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Dirigente rebate Paulo André: 'Ele não leu a lei'; entenda polêmica sobre a lei de refinanciamento das dívidas

ESPN

 O assunto do projeto de refinanciamento das dívidas do clubes está provocando cada vez mais discussões entre dirigentes e jogadores de futebol. Enquanto os cartolas, em sua maioria, já se dão por satisfeitos com o texto finalizado para ser aprovado como lei, o movimento dos atletas, o Bom Senso, se posicionou contrário à ideia.

Paulo André, a principal liderança do grupo, em carta para o Blog do Juca Kfouri, no portal UOL, destruiu os artigos da proposta que circula pelo Congresso Nacional, no último domingo, com ataques ao presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro, líder da comissão de times criada pela CBF. Em contato com a reportagem, o comandante paranaense respondeu às críticas do ex-corintiano.

Com a entrevista, o ESPN.com.br organizou abaixo uma parte das polêmicas, usando as frases de Paulo André* e as respostas do dirigente, para ajudar os leitores a entenderam o debate e, eventualmente, se posicionarem sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que pode ser aprovada nos próximos dias.

Entre outros, o principal ponto de discórdia entre as duas categorias tem a ver com a fiscalização frágil que os clubes terão, que significaria não mudar nada no futebol, além de não constar no projeto, textualmente, que as diretorias dos times serão punidas se não tiverem em dia com os salários e direitos de imagens do elenco.

Para Vilson, no entanto, Paulo André não leu o texto da lei. Como representante das equipes, ele garante que isso foi pensado e que está claro na proposta final. O dirigente também esclarece que a fiscalização, caso a lei seja de fato aprovada, será feita pela Confederação Brasileira de Futebol, no que diz respeito ao âmbito desportivo.

Entenda os dois lados.

**Paulo André: Do jeito que está, ele exige apenas a apresentação da CND (Certidão Negativa de Débito), uma vez por ano, como garantia "inquestionável" de uma gestão transparente no futebol nacional.

Vilson Ribeiro de Andrade: O que ele diz não condiz com o que está acontecendo. Os clubes e os jogadores querem melhorias para o futebol brasileiro. Claro que há diferenças entre nós, mas os dois querem o mesmo.

Paulo André: Além disso, dói só de pensar que mais de R$ 4 bilhões sumiram no futebol e nenhuma alma será punida. No caso específico dos débitos de que trata a LRFE, se o Governo aceitar parcelar a dívida, os dirigentes que cometeram irregularidades não mais poderão ser acionados por crime de apropriação indébita.

Vilson Ribeiro de Andrade: Os R$ 4 bilhões não sumiram, eles serão pagos. Os dirigentes deixaram de recolher e agora vão pagar, isso não é crime nenhum. Se eles não pagarem, aí sim. Enquanto isso ninguém cometeu nada errado.

Paulo André: Se o Congresso Nacional e a Presidente Dilma, que representam o povo nesse debate, optarem por tomar o caminho de parcelar a dívida e consequentemente isentar os dirigentes pela infração, que a decisão seja tomada pela certeza da GARANTIA de contrapartidas claras e severas, cuja fiscalização seja eficaz e a punição aos clubes e aos dirigentes seja direta.

Vilson Ribeiro: Ele quer o controle externo. Que controle externo? Para dar emprego para os amigos dele? A CBF vai colocar a lei inteira nos regulamentos dos campeonatos, para que todos os pontos sejam cumpridos. A CBF é quem vai fiscalizar.

Paulo André: Não caiam no papo do Sr. Vilson de Andrade, espertalhão, que diz que eles (dirigentes de clubes) defendem uma punição mais dura do que a que propõe o Bom Senso. "90% da proposta deles (jogadores) está incluída na dos clubes. Eles falam em perda de pontos, nós falamos em rebaixamento. Essa é a grande diferença", disse, com gigantesca cara de pau, o atual presidente do Coritiba.

Vilson Ribeiro: Ele demostra falta de conhecimento técnico. Ele não leu a lei. Ele deveria entender que eu represento os demais clubes. Eu não vou descer ao nível do Paulo André. Não vou entrar em uma discussão pessoal com ele, tampouco com ele que não tem uma qualificação pra isso. O que ele disse não condiz com o que está acontecendo. Eu pessoalmente acho que ele foi muito infeliz. Eu não tenho vontade mais de falar com ele.

Paulo André: Ele sabe que, do jeito que está, a LRFE não punirá ninguém. Dizer que há severidade em apresentar a CND uma vez por ano para garantir que os clubes que não pagarem em dia as parcelas do "financiamento" sejam rebaixados de divisão é coisa de quem está mal intencionado. E achar que isso é suficiente para moralizar o futebol brasileiro é uma ofensa à inteligência alheia.

Vilson Ribeiro: Claro que a lei punirá. Os clubes terão de apresentar as CNDs e todos os documentos de que os salários estão em dia a cada vez que forem entrar em um campeonato. Se o time está no estadual, na Copa do Brasil e no Brasileiro, terá de apresentar três vezes por ano. A questão dos salários é a mesma coisa. Esse é um ponto crucial para o governo. Não existe a lei sem essa parte.

Paulo André: Sr. Vilson, cadê o controle de déficit sob pena de punição esportiva?

Vilson Ribeiro: Está no orçamento e está com o controle das CNDs. Se o clube não se planejar, não pagará impostos nem salários, e assim, não poderá jogar.

Paulo André: Cadê a garantia do cumprimento dos contratos de trabalho sob pena de punição esportiva?

Vilson Ribeiro: Está na lei também. Tem de apresentar junto com as CNDs. Se o clube não pagar em dia, os jogadores também podem enviar denúncias para a CBF.

Paulo André: Cadê o limite do custo futebol sob pena de punição esportiva?

Vilson Ribeiro: Também está na lei. Os clubes só podem gastar 70% do total com pessoal, como contratação de jogadores e salários, por exemplo.

Paulo André: Cadê a padronização das demonstrações financeiras e a reavaliação do endividamento sob pena de punição esportiva?

Vilson Ribeiro: O Conselho Nacional de Contabilidade é que controla os balanços e também padroniza a sua publicação.

Paulo André: Cadê o parcelamento da dívida trabalhista já transitada sob pena de punição esportiva?

Vilson Ribeiro: Esse é de longe o principal ponto de discórdia entre os clubes e os jogadores. A gente vai ter que dar um jeito nisso e chegar a um consenso, sobre o que vai acontecer com as dívidas trabalhistas que estão na Justiça.

*As frases aqui utilizadas foram editadas da carta original. O texto completo, com todas as críticas e opiniões de Paulo André, está no Blog do Juca Kfouri, no Portal UOL.

**A reportagem tentou contato com Paulo André, para que pudesse responder às declarações de Vilson Ribeiro, mas não teve resposta.