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Juiz aponta que servidor desviou R$ 26 mil e ‘compra’ de progressão custava R$ 15 mil

Da Redação - Wesley Santiago

O juiz Geraldo Fidélis, da 2ª Vara de Execuções Penais de Cuiabá, foi quem denunciou o esquema de fraudes na progressão de pena de reeducandos em Mato Grosso. Um dos seus próprios funcionários de confiança (Pitágoras Pinto de Arruda) seria o braço da organização dentro da Justiça. Ao receber as denúncias, o magistrado descobriu desvios que teriam sido de R$ 26 mil e acionou o secretário de Segurança Pública (Sesp), Gustavo Garcia, para que as investigações fossem iniciadas. Ele também revelou que o pagamento para quem desejasse ‘comprar’ a progressão de pena seria de R$ 15 mil.

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“O Pitágoras trabalhou comigo durante sete anos, o conheci como estagiário. No fim do ano passado, teve várias faltas e problemas. Fiquei sabendo de um detalhe que ele entregou documentos para um bacharel em direito. Achei muito estranho, o chamei e disse para ele que perdi a confiança, pedi sua saída. Ele afirmou que a mãe estava doente e pediu para ficar até janeiro. Eu disse para que ele ficasse, mas não pisasse mais na 2ª vara”, comentou Geraldo Fidelis durante entrevista coletiva.
 
O magistrado ainda explica que, no início de março, a psiquiatra que presta serviços à Justiça foi receber os honorários pelos trabalhos realizados. Achando a situação estranha, a assessora do juiz o chamou com urgência ao gabinete. Quando ele chegou, ela estava com um documento em mãos, dizendo que o trabalho da profissional já havia sido pago.
 
“O que aconteceu é que este dinheiro não foi dado para a profissional contratada. O documento estava no nome da mãe do Pitágoras. Aquilo fechou o mundo para mim, foi um absurdo. Ele era uma pessoa de extrema confiança minha, o conhecia há sete anos. Mas eu tinha o dever de denunciar e na mesma hora entrei em contato com o secretário de Segurança Pública”, acrescentou o magistrado.
 
No dia seguinte, Geraldo Fidelis afirma que ficou sabendo que “que foram dez levantamentos ao todo de valores, totalizando R$ 26 mil saindo para a mesma fonte [em nome da mãe de Pitágoras]. Com todas as informações, informei a minha corregedora. Foi de maneira triste, mas necessária, era uma pessoa que eu confiava”.
 
“Um tempo depois, fiquei sabendo de uma denúncia grave envolvendo a questão de progressão de regime. Algo grave. Eles falsificavam os documentos para poder fazer esta progressão. O pagamento tinha o valor de R$ 15 mil e diziam que havia pessoas infiltradas na minha vara. Liguei as informações e já sabendo da questão do Pitágoras, resolvi novamente buscar a GCCO, que passou madrugadas analisando informações”, finalizou.
 
Regressus
 
A operação policial comandada pela GCCO cumpriu mandados contra o promotor de eventos Marcelo Rocha, conhecido nacionalmente como “Marcelo Vip”, e contra Márcio da Silva Batista, traficante de drogas com atuação no Rio de Janeiro conhecido como "Porquinho". Ambos teriam fraudado informações com o auxílio de Pitágoras Pinto de Arruda, servidor público da Vara de Execuções Penais, para conseguir remissão de pena. Marcelo é morador de Cuiabá e conhecido por realizar shows de rock na capital.
 
De acordo com as informações levantadas na investigações, o traficante e o promotor de eventos teriam conseguido diminuir pelo menos um ano de pena com informações falsas. Os mandados também são cumpridos em empresas, que teriam passado informações falsas ao Poder Judiciário.
 
A investigação é sedimentada em três inquéritos instaurados na Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), que apuram fraudes processuais para obtenção de progressão de regime, peculato e também lavagem de capitais de reeducandos que progrediram usando documentos falsos.
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