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Quinta-feira, 28 de março de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

Rim usado em transplante é retirado por via vaginal

Pela primeira vez, cirurgiões da Johns Hopkins University, nos EUA, usaram a vagina como meio de acessar e remover um rim saudável de uma mulher de 48 anos e transplantá-lo em sua sobrinha. A cirurgia aconteceu no último dia 29. Ambas passam bem.


O procedimento representa uma nova utilização das chamadas cirurgias por orifícios naturais (Notes, na sigla em inglês), nas quais operações são feitas pela vagina, boca, uretra e ânus os dois últimos casos ainda em fase experimental.

Nesse caso, o rim sadio foi retirado através da vagina com a necessidade de pequenos cortes no abdômen e no umbigo. De acordo com os médicos americanos, o procedimento acelera a recuperação do doador e diminui as cicatrizes, o que pode encorajar potenciais doadores vivos de órgãos.

Para o cirurgião Ricardo Zorrón, professor associado da Universidade de Estrasburgo (França) e um dos pioneiros da técnica no Brasil, a Notes tem grande potencial para ser utilizada em transplante porque é mais rápida e minimiza os riscos pós-cirúrgicos do doador. "No transplante, o órgão não pode ser machucado. A via vaginal promove uma boa saída."

As menores cicatrizes podem beneficiar as pacientes. "É uma ideia interessante, principalmente pela questão estética. Mas alguns critérios precisam ser esclarecidos. Foi realizado em um grande centro de referência e provavelmente vamos discutir isso em encontros", diz a nefrologista Irene Noronha, coordenadora clínica do programa de transplante de rim e pâncreas do Hospital Beneficência Portuguesa.

Para o nefrologista José Medina Pestana, diretor do Hospital do Rim e Hipertensão da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e chefe da central de transplantes do Hospital São Paulo, a Notes pode trazer riscos à integridade do órgão a ser transplantado.

Medina acrescenta a cirurgia por orifícios naturais, para casos de transplante, oferece algumas limitações. "O procedimento não é indicado para pacientes obesos e para aqueles que já foram submetidos a outras cirurgias no abdômen", afirma o médico.

O nefrologista Luiz Estevam Ianhez, chefe do setor clínico da Unidade de Transplante Renal do Hospital das Clínicas, também não vê vantagens no Notes, pelo menos na área de transplante. "A laparoscopia já cumpre muito bem o seu papel e é muito difundida. É minimamente invasiva, não deixa cicatriz. Não vejo razão nenhuma para se pensar nisso [na utilização da Notes]", diz ele.

Atualmente, o transplante de rim intervivos pode ser realizado por lombotomia (corte na região lombar), que deixa cicatriz, e por videolaparoscopia, com um pequeno corte no baixo ventre, semelhante ao de uma cesariana, com recuperação mais rápida e menos dolorosa, mas com maior custo.

Experiência brasileira

No Brasil, aos menos 200 Notes já foram realizadas, o que coloca o país como o detentor do maior registro de casos em comparação com os EUA e a Europa, segundo Zorrón.

Ele afirma que as maiores vantagens dessa cirurgia são a recuperação mais rápida e um menor riscos de infecções. Em geral, os órgãos mais operados pela via vaginal são rim, vesícula e útero. Também estão sendo feitas biópsias de tumores na região vaginal. Já foram feitas cirurgias de redução de estômago pela boca.

Os médicos introduzem um endoscópio flexível (aparelho que faz uma inspeção visual do órgãos e o opera) e instrumentos especiais por meio de um corte de um centímetro no interior da vagina.

O aparelho é capaz de fazer curvas e percorrer todo o abdômen até chegar ao rim e à vesícula, por exemplo. A operação é feita com anestesia geral e dura 50 minutos. "É a terceira revolução da cirurgia. Primeiro foi anestesia, depois a videolaparoscopia e, agora, a cirurgia por orifícios naturais", diz Zorrón.

Na sua avaliação, as cirurgias por orifícios naturais podem vir a representar ganhos ainda maiores que os da laparoscopia. "Metade dos nossos pacientes não toma nenhum medicamento para dor após a cirurgia. O paciente que faz laparoscopia sempre tem uma restrição física, menor que a cirurgia aberta, mas que o obriga a ficar 15 dias sem fazer esforço. No Notes, em 48 horas o paciente pode ir trabalhar."

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