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Notícias / Copa 2014

Sócio brasileiro da Match não existia há um mês

ESPN

 Dois nomes e um mistério. Entender a sofisticada máquina que vende pacotes de hospitalidade para a Copa do Mundo, investigada pela "Operação Jules Rimet", realizada pela Polícia Civil (delegado Fábio Barucke, 18º DP) e Ministério Público Estadual-RJ (Promotor Márcio Kac), passa necessariamente por dois CNPJs e uma intrigante data.

As duas empresas em questão compõe o braço brasileiro da Match, (dos irmãos Jaime e Enrique Byrom e com participação de Phillipe Blater, sobrinho do presidente da Fifa), detentora exclusiva junto a Fifa dos direitos internacionais dos pacotes até 2023. No Brasil, a Match repassou tais direitos para a Top Service, do Grupo Águia, e a Traffic SportsWorld, o braço do Grupo Traffic. E é exatamente a data de abertura da subsidiária da Traffic que chama atenção: 5 de maio de 2014, a apenas um mês do pontapé inicial da Copa do Mundo.

A proximidade entre as datas da abertura do Mundial e a constituição da empresa, formada por uma joint venture da SportsWorld e Traffic, não impediram a Traffic Sports World de alardear no próprio site uma de suas funções: "facilitar as operações no Brasil para a Copa do Mundo de 2014".

Se a a Top Service, do Grupo Águia tem em seu comando Wagner José Abrahão, íntimo do poder e negócios com a CBF há 30 anos, seja com Ricardo Teixeira ou com os atuais mandatários, a Traffic Sports World, tem composição societária mais eclética. E também íntima dos corredores da CBF.

Como acionistas, a Traffic SportsWorld tem Stefano de Menezes Hawilla, filho de J. Hawilla, que há décadas comanda negócios na área de comunicação e marketing esportivo, sempre muito próximo a Ricardo Teixeira. O próprio J. Hawilla tem participação, através de uma das acionistas da Traffic Sports World, outra do grupo, a Traffic Assessoria e Comunicações. A SportWorld Group Limited, com sede na Inglaterra, é sócia também, representada no Brasil através de Fabiano Gallo. E tem ainda a participação de Jobelino Vitoriano Locateli, assinando pela empresa junto com Stefano Hawilla.

Jobelino consta como representante no Brasil do quadro societário de uma infinidade de empresas. No entanto, nem sempre está habilitado a responder pelas mesmas, embora assine por elas. Em 8 de outubro de 2013, foi convocado para responder em nome do Facebook no Brasil na CPI do tráfico humano, na qualidade de"diretor e administrador" da empresa mas acabou dispensado por "não estar habilitado" a falar pela empresa.

Assina também a constituição societária da Rádio Holding SA, com Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo objeto social é "holdings de instituições não financeiras".

Tanto a empresa de Wagner Abrahão como a dos Hawilla já foram alvos de investigação na CPI da CBF, no ano de 2000. Na ocasião, foi questionado o volume de dinheiro pago pela CBF para a Stella Barros Turismo, cerca de R$ 30 milhões entre 1998 e 2000. A Stella Barros era de Abrahão e foi incorporada pela Top Service em 2004. Os lucros da Traffic com venda de direitos de transmissão e marketing dos jogos da seleção brasileira também foram questionados na CPI. E um dos momentos mais tensos da Comissão ocorreu em audiência de J. Hawilla, quando foi questionado sobre venda de ingressos para Copa do Mundo através da Traffic. Na ocasião, ainda sem a Traffic Sports World, a empresa de Hawilla já mexia com venda de ingressos e foi acusada de intermediar com a CBF uma vende de dois mil ingressos para uma terceira agência. De acordo com o dono da agência que denunciou a intermediação na CPI, a comissão pela intermediação só por esta transação seria de 10 pacotes aéreos e de hospedagem na Copa da França, em 1998, para os convidados da Traffic. Naquela Copa, Abrahão chegou a ser preso em Paris, acusado de lesar torcedores na venda de pacotes para a Copa.

Apesar de beneficiária de isenções e renúncias fiscais no Brasil, a relação da Match com o estado brasileiro não foi exatamente o que se pode chamar de via de mão dupla. Na hora de vender seus pacotes de hospitalidade para órgãos estatais, não aliviou um centavo do que poupara na economia dos impostos que o estado brasileiro generosamente abriu mão.

Entre outras estatais, o Banco do Brasil comprou, sem licitação, em 25 de maio de 2012, "pacotes de hospitalidade para a Copa do Mundo junto à empresa Match Hospitality Serviços". No valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais).

O Banco de Brasília, também sem licitação, já que a Match tem o monopólio, tampouco poupou esforços e dinheiro. Em 8 de maio de 2013, pagou R$ 74.709,75 por pacotes na Copa das Confederações e, tendo Ivy Isabel Byrom como signatária da Match, fechou pacotes para a Copa por R$ 1.241,655,00.

A reportagem tentou contato com a Traffic Sports World e enviou questões sobre a data de abertura da empresa sem obter resposta.