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Notícias / Política de Classe

Em artigo, Mahon critica 'arrogância' de Maurício Aude

Da Redação - Renê Dióz

As primeiras declarações de Maurício Aude como presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso foram alvo de críticas da parte do advogado Eduardo Mahon, apoiador da derrotada chapa 2, encabeçada por José Moreno.

Em artigo publicado nesta segunda-feira, Mahon queixa-se da postura considerada arrogante de Aude, que apontou o resultado das urnas – ou seja, o voto da maioria – como prova cabal de que a classe dos advogados aprova plenamente o modo de gestão do grupo situacionista representado pelo candidato eleito (confira matéria aqui).

Em sua crítica, Mahon reconhece a necessidade de saudar o novo presidente, mas sugere que Aude preste-se a deixar de considerar sua votação como uma “resposta das urnas” e escute a “pergunta” advinda dos votos não destinados a ele. “Ignorou Aude e seu grupo hegemônico o que as urnas perguntaram e preferiu escutar apenas o aplauso”, aponta Mahon.

Confira abaixo o artigo na íntegra.

A pergunta das urnas

Todos os advogados, sem exceção, devem saudar o novo presidente eleito da instituição, Maurício Aude. Suas qualidades o ressaltam, conforme vimos na campanha; nome e discurso leve o precediam. É pena que, embevecido pela vitória, tenha claudicado em sua primeira declaração, em artigo escrito logo após o resultado. O presidente eleito escancara arrogância afirmando que o projeto encarnado por ele está correto, é mais coerente, é mais exequível, pelo sufrágio das urnas. Portanto, importa reconhecer apenas o que a maioria diz. A ovação tanto seduz como ensurdece.

Lamentavelmente, a gestão não entende que vem sendo reprovada por índices de 40 a 45% dos votos, de eleição para eleição. Essas vozes parecem insuficientes para serem ouvidas e a “resposta das urnas”, havendo vitória, é justificativa suficiente para não mudar. Ignorou Aude e seu grupo hegemônico o que as urnas perguntaram e preferiu escutar apenas o aplauso. Ignoraram milhares de jovens advogados, colegas do interior, do setor público e tantos outros da capital. O presidente eleito deixou passar uma oportunidade de ter a grandeza e humildade para abraçar plataformas alheias, preferindo afirmativas sobre o que ‘dá certo’, na própria ótica, como se fosse bom enxergar com um único olho.

Talvez Aude esteja certo numa constatação: o projeto da situação é mais coerente. Foi essa a palavra que marcou a campanha, por ressaltar uma diferença perceptível a olhos desarmados. De fato, indicar e apoiar em bloco um único candidato é muito menos traumático do que construir a oposição com vários ideais e posicionamentos diferentes. A oposição precisa aprender com Aude para não cometer os mesmos erros apontados por ele, porque parece que somente as urnas são capazes de dar respostas a esse grupo, de nada valendo as perguntas que pautam a campanha. O que o ‘magistério de Aude’ nos ensina a todos é formar coalisões coerentes, estáveis, duradouras e coletivas. É preciso ter modéstia para reconhecer essa grande lição que é lançada, entre bravatas, gritos e alguns discursos impublicáveis do alto de carros de som. É claro que a humildade deveria ser a mesma, ao estender a mão para todos os advogados e não para, neste momento, aplicar-lhes lição alguma. As arestas que surgem em declarações precipitadas e arrogantes são talhadas gratuitamente, o que prejudica a Ordem dos Advogados porque afastam muitas contribuições.

Num gesto de boa vontade, podemos compartilhar com o recém-eleito algumas de nossas ideias de modo que possa implementar a renovação que tanto promete: 1) fim da cláusula de barreira, a fim de garantir a integral participação do jovem advogado; 2) consulta direta na formação do quinto constitucional e das indicações em cargos públicos; 3) tomada pública de preços para a contratação de serviços e aquisição de bens; 4) desincompatibilização dos cargos nos seis meses que antecedem a campanha eleitoral; 5) aplicação do regramento eleitoral comum às eleições da própria entidade; 6) orçamento participativo em assembleias, abrindo a possibilidade para a consulta às subseções; 7) fiscalização real do ensino jurídico a coibir o estelionato educacional; 8) comitê para fiscalização da prestação jurisdicional com elaboração de relatório público a ser enviado ao TJMT e ao Conselho Nacional de Justiça; 9) Abertura de novas subseções do interior, considerando o crescimento da advocacia; 10) afastamento
cautelar imediato de cargos e funções de qualquer investigado, denunciado ou condenado criminalmente por atos ligados à advocacia ou, de qualquer forma, ao serviço público. Atendendo a esta pauta, nosso presidente eleito provará que representa renovação não só de nomes, mas de posturas. Quem sabe esse grupo eleito retorne a abraçar movimentos civis organizados de combate à corrupção? Aos milhares de advogados que se engajaram na oposição, conclamamos atender à lição de Aude: mais união e coerência. Como pontifica, o fratricídio pré-eleitoral “não dá certo”. Precisamos de uma proposta madura que ofereça alternativa exequível aos advogados que querem mudar e a outros tantos que precisam de segurança para dar esse passo. Somente então, poderemos realizar o que não conseguiram até hoje.

Eduardo Mahon é advogado.
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