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Oitivas na 11ª Vara Militar

“Era apaixonado pela Polícia Militar”, diz coronel que investigou morte de tenente

03 Abr 2019 - 14:50

Da Redação - Patrícia Neves e Wesley Santiago/ Da Reportagem Local - Vinicius Mendes

Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto

“Era apaixonado pela Polícia Militar”, diz coronel que investigou morte de tenente
Cinco testemunhas são ouvidas na tarde desta quarta-feira (03), em audiência sobre a morte do tenente do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Carlos Henrique Scheifer. Foram denunciados: cabo da Polícia Militar Lucélio Gomes Jacinto; 3º sargento Joailton Lopes de Amorim e o soldado Werney Cavalcante Jovino.

Os três foram presos há cerca de 15 dias por determinação da 11ª Vara Militar. Scheifer foi executado com um tiro de fuzil no peito, em maio de 2017, em uma ação de continuidade após um assalto a banco na região de União do Norte, a 700 km de Cuiabá.

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A primeira testemunha do caso trata-se de  Alex Sander de Souza Vizentin. Aos juízes militares, ele afirmou que ouviu Jacinto afirmar que o ‘tenente [referindo-se a Scheifer] era muito legalista’. A frase teria sido proferida depois de sua equipe ser acionada para auxiliar a ocorrência na qual morreu o assaltante de bancos Marconi Souza Santos.

A segunda pessoa a depor, sargento Antônio João da Silva Ribeiro, disse que foi informado sobre o confronto de União do Norte e que o tenente Scheifer havia sido baleado. Ele seguiu até Matupá, para saber o que estava acontecendo e, quando tentou conversar com os três acusados, eles se mostraram nervosos e um mandou que se afastasse.



Além disto, a testemunha relatou que o trio estava sozinho em uma sala do hospital. O sargento se recorda que um dos três acusados chorava bastante, mas não soube precisar qual deles. 

O segundo tenente Herbe Rodrigues da Silva contou que quando chegou em Matupá, encontrou dois suspeitos sendo rendidos e também uma arma, que foi repassada para Scheifer. Logo depois, foi para a cidade confecionar o boletim de ocorrência.

Por volta das 19 horas, o segundo tenente contou que ouviu pelo rádio sobre um policial baleado. Rapidamente, ele decidiu seguir até o hospital. Lá, os réus contaram que estavam em uma região de mata e o tenente se levantou do local onde estava e, neste momento, teria sido atingido. A vítima chegou ao hospital já pálida e quase sem vida.

Herbe lembrou ainda que achou estranho o fato dos acusados não falarem que realizaram disparos de arma de fogo no confronto. "Seria o normal, até pra fazer uma cobertura de fogo para retirar o ferido do local, para não correr o risco de outro ser baleado”.

"Quando eu vi o colete dele, o disparo estava em ângulo, foi pego de baixo para cima, o colete estava perfurado dessa forma, vimos na funerária. Pelo ângulo, se percebia que não poderia ser muito distante", completou o segundo tenente.

O segundo tenente ainda pontuou que "quando eu cheguei na funerária e vi o colete, tinha que montar um quebra-cabeça, até para não cometer erros, porque o boletim foi emitido com a versão deles, até sair o laudo balístico era essa a versão. Conversei com o coronel e levantamos a possibilidade de que poderia ter ocorrido fogo amigo".

Ainda durante seu extenso depoimento, o segundo tenente revelou que conversou com Scheifer sobre a morte de  Marconi Souza Santos. Ele teria dito que Jacinto estaria aos fundos da residência, onde há um terreno vazio e que um deles, que tentou fugir pelo muro, portava arma de fogo e o policial teria atirado. "Não fez reclamações sobre a operação".

A informação repassada por Herbe vai contra o que há na denúncia, que aponta que houve uma briga entre Scheifer e Jacinto sobre a morte de Marconi. 

