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Terça-feira, 16 de abril de 2024

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Desembargadoras completam 32 anos de magistratura e relembram dificuldades

Foto: Reprodução / Kamila Anjos, ZF Press

Desembargadoras completam 32 anos de magistratura e relembram dificuldades
No ano em que as mulheres conquistaram igualdade jurídica com os homens, estabelecida pela Constituição de 1988, duas jovens bacharéis em Direito, Clarice Claudino da Silva e Marilsen Andrade Addario, iniciavam a carreira da magistratura em Mato Grosso. Hoje, a presença feminina nas Cortes de Justiça não causa estranheza, mas há 32 anos era diferente.
 
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Foi preciso superar obstáculos e preconceitos, mas ambas trabalharam muito e alcançaram a mais alta posição na carreira de juiz dentro do Estado, que é a promoção para o cargo de desembargador.
 
Mudança de comportamento
 
“As mulheres terão alcançado a verdadeira igualdade quando os homens compartilharem com elas a responsabilidade de criar a próxima geração”. A frase da juíza da Suprema Corte norte americana, Ruth Bader Ginsburg, serviu de inspiração para a desembargadora Marilsen Andrade Addario. Primeiro, por ela compartilhar da mesma opinião. Segundo, porque a faz lembrar do início da carreira como magistrada, que completa 32 anos neste dia 3 de novembro.
 
“Quando eu e a Clarice tomamos posse, fomos designadas para o Fórum Cível de Cuiabá, que funcionava em um prédio de dois andares na Avenida Getúlio Vargas. No primeiro andar ficavam as secretarias e no segundo andar os gabinetes dos juízes. Como não havia banheiro privativo nas salas, recebemos uma cópia da chave do banheiro daquele andar, mas fomos avisadas que ele era de uso exclusivo dos juízes homens”, lembra a desembargadora Marilsen.
 
A solução encontrada pelas magistradas foi compartilhar o banheiro feminino do primeiro andar com as outras servidoras. “Isso serve para mostrar como era a carreira de uma juíza há 32 anos, nem os prédios estavam preparados para nos receber”. Hoje, segundo a magistrada, essa situação mudou bastante, e para melhor.
 
Na última sessão do TRE da qual participou, semana passada, a magistrada foi surpreendida com uma conversa entre os outros membros do colegiado, todos homens, que discutiam a melhor forma de lavar a louça.

Um deles contou que havia comprado uma lava-louça e explicava aos demais a importância de limpar pratos e panelas antes de colocar os objetos no eletrodoméstico.
 
“Vivi para ver e ouvir isso”, disse a magistrada, que parabenizou os juízes por assumirem as tarefas domésticas e não pode deixar de lembrar da diferença do comportamento dos homens e das mulheres nos últimos 32 anos e da frase da magistrada americana Ruth, que morreu de câncer há pouco mais de um mês, em 18 de setembro de 2020. “Sou grata por toda essa trajetória, pelo que vivi e pelas experiências”.
 
Vocação para a mediação
 
Os últimos dez anos da carreira da desembargadora Clarice Claudino da Silva têm sido dedicados à tarefa de implantar a política judiciária de tratamento adequado de conflitos em Mato Grosso. Nesse período à frente do Nupemec (Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos) foram instalados 43 Cejuscs no Estado, alguns inéditos no país, como o Cejusc de Meio Ambiente e o primeiro da Infância e Juventude.

“O nosso sonho maior foi a implantação do Cejusc dos Juizados Especiais, para concentrar todas as audiências num só local, sob o comando de uma pessoa que pudesse estruturar e comandar tudo”, disse a desembargadora.
 
Um momento marcante na carreira da magistrada foi a promoção para a Vara de Família de Cuiabá, onde ela diz ter encontrado uma vara conturbada, com processos em atraso e desorganização interna. Foi ali que ela descobriu que a vocação que tinha como conciliadora era boa, mas insuficiente.

Na ocasião, a magistrada tentou levar para o Fórum um núcleo que atendesse as varas de família, mas o projeto não prosperou. Foi somente com a Resolução nº 125 do CNJ, de 2010, que o sonho de criar um núcleo de mediação se tornou realidade.
 
Segundo a magistrada, com a chegada da pandemia de coronavírus, foi preciso se reinventar, já que todo trabalho era presencial e nem se cogitava, por exemplo, fazer audiências online.

“Hoje estamos plenamente adaptados, as nossas oficinas de direito sistêmico também estão sendo viabilizadas para a forma online, assim como as oficinas de pais e filhos, ou de parentalidade, tão importantes nas varas de família”, destacou Clarice Claudino.
 
A desembargadora diz se sentir abençoada ao completar 32 anos de magistratura, a começar pelas amizades e relacionamentos que construiu ao longo desse tempo, não apenas com outros magistrados, mas também com membros do Ministério Público, Defensoria, advogados e sua equipe de trabalho.

De Poconé, onde passou quase três anos, lembra da promotora Magna Monteiro Fernandes, já falecida, “uma verdadeira irmã”. Depois passou por Sinop e Cáceres, até chegar a Cuiabá.
 
“O desafio da magistratura não é pequeno. O trabalho exige uma dedicação além daquilo que nós, muitas vezes, estamos fisicamente preparados, mas com amor, com dedicação, tudo isso tem sido possível. Só tenho gratidão no meu coração e é o que desejo também a todos que estão na carreira ou venham nela adentrar, que façam aquilo que amam. Esse é o diferencial”, concluiu.
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