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Árbitro do primeiro "tecnogol" sugere recurso no país: "Impossível a olho nu"

Globo Esporte

 Macaé, quarta-feira, Flamengo x Atlético-PR no estádio Moacyrzão. Aos 10 minutos do segundo tempo, Alecsandro acerta um chute no travessão, vê a bola quicar - aparentemente sobre a linha - e sai para comemorar de braços abertos até perceber que o árbitro mandou o jogo seguir. Logo na primeira rodada do Campeonato Brasileiro após o término da Copa do Mundo, um lance parecido com o que fez o Mundial entrar para a história como o primeiro a usar a tecnologia para validar um gol. Só que desta vez o recurso não esteve presente para tirar qualquer dúvida sobre a jogada, como aconteceu no duelo França x Honduras, pela fase de grupos, no Beira-Rio.

Na ocasião, o chute do francês Benzema acertou a trave, a bola bateu no goleiro hondurenho e tomou a direção do gol até ser parada em posição a princípio duvidosa. Mas a "Goal Line Technology" (Tecnologia da Linha do Gol, na tradução) acusou o gol, confirmado pelo árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci menos de um segundo depois (veja no vídeo abaixo). A Fifa anunciou que irá custear a manutenção da tecnologia nas 12 arenas da Copa por um ano, como legado para o Brasil, mas a CBF ainda não sabe se vai utilizar o recurso. Enquanto isso, quem experimentou recomenda o serviço para os campeonatos do país, mesmo sem estar disponível na maior parte dos estádios.

- Essa é uma decisão administrativa da CBF. Como árbitro, posso garantir que o recurso é essencial. Não é uma garantia apenas para o árbitro, mas para as equipes e para o futebol na medida em que permite confirmar decisões para legitimar o resultado de uma partida. Acredito também que as finais de competições nacionais, pela importância que têm essas partidas, poderiam ser disputadas apenas em estádios que contenham este recurso. No lance em questão, técnicos da Fifa me informaram depois que a bola tinha ido adiante da marcação menos de 0,5 centímetro. É evidente que, sem a ajuda da tecnologia, seria impossível, a olho nu, ter certeza de que a bola havia ultrapassado totalmente a linha de meta. Esse episódio veio para confirmar minha opinião favorável à adoção de recursos tecnológicos que garantam absoluta precisão na tomada de decisão - argumentou Ricci, que aos 39 anos apitou sua primeira Copa ao lado dos assistentes Marcelo Van Gasse e Émerson de Carvalho.

A tecnologia da linha do gol está presente no Maracanã, Mineirão, Mané Garrincha, Fonte Nova, Castelão, Beira-Rio, Arena Corinthians, Arena Pantanal, Arena das Dunas, Arena da Baixada, Arena Pernambuco e Arena da Amazônia. Ela funciona com 14 câmeras de alta resolução, sete em cada gol, que juntas fazem um monitoramento em três dimensões da área das traves. Sempre que a bola cruza a linha, as câmeras identificam, e um aviso é transmitido aos relógios usados pelos árbitros do jogo quase instantaneamente. O custo de operação por jogo é de US$ 3,9 mil (R$ 9,3 mil) - e de US$ 260 mil (R$ 622,7 mil) para instalação em outro estádio.

Para melhorar a arbitragem no país, Ricci defende investimentos nos treinamentos continuados, usos de uniformes com cores únicas e distintas das equipes para facilitar na marcação de impedimentos (como aconteceu nos jogos da Copa), a boa condição dos gramados e da iluminação dos estádio, além de deixar as portas abertas para novos recursos tecnológicos além da tecnologia da linha do gol. O juiz brasileiro considera válido qualquer aparato que venha a ser criado para auxiliar a arbitragem em lances que não sejam interpretativos.

- Sou a favor de todo recurso tecnológico que garanta ao árbitro e aos assistentes absoluta precisão na sua tomada de decisão para lances objetivos, ou seja, quando não cabe a interpretação da regra. Por exemplo: a tecnologia GLT também poderia ser utilizada para avisar ao árbitro quando a bola ultrapassou a linha lateral e a linha de meta, não apenas quando entrou no gol - opinou o juiz, que durante os mais de 40 dias em que esteve concentrado com os demais árbitros da Copa não pôde conceder entrevistas.

Embora favorável à tecnologia, Ricci se mostrou contrário às exibições pela televisão de lances em câmera lenta e com imagens ampliadas, além de tira-teimas de impedimentos considerados difíceis. Para ele, os milhares de quadros por segundo captados pelas câmeras podem mostrar o jogador em posição legal ou ilegal no momento do passe e "não tem utilidade para informar o público com precisão".

Trio de arbitragem prestigiado

O trio de arbitragem liderado por Sandro Meira Ricci termina a primeira Copa do Mundo prestigiado. Depois de apitar dois jogos do Mundial de clubes do ano passado - entre eles a final Bayern de Munique x Raja Casablanca - e três jogos no Mundial de seleções - França x Honduras; Alemanha x Gana e Alemanha x Argélia -, o juiz foi mantido concentrado para os jogos finais. Apesar de não ter sido mais acionado, houve um boato de que ele poderia comandar a decisão caso fosse entre Alemanha e Holanda. O árbitro não confirmou, mas aprovou o desempenho dos brasileiros do apito.

- Apenas a Comissão de Árbitros da Fifa pode responder essa pergunta (se apitaria a final se ela fosse disputada entre alemães e holandeses). Entendo que todos os 15 trios de arbitragem que permaneceram no Rio de Janeiro para a fase final tinham condições de atuar nas partidas semifinais e finais. Estamos, os assistentes e eu, felizes por termos realizado um trabalho correto e conquistado nossas oportunidades jogo a jogo. Além disso, a exemplo dos outros árbitros brasileiros que participaram de uma Copa do Mundo, mantivemos as portas abertas para a arbitragem brasileira no cenário futebolístico mundial.