Olhar Jurídico

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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O que vi da vida...

Christiane Batista/Divulgação

Estive ausente por uns poucos meses da elaboração de artigos por motivos idôneos. Neste tempo, porém, acompanhando acontecimentos cotidianos a opinião não se conteve, embora não tenha ido para o “papel”.
Acompanhei, por exemplo, nosso primeiro turno das eleições e entre tantos fatos, os índios do Amazonas contemplados com gasolina para ir votar viajando em seus barcos por 10 dias, onde apenas foram contemplados para ir. Para votar, tudo. Para voltar, “nada”. Eu poderia rir com o trocadilho, mas não consigo. Foram esquecidos pelos candidatos fornecedores de combustível. Sim, candidatos deram o combustível para ir apenas e para voltar, só mesmo se nadassem. Resultado, centenas de índios, incluindo crianças e mulheres, sobrevivendo ao relento, a 10 dias de distância de casa e quatro crianças mortas.

A pior notícia é o boato de que o candidato responsável foi eleito. Vi, entre outras coisas também a notícia atrasada da falsa adoção no interior da Bahia ocorrida há mais de ano. Cinco crianças retiradas da família e separadas em processos defeituosos de adoção, sem sequer a participação do MP. O estarrecedor é que há um juiz facilitador da façanha. Depois deste estarrecimento o pavor em saber que trata-se de uma quadrilha e que são muitos os casos anônimos. Valha-me meu são Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Imaginei agora ele mesmo, em carne, osso e vivinho da Silva no Fantástico dizendo “O Que Vi Da Vida”. Neste mês de novembro, quando comemoramos seu aniversário, o que ele diria sobre questões contemporâneas, como a greve dos professores federais arrebatadora do ano letivo? Sim, eu acompanhei e vi um fim de greve deprimido e exaurido. E indaguei a mim mesma - pois não pude ir até Brasília em inquisição - quem restou prejudicado, a quem pertenceu a maior lesão? Assertivamente, não foram os detentores do poder de decisão e de mudança. Atirou-se para matar num, mas quem morreu foi outro. Os meios não favoreceram os fins. Por que fazer greve contra quem não tem como resolver o seu problema? Está comprovado que o governo federal não se importa se centenas de milhares ficam sem aulas, perdem oportunidades, um ano de suas vidas, atrasam carreiras. É justo o petitório dos professores, mas o alvo das represálias precisa ser reavaliado, pois quem poderia ter atendido aos professores saiu imaculado da greve. E quem nada poderia fazer e está do lado dos professores foi imolado.

E Rui Barbosa ainda quis ser presidente. Entretanto, para sua sorte nunca conseguiu e talvez por isso sua vida seja exemplo, ele foi muito mais que apenas um presidente. Eu diria que ser presidente hoje, no Brasil, não é mais lá grande coisa. Rui Barbosa então foi jurista notável, político de verdade, diplomata e incontáveis outros ofícios. Quantas pessoas hoje conhecemos com perfil parecido? Penso, se já naqueles dias ele via triunfar nulidades, o que veria da vida hoje? Difícil saber dele se mal sei de mim nestes tempos incertos. Agora como advogada, ao ver crescer injustiças e desonras, o que me cabe fazer? Certamente o meu melhor, de acordo com o juramento da advocacia e o exemplo de Rui Barbosa. Afinal, por isso me ausentei nos últimos meses, convertida em obter aprovação no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil.

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