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Ex-secretário é denunciado por ameaçar delegado que o investigou nos grampos

Da Redação - Wesley Santiago

O ex-secretário de Segurança Pública (Sesp), Rogers Jarbas, foi denunciado pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso, nesta sexta-feira (13), pelo crime previsto no artigo 344 do Código Penal, que consiste em “usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral”. A pena prevista é de um a quatro anos de reclusão e multa.

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A denúncia refere-se a um fato ocorrido no dia 28 de março do ano passado, no interior de um supermercado de Cuiabá. Na ocasião, o acusado passou a monitorar o também delegado Flávio Henrique Stringueta, na tentativa de “mapeá-lo” em dois momentos. A vítima, conforme consta na denúncia, atuou como presidente dos autos de inquérito policial que culminou na Operação Esdras, que por sua vez resultou na prisão de Rogers Elizandro Jarbas.

Segundo o Ministério Público, após as tentativas de intimidação no interior do supermercado, o denunciado ainda procurou a vítima no estacionamento provocando uma discussão, chamando-o de “safado” e instando-o a resolver as coisas de “homem pra homem”. As imagens do circuito interno, de acordo com a denúncia, demonstram que a investida do denunciado Rogers teve requinte de premeditação.

A denúncia foi oferecida pela 19ª Promotoria Criminal de Tutela Coletiva de Segurança Pública da Capital.

O caso

A discussão entre os dois aconteceu em um supermercado, no bairro Jardim das Américas, no dia 28 de março. Na ocasião, segundo Stringuetta, ele estava passando as compras no caixa, quando Jarbas apareceu e o cumprimentou. O delegado terminou de pagar suas compras e foi em direção à sua moto no estacionamento. “Eu estava no caixa 9 e ele chegou no mesmo caixa que eu, lá são mais de 20 caixas, e todos eles tem atendente o tempo todo, então ele não precisava vir no caixa em que eu estava, ele fez questão”, disse Stringuetta ao Olhar Jurídico.

Delegados Stringuetta e Jarbas batem boca em supermercado de Cuiabá from Olhar Conceito on Vimeo.

 
As imagens mostram que Jarbas passa suas compras logo depois de Stringuetta e olha várias vezes para o lado onde o delegado saiu. Em seguida, ele deixa os produtos todos no caixa e segue em direção ao ex-titular da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCC).
 
Já no estacionamento, os dois parecem discutir por alguns minutos e Stringuetta chega a sair da moto e abrir os braços, enquanto que Jarbas fica com as duas mãos para trás.
 
No boletim de ocorrências registrado, Stringuetta afirma que Jarbas se mostrou mal-intencionado e provocativo. Relata ainda que foi chamado de covarde e mentiroso. O delegado explicou que tentou interromper a conversa, mas Jarbas continuou o ofendendo, chamando-o de safado e ainda disse que queria resolver “nosso problema de homem para homem, olho no olho”.
 
“Ele só ameaçou brigar, falou que queria resolver as coisas comigo como homem, deixou claro que queria resolver fisicamente”, disse Stringuetta. Ao final da discussão Rogers novamente disse que queria resolver tudo como homem, e pediu para o delegado marcar dia, hora e local. Stringueta não acredita que o ex-secretário estivesse sob o efeito de bebida alcoólica ou algum entorpecente.
 
Em uma nota, os advogados de Rogers Jarbas confirmaram o contato entre os dois delegados. Porém, afirmaram que o ex-secretário não ameaçou e não propôs confronto contra Stringuetta, que é apontado como quem propôs a briga. Por fim, lembraram que as medidas restritivas impostas pela justiça não impedem que Rogers Jarbas fale com Stringuetta.
 
Curiosamente, no mesmo dia, a delegada Ana Cristina Feldner, que era responsável por comandar a investigação dos grampos ilegais que teriam ocorrido em Mato Grosso, registrou um boletim de ocorrências contra a procuradora da República Samira Engel Domingues, esposa do ex-secretário de Segurança Pública, Rogers Jarbas. Segundo a denúncia, ela teria ameaçado e agredido a policial em um condomínio de luxo, localizado no bairro Jardim Itália, em Cuiabá.
 
Feldner foi a responsável por conduzir as investigações sobre os grampos ilegais que teriam ocorrido em Mato Grosso. Entre os investigados está o ex-secretário de Segurança Pública, Rogers Jarbas, acusado de tentar atrapalhar os trabalhos. Ele chegou a ser preso por decisão do desembargador Orlando Perri, na ‘Operação Esdras’. Porém, acabou solto depois por decisão do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

PAD

O juiz João Bosco Soares da Silva, da Décima Vara Criminal de Cuiabá, enviou cópia de investigação contra o ex-secretário de Segurança de Mato Grosso, Rogers Jarbas, para fim de instruir possível Procedimento Administrativo Disciplinar na Polícia Civil. Inquérito constatou, segundo o Ministério Público (MPE), que houve coação no curso de processo durante uma discussão de Jarbas com o também delegado Flávio Stringueta.

A decisão pelo compartilhamento de informações com a corregedoria da Polícia foi estabelecida no dia 18 de junho. Jarbas é acusado de forçar um atrito verbal com o delegado da Polícia Civil, Flávio Stringueta, no estacionamento de um supermercado, em Cuiabá.
 
O mesmo inquérito investigou suposto crime de ameaça praticado por Jarbas contra a também delegada da Polícia Civil, Ana Cristina Feldner, rusga ocorrida no condomínio residencial em que ambos residem. Porém, conforme divulgado, “não ressaíram, pelas investigações já realizadas, indícios da prática do crime de ameaça”.
 
Jarbas foi preso em 2017, na Operação Esdras, por suposta tentativa de atrapalhar as investigações sobre os grampos ilegais em Mato Grosso. Ele atuava como secretário de Segurança.

O suposto esquema de grampos também foi revelado em 2017, quando se descobriu que políticos, juízes, advogados, médicos e jornalistas foram interceptados de forma ilegal. O então governador de Mato Grosso, Pedro Taques,  acabou apontado como mandante dos Grampos.

Atualizada às 11h59.
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