Ele afirma ainda que Marcone foi morto do lado de fora, nos fundos da casa e a arma foi encontrada dentro do terreno da residência, perto do muro. Marcone pulou esse muro e morreu do outro lado. 

Foi Herbe quem encontrou a arma dentro da casa e entregou pro Scheifer.

O quarto militar a ser ouvido trata-se do tenente-coronel Cláudio Fernando Carneiro, responsável pelos inquéritos que apuraram a morte do Marconi e a do Scheifer.

Ele conta que trabalha há 20 anos na Polícia, que não tem a preparação técnica que o Bope tem, mas sua experiência fez notar que havia algo errado. "Jamais um policial seria alvejado e morto sem que houvesse um confronto, alguma reação, algo diferente deveria ter acontecido ali". 

Ele prossegue dizendo sobre a primeira testemunha de hoje. "Vizentin me disse que, em dado momento, logo após a morte do Marconi, eles foram pro quartel. Vizentin foi lá fora e ouviu o Jacinto falar: esse tenente é muito legalista". 

"Eu acredito que falaram isso porque o tenente não teria aceitado a forma como se deu a morte do Marconi. Falo isso com base na minha experiência e no depoimento do Vizentin. Também estranhei o fato de, no hospital, eles terem ido para uma sala sozinhos, e barraram a aproximação de outro policial". 

E continua: "o laudo veio apenas para confirmar o que eu já acreditava, que o Scheifer não teria sido morto por um possível suspeito assaltante". 



Para o coronel, Scheifer jamais seria negligente com a própria segurança. "Tinha acabado de sair do curso de forças especiais, um policial do Bope que passa por um treinamento desses não faria isso". 

"Eu não conheci o Scheifer, mas fiquei com vontade de conhecê-lo depois de fazer o inquérito, porque por onde ele passou, os cursos que fez, foi com excelência, seria um dos grandes oficiais da polícia, tinha amor pela farda, era apaixonado pela Polícia Militar". A família do policial morto acompanha emocionada o depoimento.

Ele conta que depois que houve o tiro, Scheifer caiu ao chão e ficou agonizando, gemendo, não conseguia falar. Ele relata que os três acusados não teriam demorado a prestar socorro. "Não há indícios que eles teriam esperado pra dar socorro, ou talvez para pensar no que fariam, assim que ele foi ferido teriam agido para socorrer", asseverou.

A quinta e última testemuna trata-se do tenente Jonas Puziol, que trabalhou em uma das equipes que atuou nas buscas aos criminosos.  Ele levou a equipe de Scheifer ao local onde foi encontrada uma camionete abandonada, dos bandidos.

Ele disse que estranou que os membros do Bope não conversavam com os outros militares  e afirmou que ficou sabendo depois, pelos outros, das circunstâncias da morte.

Disse que foi o Scheifer quem deu a ordem para que deixassem apenas eles ali,  na mata, levassem a viatura do Bope pra mais longe, na tentativa de simular que o Bope teria ido embora do local, caso os suspeitos estivessem por ali.

Denúncia

Na denúncia do Ministério Público Estadual consta que o crime teria sido cometido para evitar que a vítima adotasse medidas que pudessem responsabilizá-los por desvio de conduta em uma ação que resultou na morte de Marconi.

O tenente foi morto com um tiro de fuzil disparado à curta distância. Ainda conforme o MP, o disparo teria sido efetuado por Lucélio - que nega a versão apontada pelo MP. 
Familiares do tenente acompanham a audiência, mas evitaram falar com a imprensa pouco antes do início das oitivas. 

Prisões 

Quase dois anos após a morte do policial, os três denunciados foram presos. No último dia 16 de março, o juiz Marcos Faleiros determinou as prisões considerando a garantia da ordem pública, a conveniência da instrução criminal e periculosidade dos indiciados.

Atualizada às 15h22, 15h54, 16h12 e às 16h20 e 19h10
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