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Domingo, 16 de fevereiro de 2025

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DEFENDE ABORDAGEM HUMANIZADA

Perri discorda de Abilio sobre restrição de marmitas e envio de moradores de rua a estados de origem

17 Jan 2025 - 12:20

Da Redação - Pedro Coutinho / Do Local - Luis Vinícius

Foto: Olhar Direto

Orlando Perri e Abilio fazem abordagem a pessoas em situação de rua no centro de Cuiabá

Orlando Perri e Abilio fazem abordagem a pessoas em situação de rua no centro de Cuiabá

O desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça (TJMT), discorda do prefeito Abilio Brunini (PL) e defende uma abordagem multidisciplinar e humanizada para enfrentar as causas, e não os efeitos, que levaram cerca de 1.500 pessoas em Cuiabá à situação de rua. Para o decano da corte, é fundamental compreender o que leva as pessoas à vulnerabilidade social para que os entes públicos possam os incluir em uma rede de proteção e assistência. 


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Acompanhado de Brunini, Perri conversou com a população que vive pelas ruas para entender, de perto, quais os problemas que os poderes devem atacar para resolver a situação. 

Abilio afirmou que vai apresentar ao Ministério Público uma proposta de ação para desocupar as cracolândias e levar os moradores de rua para uma centro de apoio que será implementado na antiga sede da Secretaria Municipal de Assistência Social, na avenida das Torres. O anúncio foi feito durante visita a uma região em frente a Rodoviária de Cuiabá, na manhã desta sexta-feira (17).

O magistrado defende ainda que as soluções sejam buscadas com experts no assunto e, por isso, convidou o doutor Juliano Batista dos Santos, da UFMT, que desenvolveu sua tese de doutorado sobre a população de rua, para acompanhar a visita. 

“Precisamos saber o que os levou à situação das drogas e de rua. Temos que atacar as causas dos problemas que os levaram à situação de rua”, afirmou. 

Questionado sobre a possibilidade de medidas compulsórias, como a remoção forçada, Perri foi enfático ao descartá-las. “Medidas compulsórias e retiradas não são possíveis e não farão bem a essa população. Até porque eles são territorialistas. A motivação para tirá-los dessa situação deve ser outra, e não compulsoriamente”, explicou.

Sobre esse ponto, o magistrado também rebateu uma proposta de campanha feita por Abilio, na qual ofereceu passagens de ônibus para que pessoas em situação deixassem a capital. 

Na propaganda em questão, Abilio apareceu conversando com pessoas possivelmente em situação de rua, na região do Beco do Candeeiro, no centro histórico de Cuiabá. 

Durante a gravação, ele sugere a oferta de passagens para que essas pessoas deixem a cidade. Em resposta, um dos abordados menciona que aceitaria a passagem se fosse para o Rio de Janeiro ou Maranhão, ao que o candidato afirma: "Pra onde você quiser ir, a gente vai dar a passagem pra você ir onde quiser ir. [...] Mas pra quem quiser acabar com a vida aqui, isso nós não vamos aceitar".

Ao ser indagado sobre o projeto de custeio ao o retorno dessas pessoas, Perri demonstrou cautela. “Não conheço a fundo os problemas e soluções da população de rua. Por isso, volto a repetir: estamos conversando com quem realmente conhece a causa dos problemas, e essa situação não se parece a mais adequada, pelo menos conforme dizem as pessoas experientes no assunto.”

Perri também discordou da ideia de restringir a distribuição de marmitas a essas pessoas, proposta pela Prefeitura de Cuiabá como forma de evitar a permanência e o retorno de outros à região. Ele lembrou ainda que o Ministério Público pode intervir nesta questão para manter a oferta de alimentos aos moradores de rua.

“Não é por essa via, cortando alimentação deste povo, que vamos tirá-los destes territórios. Absolutamente. O professor Juliano estava dizendo exatamente isso: não vamos obter êxito suprimindo as necessidades deles, como alimentação ou qualquer tipo de atenção que a administração pode fornecer.”

Indo mais a fundo sobre esse problema, já que Cuiabá chegou ao alarmante número de 1.500 pessoas vivendo pelas ruas da capital, o decano apontou que muitos acabam em situação de rua devido a problemas emocionais e familiares, que frequentemente levam ao uso de drogas. Para isso, sugeriu que os entes públicos incluam esses cidadãos em rede de proteção, que promova a eles um atendimento multidisciplinar de assistência. 

“O que temos que atacar são as causas. Temos que inserir essas pessoas na rede de proteção do Estado com equipes multidisciplinares atendendo, principalmente, a parte estrutural e emocional dessas pessoas”, enfatizou.

Ao abordar o papel do governo estadual e municipal, Perri destacou que as prefeituras possuem a principal responsabilidade, mas reconheceu esforços conjuntos. Ele mencionou que o governo está disposto a doar um espaço para a criação de um centro de atenção para a população em situação de rua.

A abordagem defendida por Orlando Perri reflete a necessidade de políticas públicas humanizadas e integradas, com a participação de especialistas e diferentes esferas do poder público, para enfrentar um problema que afeta mais de 1.500 pessoas em Cuiabá e cerca de 3 mil em todo o estado.
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