Taiza Tosatt Eleoterio, a “Musa dos Investimentos”, foi submetida a audiência de instrução e julgamento perante a 7ª Vara Criminal de Cuiabá nesta quinta-feira (15), oportunidade em que negou todas as acusações que o Ministério Público a imputa, como os crimes de lavagem de dinheiro, estelionato, pirâmide financeira e associação criminosa. Ela, seu ex-marido, o ex-agente da Polícia Federal Ricardo Ratola e o médico Diego Flores respondem por, supostamente, orquestrarem esquema que causou R$ 5 milhões em prejuízos a mais de 30 vítimas em Mato Grosso por meio das empresas DT Investimentos.
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Na audiência, todos os réus negaram as respectivas participações. Ricardo, inclusive, chegou a acusar Taiza de ser manipuladora e responsável pelas fraudes. Sessão realizada de forma virtual durou mais de oito horas para ouvir os acusados e mais de dez testemunhas, o ministério público, defesas e defensoria.
Defesa dos réus ajuizou preliminares após serem denunciados pelo Ministério Público, como ausência de justa causa para a acusação, inépcia formal, pediram absolvição sumária e questionaram o afastamento dos sigilos financeiros, bancários e a quebra da cadeia de custódia da prova. Todos os requerimentos foram rejeitados pelo juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra, que, então, marcou a instrução e julgamento.
O Ministério Público denunciou Taíza, o médico e o ex-agente por estelionato, lavagem de dinheiro e crimes contra a economia popular. Eles são acusados de liderar um esquema de pirâmide que causou prejuízo superior a R$ 4 milhões a mais de 30 vítimas. Uma idosa perdeu R$ 1,1 milhão.
Taíza foi presa em flagrante em novembro de 2024 na Operação Cleópatra, com munições restritas e anabolizantes. A empresa usada no golpe, DT Investimentos, prometia lucros de até 5% ao mês sem respaldo real. Parte do patrimônio, como R$ 2 milhões, teria sido ocultada em nome do irmão menor de idade.
Após a prisão, Taíza e o atual marido, também investigado, foram soltos com tornozeleira eletrônica e outras medidas cautelares. Ela cumpre prisão domiciliar enquanto responde pelas acusações.
Embora os denunciados propagarem que a DT tinha atuação no mercado financeiro, o Ministério Público revelou que, na verdade, a empresa sequer era regulada ou supervisionada pelos órgãos oficiais, ou seja, atuava, na prática, ilegalmente perante os órgãos de controle.
Em um dos casos, E.A.S. foi contatado por Ricardo e investiu R$ 105 mil, em Rondonópolis, acreditando receber retorno mensal em 5% do valor investido. A vítima, de Rondonópolis, recebeu mensagem de Ricardo no WhatsApp, afirmando que tinha uma empresa de investimentos.
As partes, então, firmaram o Contrato Particular de Compra e Venda de Quotas Sociais Sob Lucro, onde a “Musa dos Investimentos”, como representante da DT, se comprometeu, mediante pagamento no valor de R$105.000,00 efetuado pela vítima, ao retorno de uma remuneração mensal, a título de “pró-labore”, no valor de R$5.250,00 todos os meses, a partir de novembro de 2021, o que não ocorreu.
Os envolvidos no esquema, seguindo esse modus operandi, após conquistar a confiança dos “investidores”, não devolviam os montantes sob alegação de que estavam tento problemas com a corretora da empresa, a qual seria responsável por bloquear os valores investidos.
Já a vítima E.N. declarou à Polícia Federal ter sido cooptado por Ricardo Ratola para investir R$ 130 mil em suposto esquema de investimentos operado pela DT Investimentos. O aporte inicial, de R$ 110 mil, foi feito em maio de 2021 diretamente a Ricardo. Em setembro do mesmo ano, E.N. transferiu mais R$ 20 mil à empresa.
A promessa era de rendimentos mensais de 3% a 5%, com operações na bolsa por meio de "day-trade". Segundo E.N., ele foi convencido da “segurança” do investimento após reunião com o casal, que alegava retorno de até 10% ao mês.
Apesar das promessas, E.N. recebeu da empresa apenas R$ 12.491,25 em pequenas parcelas. Em dezembro de 2021, obteve um repasse único de R$ 50 mil. Após ingressar na Justiça, recebeu mais R$ 60 mil. Ainda assim, cobra R$ 96.309,07, valor que inclui o lucro prometido e que não foi pago.