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Apenas Inteligência da PM sabia nomes dos interceptados, diz Zaqueu: "fui pego de surpresa"

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Preso desde o dia 23 de maio, o coronel da Polícia Militar Zaqueu Barbosa prestou, nesta quarta-feira (28), seu primeiro depoimento ao Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado para conduzir as investigações dos grampos telefônicos. Sob coordenação do coronel da reserva Jorge Catarino Morais Ribeiro, convocado pelo governador Pedro Taques (PSDB), Zaqueu negou que tive acesso aos nomes das pessoas que seriam grampeadas na investigação feita a militares, por tráfico de drogas, em Cáceres. A conclusão do IPM deverá ser enviada para o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) já na semana que vem.

Ao Olhar Jurídico, o advogado do militar, Flávio José Ferreira, que também é vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) detalhou o que foi dito em juízo. Afirma que não pesa qualquer prova contra seu cliente, que teria tomado ciência do esquema de “barriga de aluguel” quando foi veiculada a reportagem de “Fantástico”, na Rede Globo.

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O que foi dito ontem pelo coronel Zaqueu às autoridades policiais?

“O que ele disse foi que, em um primeiro momento, quando ele era Comandante-Geral da PM, fez requerimento a um juiz de Cáceres pedindo autorização para escuta de militares envolvidos em crimes, como comandante ele poderia fazer isso. Por que um juiz de Cáceres? Pois era uma investigação que ocorria na fronteira, contra tráfico de drogas e armamentos. Havia um levantamento feito pela Inteligência da PM, indícios que foram entregues para ele. Zaqueu formalizou estas informações e as entregou para o juízo, que autorizou as escutas. O Coronel nunca tomou conhecimento de quem estava sendo ouvido, até porque esta informação era sigilosa e ficava somente com o setor de Inteligência da PM”.

Explique melhor como isso funciona:

“Suponha que haja em Cuiabá a suspeita de que determinados militares estão cometendo crimes, o setor de Inteligência faz a investigação, pergunta, indaga e faz fotografias. Quando o setor vê que, de fato, existem indícios de crimes, ele faz um relatório e manda para o comandante, que vai pegar lá: ‘Sebastião e João estão cometendo tráfico de drogas’. Ele acredita no trabalho de campo da Inteligência e diz ao juiz: ‘olha, o meu pessoal levantou estas informações, eu quero escutar estes nomes’. O oficio do juiz, autorizando, vai ao setor de Inteligência, que recebe da empresa de telefonia as escutas (é a telefonia que faz isso). O coronel nunca soube se quem estava sendo ouvido era A, B, C, Janaína ou Muvuca, ele só soube depois desta matéria do Fantástico”.

Os nomes dos donos dos números que seriam gravados não apareciam na lista?

“Não aparecem, somente os números dos telefones. Quem sabe os nomes dos donos dos números é o setor de Inteligência. Eles colocam não o nome do advogado, mas apenas o apelido ‘advogado’, o Coronel que comanda o Estado inteiro não sabe quem é esse advogado, mas o analista, o cara que atua dentro do setor de Inteligência há 10 ou 20 anos trabalhando nisso, sabe o codinome de cada um”.

O comandante Zaqueu conhece os agentes do Setor de Inteligência da PM?

“Ele conhece em tese, imagina quantas mil pessoas atuam na PM, mas ele sabe quem atua na Inteligência, a princípio sabe, ele não conhece em detalhes, não convive, mas sabe”.

O coronel acredita que tenha sido o Setor de Inteligência o responsável pela barriga de aluguel?

“Ele não sabe, pois este setor é feito por pessoas que trabalham há muito tempo lá dentro. Se foi A, B ou C quem pediu para fazer essa barriga de aluguel, ele não tem a menor ideia. Só quem tem acesso a isso é o setor de Inteligência, que tem senha. Descobrimos que da casa dele um membro da Inteligência pode acessar aos dados”.

A defesa acredita que Zaqueu seja ‘bode expiatório’ deste esquema?

“Não acredito que seja bode expiatório, mas ele é um dos únicos suspeitos. Entretanto, já foi ouvido juiz, foram ouvidos promotores e o pessoal da Inteligência e todos foram unânimes em dizer que Coronel Zaqueu nunca soube quem estava sendo ouvido. O que ele falou no primeiro dia para mim, repetiu ontem. Que ele nunca soube, que ele confiou na equipe e foi tomado de surpresa por estes fatos. Na cabeça dele, quem estava sendo ouvido eram militares que foram punidos e expulsos. Por conta destas investigações alguns militares foram punidos e expulsos, conforme a imprensa noticiou. Para Zaqueu, este era o resultado das escutas que ele solicitou”.

Contexto

Os grampos revelados em uma reportagem do Programa Fantástico, no dia 14 de maio, teriam atingido principalmente os adversários políticos do governador Pedro Taques (PSDB). Segundo a reportagem, o promotor responsável pela investigação do caso, Mauro Zaque, havia denunciado o caso ao governador. Mas, Taques nega que tenha sido avisado.

O coronel Zaqueu pediu demissão em janeiro de 2016, após um atrito entre a cúpula da Polícia Militar e o então secretário de Segurança Pública (Sesp), Mauro Zaque, que é o responsável por denunciar o suposto esquema de escutas ilegais, que monitorava números de diversas pessoas de relevância do Estado, incluindo a deputada estadual, Janaína Riva (PMDB).
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