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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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​OPERAÇÃO MANTUS

Em diálogo interceptado, Arcanjo teria ordenado a genro entrega de máquina a médico e dinheiro a gerente

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Em diálogo interceptado, Arcanjo teria ordenado a genro entrega de máquina a médico e dinheiro a gerente
O ex-comendador João Arcanjo Ribeiro, preso nesta quarta-feira (29), deu ordens ao seu genro Giovanni Zem Rodrigues para que repassasse R$ 20 mil ao gerente da RR PAGO, empresa administrada por Giovanni que comercializa “maquininhas de cartão de crédito”. Arcanjo também teria ordenado que seu genro entregasse uma dessas máquinas a um médico.
 
O diálogo é um dos pontos fortes que comprovariam a atuação de Arcanjo na organização criminosa. A defesa de Arcanjo argumentou que equivocadamente consideraram estas "maquininhas" como equipamentos de caça-níquel, para o jogo do bicho. Sobre os R$ 20 mil, o advogado Zaid Arbid, que defende Arcanjo, disse que seria pagamento de fiança.
 
Leia mais:
Defesa diz que prisão de Arcanjo foi equívoco: ‘confundiram máquina de cartão com caça-níquel’
 
No mandado de prisão, o juiz Jorge Luiz Tadeu, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, citou que João Arcanjo Ribeiro é o proprietário do edifício onde funciona a empresa RR PAGO EIRELI ME (atualmente Granito Muito Mais) e a empresa Estacione Parking Serviço de Estacionamento Ltda-EPP.
 
A Estacione Parking está registrada no nome de Giovanni Zem, genro de Arcanjo, e a Granito Muito Mais é de propriedade da sobrinha de Giovanni, mas é administrada por ele. A atividade comercial da RR PAGO EIRELI ME seria o fornecimento de "maquininhas" de cartão de crédito. Segundo o mandado, estas empresas administradas por Giovanni seriam utilizadas para lavagem de dinheiro.
 
O magistrado elencou alguns pontos que comprovariam a atuação de Arcanjo como um dos líderes da organização criminosa que praticava lavagem de dinheiro e jogo do bicho. Dois deles foram diálogos que Arcanjo teve com seu genro.
 
Foi interceptada uma conversa entre os dois, de maio de 2018, na qual Arcanjo teria dito a Giovani que aquele seria o último dia para “mandar aquele negócio lá pro ‘Toninho’”. Giovanni responde que não sabia, mas que quando chegasse ao escritório mandaria “Benedito levar lá”.
 
De acordo com o advogado de Arcanjo, o “negócio” seria um pagamento no valor de R$ 20 mil. A defesa justificou que tal valor, na realidade, seria o pagamento de uma das parcelas da fiança imposta a Arcanjo. Ainda segundo o advogado, “Toninho” seria um assessor de seu escritório, que recebeu o pagamento.
 
“[Toninho] recebeu os R$ 20 mil, como outras três parcelas de R$ 20 mil, para depositar a parcela de uma fiança de R$ 80 mil que a Justiça Federal estabeleceu, para que João Arcanjo Ribeiro recolhesse estes R$ 80 mil em quatro parcelas de R$ 20. Uma de R$ 20 mil em maio de 2018”, disse Zaid Arbid.
 
Na denúncia, no entanto, consta que “Toninho” seria gerente da RR PAGO. Um outro diálogo entre Arcanjo e Giovanni também foi considerado para apontar a atuação de Arcanjo na organização.
 
No mesmo dia em que ligou pedindo que fosse entregue o dinheiro a “Toninho”, Arcanjo teria pedido a Giovanni que entregasse uma de suas maquininhas a um médico. “Ele quer uma máquina hoje lá ainda. Tá esperando você levar”, disse o ex-comendador. A princípio Giovanni parece confuso, mas Arcanjo diz “fui nele de manhã, achei que você ia também” e depois reforçou que “ele pediu pra você levar uma máquina” no mesmo dia.
 
De acordo com advogado de Arcanjo, estas máquinas não seriam para operação do jogo do bicho, mas sim máquinas de cartão de crédito.
 
“No dia em que pediu que fossem depositados os R$ 20 mil para Toninho, para atender uma parcela de sua fiança, ele pediu também ao Giovanni ‘olha, o médico de onde eu estou vindo pediu para que você levasse uma máquina, se possível ainda hoje’. Agora, essa máquina, entenderam como se fosse máquina caça-níquel, e não é isso, Giovanni trabalha com uma máquina de crédito, de cartão de crédito”, justificou.
 
A Justiça, no entanto, entendeu que há provas suficientes e a prisão de Arcanjo foi mantida. Inclusive, no Estacione Parking Serviço de Estacionamento, que foi apresentado por Arcanjo como o local onde estaria trabalhando, licitamente, teria sido emitido um recibo de R$ 20 mil a um dos envolvidos no jogo do bicho.
 
No celular de Marcelo Gomes Honorato, que foi apreendido durante flagrante por envolvimento no jogo do bicho em julho de 2018, foi encontrado o recibo. De acordo com a localização da tornozeleira eletrônica de Arcanjo, o ex-comendador estava no local e horário que o recibo foi emitido.


 
A operação
 
A Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Fazenda e Crimes Contra a Administração Pública (Defaz) e da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), deflagrou na manhã desta quarta a Operação Mantus, com o escopo de prender duas organizações criminosas envolvidas com lavagem de dinheiro e com a contravenção penal denominada jogo do bicho.
 
A operação visou dar cumprimento a 63 mandados judiciais, sendo 33 de prisão preventiva e 30 de busca e apreensão domiciliar, expedidos justamente pelo juiz da 7ª Vara Criminal da Comarca de Cuiabá, Jorge Luiz Tadeu.
 
As investigações iniciaram em agosto de 2017, descortinando duas organizações criminosas que comandam o jogo do bicho em Mato Grosso. Ambas movimentaram em um ano, apenas em contas bancárias, mais de R$ 20 milhões.
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