocupado se tinha feito algo para merecer. Mas depois veio a alegria de saber que estão me vendo aqui”. 
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