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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Estado paralelo

'Poder público era refém de estrutura de Arcanjo', relata PF

Foto: Reprodução

Alexandre Bustamante

Alexandre Bustamante

O poderio financeiro do ex-chefe do crime organizado do Estado de Mato Grosso, “comendador” João Arcanjo Ribeiro, era medido pela sua influência no poder público e fortaleza comercial que detinha em Mato Grosso. O fato foi constatado após a Operação Arca de Noé, há exatos 10 anos, desencadeada pela Polícia Federal, com apoio das Polícias Civil, Militar e Ministérios Públicos Federal e Estadual e mandado de prisão determinado pelo juiz federal Julier Sebastião da Silva.

Uma mostra dessa força é relatada pelo atual secretário adjunto de Segurança Pública do governo e ex-chefe do Núcleo de Inteligência da Polícia Federal de Mato Grosso na época, delegado Alexandre Bustamante. Ele também era representante da Interpol e esteve na prisão de Arcanjo em 10 de abril de 2003 no bairro Carrasco, da classe alta de Montevidéu. Ele concorda que na prática, a organização do ex-bicheiro era um “Estado paralelo”.

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“A organização Colibri atuava em diversas frentes. O volume de dinheiro que circulava era grande. A ponto do poder público do Estado de Mato Grosso ficar refém da estrutura da factoring de João Arcanjo Ribeiro. O Estado não passava por momento bom, mas os negócios de João Arcanjo sim”, relata. Colibri era a marca do jogo do bicho com que o ex-chefe do crime organizado atuava.

Bustamante classifica a operação como um marco histórico para frear atividades financeiras ilícitas, como lavagem de dinheiro, praticada pelo “comendador”. “O crescimento financeiro das organizações de João Arcanjo era grande, porque circulava muito dinheiro. Quando houve a operação, o comércio sentiu muito. Ele trocava cheques de pessoas físicas”. A ação é proibida, pois a factoring só pode fazer operações com pessoas jurídicas, como estabelece a lei.

Outro efeito nos anos seguintes da Operação Arca de Noé, observa Bustamante, foi a regularização do segmento financeiro, devido ação determinada da Justiça Federal, Ministério Público Federal e das investigações da PF. “As factorings começaram a se regularizar. Algumas, como medo de justiça de Mato Grosso, outras, por respeito, mudaram para outros Estados”, compara.

O poder financeiro sobre o meio político citado por Bustamante era a Confiança Factoring Fomento Mercantil, um braço financeiro da organização do ex-bicheiro que tinha atuação com sociedades financeiras em paraísos fiscais, como o Uruguai, e que repatriava recursos obtidos com atividades ilícitas. A factoring, segundo investigações e processos do pós-operação, era utilizada para lavagem de dinheiro (dar origem legal a recursos, bens ou valores obtidos de modo ilícito).

De acordo com investigações da época da PF e do Ministério Público Federal, a organização do ex-bicheiro internalizou no país cerca de US$ 20 milhões.

A força da organização do contraventor foi observada durante aquele período pelas ramificações políticas. De acordo com documentos apreendidos pela operação e analisados posteriormente, foi possível identificar que ele auxiliou 22 dos 24 deputados de uma legislatura da Assembleia Legislativa antes da operação ser decretada.

E mais, na Operação Arca de Noé, foram encontrados 22 notas promissórias em nome do presidente e primeiro-secretário da Assembleia Legislativa de então, Humberto Bosaipo e José Riva (PSD). As promissórias de valores aproximados de R$ 700 mil somavam R$ 15,4 milhões. Riva explica que as promissórias foram caução para um negócio que não foi efetivado.
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