Inadimplência e fraudes na compra e venda de fazendas, expansão contrariada por baixas em preços e dívidas, encarecimento de insumos e retração nas vendas: Grupo FR, de Vila Rica, entra em recuperação judicial para tentar renegociar R$ 35,6 milhões em dívidas. Em decisão proferida no final de maio, o juiz Renan Carlos Leão Pereira do Nascimento, da 4ª Vara Cível de Rondonópolis, concedeu a medida.
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O é composto por F R Comércio de Peças e Pneus Ltda, F R Comércio de Gás Ltda., e os membros da família Fabiano Guerra Mendes Falcão, Roberta Cristina Freitas Falcão, Maria Luiza Guerra Freitas Falcão, Rafael Guerra Freitas Falcão, e Roberta Cristina Freitas Falcão – ME, ingressou com pedido de Recuperação Judicial buscando negociar seu passivo, reduzir juros, crescer, manter e gerar empregos, alegando viabilidade econômica e necessidade de fôlego para superar a crise econômico-financeira.
A trajetória do grupo inicia em 1992, em Monteiro, Paraíba, com a FR Pneus, fundada por Fabiano e Roberta Falcão com recursos escassos, superando desafios em um mercado hostil. A expansão veio com o braço agropecuário do Grupo FR entre 2002 e 2005, através da aquisição de fazendas como Araçá, Camaleão, Tigre, Jatobá, Lagoa Grande e Generoba, embora tenha enfrentado uma autuação ambiental de R$ 300.000,00 em 2003. Em 2005, em um ato de sacrifício, o casal demoliu sua residência para ampliar a loja da FR Pneus.
Eventos adversos como um desentendimento familiar em 2011 e a pior seca já registrada no Cariri paraibano em 2012 devastaram o rebanho do grupo, forçando a venda de fazendas abaixo do preço de mercado, com o caso da Fazenda Camaleão resultando em contrato inadimplido e embate judicial.
Buscando um recomeço, a família mudou-se para Vila Rica, Mato Grosso, entre 2013 e 2014, reinaugurando a FR Pneus e, em 2015, fundando a FR Gás para quebrar o monopólio local de GLP, um investimento que exigiu a construção de um depósito grande e um árduo processo de regularização que durou até 2017, consumindo capital e levando a uma parceria de exclusividade de cinco anos com a Copagaz para expansão da marca.
Contudo, o sonho de Fabiano de retornar à pecuária em 2017 levou à aquisição de Fazendas Bela Vista II, FR (Morada do Boi) e Canaã, e posteriormente Bela Vista I em 2019, que se revelaram um pesadelo jurídico e financeiro devido a fraudes documentais, resultando em perda de valores pagos e necessidade de recompor pagamentos aos verdadeiros proprietários.
A aquisição da Fazenda FR em 2018, com pagamento inicial de R$ 1.5 milhão e parcelas indexadas à arroba bovina, foi comprometida pela impossibilidade de formalização registral e pela liquidação do rebanho a preços aviltados, enquanto a arroba valorizava, agravando o passivo.
A greve dos caminhoneiros em 2018 impactou severamente a FR Gás, gerando prejuízos e forçando empréstimos bancários com juros elevados. Em 2019, houve a ampliação da FR Pneus via financiamento FCO e expansão da FR Gás. A venda da Liquigás em 2020 e a reestruturação da Copagaz alteraram a logística e aumentaram os custos da FR Gás. No mesmo ano, uma nova área rural foi adquirida, mas Fabiano foi acometido por Covid-19 em 2021, permanecendo acamado por mais de 20 meses, resultando na rescisão do negócio e perda do valor de entrada.
A pandemia e os reajustes sucessivos da Petrobras no GLP em 2021, somados ao contrato de exclusividade, pressionaram as margens da FR Gás, levando a novos financiamentos. Em 2021 e 2022, o Grupo contraiu mais empréstimos devido à escassez de capital de giro, impactado pela elevação da taxa Selic, que atingiu 13,75% ao ano. A pecuária sofreu com a queda abrupta nos preços da arroba bovina em 2023, consolidando prejuízos.
Em 2023, ações trabalhistas abusivas somaram mais de R$ 1.000.000,00 em passivo, e o setor de pneus foi impactado pelo aumento do dólar, concorrência do e-commerce e surgimento de novas lojas físicas em Vila Rica.
Diante desse cenário de estrangulamento financeiro, com lucro insuficiente para manter a operação, o Grupo FR, apesar de estar em plena atividade, gerando empregos e renda, necessita do suporte do Poder Judiciário e da Lei de Recuperações Judiciais para equilibrar seu passivo de R$ 35.649.832,00.
O processamento da Recuperação Judicial foi deferido em 26 de maio de 2025 pelo juiz Renan Nascimento, da 4ª Vara Cível de Rondonópolis, determinando que o grupo apresente um plano de recuperação em 60 dias, sob pena de convolação em falência, e suspendendo ações ou execuções contra os recuperandos por 180 dias.