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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Reuniões de bastidores foram cruciais para PF deflagrar 'Arca de Noé', revela promotor

Foto: Reprodução

Reuniões de bastidores foram cruciais para PF deflagrar 'Arca de Noé', revela promotor
Estratégias às vezes vistas em filmes foram praticadas nas semanas e meses que antecederam à Operação Arca de Noé, em 5 de dezembro de 2002. Houve reuniões restritas em Brasília e Cuiabá do governador Rogério Salles (PSDB) para se chegar à operação. Intensificaram-se reuniões entre autoridades dos Ministérios Público Federal e Estadual, Polícia Federal e Justiça Federal.

Apontado como comandante do jogo do bicho em Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro agia sem ser incomodado por algumas autoridades de Mato Grosso. Porque a polícia e a justiça não agem para aplicar a lei contra ele? Como fazer alguma coisa para prendê-lo ou levá-lo à Justiça pela contravenção e acusações de crimes?

Arcanjo não é julgado por acusação de homicídios após 10 anos da Arca de Noé

Esses eram alguns dos questionamentos de intelectuais, atores da segurança e gente do governo da época. Mas, a série de execuções entre abril e setembro de 2002 deixou o governo e as autoridades de segurança contra a parede. Era preciso fazer algo.

Um dos promotores que integrou a equipe de 25 profissionais à frente das investigações, Mauro Zaque, conta uma pequena parte do ambiente pré-operação.

"Estivemos na Secretaria Nacional de Segurança Pública, no Ministério da Justiça, no Ministério da Defesa, na Receita Federal para poder nos subsidiar de informações e logística para poder executar a operação", conta o promotor.

"Nós já vínhamos trabalhando no caso do Arcanjo há um ano, dois anos. Havia a promotora Ana Cristina Bardusco, o promotor Célio Wilson (ex-secretário de Segurança Pública), que estavam no Gaeco e colaboraram muito. O procurador Pedro Taques, o juiz Julier. Havia outros promotores que não me lembro", diz. "Havia um trabalho de investigação com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) e a Procuradoria da República", descreve.

Ele afirma que para colocar em prática a operação, era necessário alguns procedimentos para de fato prender Arcanjo. "Tinha investigação de crime de sonegação fiscal. Quando desencadeou a Operação Arca de Noé, tinha procedimento para pedir prisão", conta o promotor.

Ex-secretário

"Teve uma reunião em Brasília em 2002 do Rogério Salles e o secretário de Segurança Pública não foi", conta fonte do Olhar Jurídico sobre ambiente de desconfiança que pairava na estrutura de poder. A dúvida tinha razão. Após a Arca de Noé, investigações e análise de documentos, descobriu-se por meio da quebra de sigilos bancário e fiscal a relação de Arcanjo com o ex-secretário de Segurança Pública do governo Dante de Oliveira (PSDB), Hilário Mozer Neto, que havia ocupado o cargo entre 1997 e 1998.

A ligação entre ambos está em um processo julgado pelo juiz federal Julier Sebastião da Silva em dezembro de 2003, autor do mandado de prisão contra o bicheiro. O elo era a Confiança Factoring Fomento Mercantil (nome fantasia Real Factoring), braço financeiro e espécie de banco extraoficial de Arcanjo, com ramificação pelo Brasil e em paraísos fiscais no exterior, como no Uruguai.

Em 1998 foi feito a primeira tentativa de autoridades em organizar e reunir informações e procedimentos para enquadrar na lei o contraventor. Mas, dada a complexidade de argumentos legais para interpelá-lo, houve um recuo. Nessa época, por exemplo, o jornal Folha do Estado, durante os 12 meses seguintes, já questionava o jogo o bicho com reportagens, ao mostrar as bancas de apostas da Colibri, marca da atividade desenvolvida pelo contraventor.

No decorrer das investigações comprovou-se que o questionamento do jornal foi a causa provável da morte do ex-proprietário, Sávio Brandão, executado em frente à construção da atual sede do jornal em 30 de setembro de 2002. Arcanjo responde como mandante do homicídio.

Os passos do contraventor estavam monitorados e sua contravenção era sabida por autoridades da área de investigação, como então procurador e atual senador Pedro Taques (PDT-MT), por juízes e mais o grupo de promotores.

A promiscuidade entre segurança e a aplicação da lei era freada pelo fato de o chefe do jogo do bicho ter tentáculos no próprio aparelho de repressão do governo estadual e na Assembleia Legislativa, como vieram a confirmar documentos posteriores à operação e investigações.

No caso da Segurança Pública, foi comprovado com inquéritos e processos posteriores, materializado na ação dos executores de assassinatos de que Arcanjo é acusado, o soldado Célio Alves de Souza e o ex-cabo Hércules Araújo Agostinho.

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