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'true detective' e o problema de colocar as expectativas lá no alto

G1

 A segunda temporada de “True Detective”, que acabou domingo, foi boa, até, mas teve dois grandes problemas que acabaram meio que estragando tudo. Um, do qual eu falo direito mais pra baixo, é ter uma trama meio complexa envolvendo personagens que nunca apareceram na série, só foram citados, o que nos deixou meio perdidos. O segundo, o mais grave, é se chamar “True Detective”.

Porque assim: “True Detective” foi a melhor série do ano passado e uma das melhores coisas da TV em séculos. Teve Matthew McConnaughey num papel matador, merecendo oscar, emmy e afins, tinha uma história incrível, fez Nic Pizzolato ser conhecido e apreciado como uma nova mente brilhante da televisão.

Então óbvio que quando estreia a segunda temporada dessa série belíssima ninguém espera menos que a perfeição. Expectativas lá no alto. Mas aí vem “True Detective” 2, com outro elenco, outra história, outra abertura, outro tudo. Por melhor que fosse a série (e, repito, foi bem boa sim), convenhamos que seria dificílimo chegar no mesmo nível da primeira temporada, chegar perto do que foi a primeira temporada até. E aí dá-lhe decepção, chuva de críticas etc. Se resolvessem dar outro nome, “Os desajustados”, “The policemen”, “Crime e investigação”, “Mistério”, qualquer coisa, e aí na chamada incluir um “dos mesmos produtores de ‘True Detective’” eu acho que a série seria mais bem apreciada. Eu acho.

Enfim. Eu gostei bastante da temporada. Demorou pra engatar, demorou pra a gente entender sobre o que era a história, tinha toda uma trama envolvendo umas pessoas que a gente não sabia quem era e, no fim, foi sim bem inferior à primeira. Mas foi boa, teve ótimos episódios (o do tiroteio, embora depois não tenha servido pra muita coisa, o da festa), os personagens eram bons, o elenco era ótimo.

Mas a sensação que ficou, pra mim, foi de que faltou episódio para contar toda a história. Ficaram umas pontas meio soltas – no fim das contas não era sobre o crime, era sobre esses policiais desajustados e problemáticos e traumatizados e sobre o dono de boate que só queria ter um filho e recuperar seu dinheiro. Teve, como falei, belas cenas, belos episódios, era muito bem feitinha, mas faltou amarrar tudo de um jeito que fizesse sentido.

As mortes todas do final foram bacanas e bonitas, mas ficaram meio soltas na história (especialmente a do lindíssimo Woodrugh). Os grandes vilões culpados por tudo de ruim hoje e 20 anos atrás apareceram de leve e só no final. A morte bizarra do primeiro episódio, que deu origem a tudo, no fim não tinha nada a ver com perversões sexuais nem festinhas privê barra pesada envolvendo políticos, mas com a vingança de dois órfãos que até o penúltimo episódio não significavam nada. Pensando agora, a temporada me pareceu um amontoado de boas ideias e boas cenas – aquele prefeito maluco casado com a modelo drogadona, o filho dele, o que era aquilo? – , mas isso não basta.

É engraçado, porque, repito, eu gostei do que eu vi, eu gostei dos oito episódios, me envolvi. Mas, de fato, essa temporada não tem nada a ver com a primeira impressão que tivemos de “True Detective”. Pena.
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