Desde que decidiu cursar odontologia, Laura Gabrielli Ormond, de 28 anos, já sabia que queria se especializar em odontopediatria para atender crianças. Conduzir a consulta com paciência, respeitando o tempo dos pequenos e com muito diálogo são algumas das premissas que se tornaram obrigatórias no Castelo das Fadas, onde faz os atendimentos, no bairro Jardim Cuiabá, em Cuiabá.
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“Sempre quis trabalhar com crianças, só não sabia se seria médica, dentista ou iria para a área da pedagogia, mas decidi fazer odontologia. Depois que entrei para a faculdade já sabia que queria fazer odontopediatria para atender crianças. Lembro que, durante a faculdade, ninguém queria atender crianças, todo mundo falava: Laura, atende para mim”.
Se fantasiar como fada para atender as crianças foi algo que começou por acaso. Ainda recém formada, Laura buscava referências para o seu cartão de visitas, que ganhou a imagem de uma fada. Ao Olhar Conceito, ela conta que resolveu pedir as asas usadas por uma prima em um espetáculo de balé para receber os pequenos pacientes em seu primeiro consultório.
Não demorou para que Laura percebesse que ao transformar a consulta em um momento mágico, as crianças demonstravam menos medo de ir ao dentista. “Elas entravam com mais facilidade no consultório, me abraçavam. Elas veem a gente com a asa e ficam encantadas, os olhos delas brilham. É diferente, porque quando estou sem asa, sou uma pessoa, mas de asa, eu sou uma fada. Aqui temos mais duas fadas: a Fada Encantada e a Fada dos Aparelhos”.
Ela abriu o Castelo das Fadas há três anos e, desde a fachada, o ambiente é lúdico e pensado para transformar o momento em algo divertido. “Tem crianças que as mães falam que passam aqui na frente em um final de semana, por exemplo, e a criança fala: Olha, mamãe, o castelo da fada. Então, já olham com outro olhar, porque quando eles entram aqui, eles acham que vão brincar. Tem crianças que choram para não ir embora, acredita?”.
Crianças traumatizadas com dentista
Para conseguir fazer os atendimentos de bebês e crianças, Laura estabeleceu algumas etapas antes de começar, de fato, a consulta odontológica. Mesmo com a fachada que lembra um castelo, a fantasia de fada e todos os outros artifícios lúdicos que ela tem no consultório, a dentista conta que os pacientes ainda podem se assustar ao ver a cadeira odontológica, por exemplo.
“Percebo que é tudo uma etapa, eles entram aqui tranquilos, mas quando entram na minha sala, mesmo eu estando de jaleco colorido, mesmo de asa, mesmo com tudo colorido e impecável, na hora que eles olham a cadeira odontológico, eles podem se assustar, porque às vezes eles vem de outro profissional que traumatizou”.
Antes de começar o tratamento, Laura deixa os pacientes brincando dentro do consultório, explica. Depois, ela convida os pequenos pacientes para fazerem uma mágica, o “alakazam”, em que ela entrega uma varinha e brinca ao ligar a luz que fica em cima da cadeira odontológica.
“O alakazam é uma tática para eles sentarem na cadeira. Assim eles começam a ver a cadeira odontológica como uma brincadeira também, eles sentam comigo na cadeira para fazer mágica, não é para abrir a boca. Abordo eles assim. Com o tempo vou conduzindo o atendimento”.
Quando começou a implantar uma nova forma de atender bebês e crianças no mercado, Laura também foi surpreendida com pais e pacientes traumatizados com atendimentos anteriores. Ela conta que algumas mães chegam a chorar durante a consulta ao contarem que não souberam como reagir ao terem que segurar os filhos para o tratamento.
“Aqui a gente segura também, só que a gente prepara os pais e a criança, seguramos de forma respeitosa, porque tem bebês de um ano, não tem como abrir a boca sem segurar. Só que a gente segura conversando, cantando, tentando tornar o momento alegre, sem deixar ela sentir dor, anestesiamos tudo. E eles aprendem que está tudo bem, que não é nada horrível, eles se acostumam”.
Laura lembra de casos de crianças que chegaram completamente traumatizadas por dentistas no consultório e que hoje, depois de muita paciência e diálogo, já conseguem passar por todo o tratamento com tranquilidade.
“Os pais amam e eu vejo que eles sentem muita gratidão, porque é filho. Agora que tenho meu filho, sei como é. Imagina você ir em um profissional que simplesmente pega seu filho, deita ele em uma cadeira e manda você segurar? Eu, particularmente, acho um absurdo”.
A dentista explica que o atendimento infantil exige paciência do profissional, já que é normal as crianças sentirem medo. “Eu sei que é complicado, explico que vamos precisar segurar, mas trabalhamos para remover o trauma, porque vamos segurar diferente. ‘Vou te segurar, mas é para a tia Fada tirar o bichinho do dentinho’. Ela vai entendendo, vê que não dói, claro que na segunda e terceira vez, pode ser que ela ainda chore, mas melhora”.