Imprimir

Notícias / Perfil

Especializado em cuidados paliativos e luto, psicólogo faz atendimento domiciliar

Da Redação - Bruna Barbosa

Diversos processos de luto podem ser experienciados durante a vida de uma pessoa, seja pela morte de um ente querido, fim de um relacionamento ou amizade e demissão, explica o psicólogo Raul Tibaldi. No entanto, questões relacionadas à morte estão na lista de tabus na sociedade atual, barrando possibilidades de diálogo e de espaço para cuidar das dores causadas pelo luto.

Leia também 
Do Pedra 90 para o mundo: cuiabano arrisca vida fora do Brasil e vira comissário de bordo internacional


O Dia Nacional do Luto é celebrado nesta segunda-feira (19). Raul destaca que o luto envolve qualquer tipo de perda e quando o sentimento é validado, o sofrimento, que alcança várias esferas da existência humana, pode ser acolhido através da escuta especializada. 

Quando começou a cursar psicologia, o psicólogo se interessou pelos estudos sobre cuidados paliativos, formação que concluiu após a faculdade. Atualmente, ele é especializado em luto e realiza atendimento domiciliar para idosos, além de atender pacientes que receberam diagnósticos irreversíveis. 

“Muitas faculdades de medicina estão sendo incentivadas, não sei se já são obrigadas, a incluir pelo menos uma disciplina de cuidados paliativos na formação médica. Os médicos são formados, com razão, para salvar vidas, mas e quando chega o momento em que isso não é mais viável cientificamente?”.

Raul explica que um tema levou a outro quando percebeu que muitos geriatras e oncologistas possuem formação em cuidados paliativos. Foi quando ele decidiu estudar mais sobre a psicogerontologia, que lida com os aspectos psicológicos do envelhecimento humano. 

“Não é uma regra, mas são muitas as pessoas idosas que lidam com processos de adoecimento crônico e eventualmente grave. O envelhecimento traz, em alguma medida mínima, perdas e consequentes processos de luto. Como por exemplo a questão da aposentadoria, principalmente em uma sociedade em que o trabalho é um dos pilares da nossa identidade”. 

De acordo com Raul, apesar do adoecimento, das perdas e da solidão de quem mora sozinho, quando os filhos ou outros entes queridos saem de casa, é válido que possibilidades de envelhecer com dignidade e qualidade continuem sendo pensadas. 

O sentido da vida 

Antes de cursar psicologia, Raul se formou em contabilidade, mas a atuação na área deixou de fazer com que ele se sentisse satisfeito, provocando uma crise de sentido. Em buscas na internet, o psicólogo lembra de ter digitado a famosa pergunta: qual o sentido da vida? Foi quando ele encontrou teorias e textos que o encaminharam para uma nova graduação. 

“Como desde sempre estive em contato com essa coisa do sentido da vida, em algum momento me deparei com a temática dos estudos paliativos, de lidar com processos de adoecimento que são irreversíveis. Para simplificar, encontrei uma teoria que diz que o ser humano tem possibilidade de encontrar sentido na vida em quaisquer circunstâncias”. 

O tabu sobre o luto também se estende entre os profissionais de saúde, Raul conta que durante a faculdade de psicologia não aprendeu sobre cuidados paliativos em sala de aula, apesar de alguns aspectos terem sido trabalhados de “forma superficial”. 

Por outro lado, o profissional de saúde também pode sofrer de um tipo de luto que o psicólogo chama de “não reconhecido”. Ele cita como exemplo uma técnica de enfermagem que atendeu um paciente durante três meses, lidando diariamente com as dores dele e dos familiares. 

“Na especialização em cuidados paliativos, fiz uma pesquisa para investigar se existe alguma relação entre essa formação acadêmica e o medo da morte, com estudantes e psicólogos já formados. Boa parte dos profissionais não se sente totalmente preparado para lidar com essas questões, o que acaba influenciando no modo como você se aproxima ou não delas”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Logos Psicologia | Raul Tibaldi (@logospsicba)


Cuidados paliativos 

Apesar de ser uma das certezas da vida, Raul explica que um diagnóstico irreversível torna a morte inadiável e evidente, por isso, muitos relatam que acabam trocando as prioridades que antes pareciam tão urgentes. 

“Quando começamos a estudar sobre esse tema, costumamos ouvir que falar de morte é falar de vida. Vai envolver tristeza, envolve um nível de sofrimento… Não é como se estivéssemos querendo dizer que é confortável falar sobre morte. Mas ajuda, por exemplo, a estabelecer prioridades de vida”. 

Assim como o tabu que impede diálogos mais profundos sobre a morte, a especialidade de cuidados paliativos também pode ser deixada de lado, já que remete a uma “desistência”, de acordo com Raul. 

“Às vezes, o paciente ou a família pode sentir que estão abandonando o caso, que é só esperar e não vão fazer mais nada. Mas não há mais nada a se fazer em que sentido? No sentido de reverter o curso da doença”. 

Ele explica que na formação em cuidados paliativos, a forma como a notícia de um diagnóstico irreversível será comunicada ao paciente é um dos pilares na relação entre profissional de saúde e paciente, segundo a especialidade. 

Ao aderir aos cuidados paliativos, não significa que o paciente vai ter que desistir de fazer radioterapia ou quimioterapia, nos casos de câncer, por exemplo. O ideal é que as duas coisas comecem ao mesmo tempo. 

“Com a restrição da disponibilidade de alternativas que a medicina oferece é como se fosse um gráfico: a terapia modificadora da doença vai diminuindo ao passo que a oferta de cuidados paliativos vai aumentando. Até que chega o momento em que não há mais nada a se fazer no sentido de reverter a doença. 

Atualmente, Raul se dedica a atender pacientes e familiares que enfrentam um processo de adoecimento grave ou crônico. Por não estar inserido em um hospital, ele trabalha de forma domiciliar. 

“Quando você enfrenta uma doença, você não lida com ela só no aspecto físico, você tem o sofrimento psicológico por pensar nessas questões, por exemplo: a vida não faz mais sentido. Tem o sofrimento social, familiar… Algumas pessoas se sentem abandonadas por Deus. Isso tudo faz parte do cuidar do sofrimento”.
Imprimir