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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Brasileiros descobrem 'réptil' com cara de mamífero no Rio Grande do Sul

Há 230 milhões de anos, o território que hoje conhecemos como Rio Grande do Sul era um viveiro de cinodontes, estranhos seres peludos e reptilianos cuja linhagem daria origem aos mamíferos. E provavelmente nenhum era mais estranho que o Protuberum cabralensis, ou "Bolotudo", como a criatura foi apelidada pelos paleontólogos gaúchos que acabam de revelar sua existência à comunidade científica. As costelas do bicho terminavam em calombos que possivelmente o ajudavam a cavar tocas e/ou a se proteger de predadores.


"De fato, era quase uma carapaça, o que o torna bem diferente de todos os cinodontes conhecidos", contou ao G1 Marina Bento Soares, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Soares ajudou a descrever formalmente a nova espécie junto com seus colegas Cesar Leandro Schultz, também da UFRGS, e Míriam Reichel, que hoje é aluna de doutorado da Universidade de Alberta (Canadá).

A história da descoberta do bicho é tão peculiar quanto a anatomia dele. Os primeiros sinais de sua existência vieram em 1977, quando o padre Daniel Cargnin, entusiasta amador da paleontologia que morreu no ano passado, achou algumas costelas e vértebras esquisitas misturadas a outras espécies extintas de répteis. Em 1989, o religioso coletou mais material, parte de um esqueleto articulado e um crânio, no município de Novo Cabrais (daí o nome da espécie, cabralensis). O fóssil foi parar num museu, mas não chegou a ser estudado.

"O padre Daniel e o irmão dele eram paleontólogos amadores, viviam bisbilhotando afloramentos de rocha e trazendo muitas dicas para nós", diz Soares. "O material do cinodonte não estava preparado [os pesquisadores precisam limpar cuidadosamente as rochas em volta do fóssil para poder examinar sua anatomia]. Foi a Míriam que decidiu dar atenção a isso e estudou o material durante seu mestrado", explica ela. Reichel também é responsável pelo apelido de "Bolotudo", epíteto que a reconstrução do animal, feita por ela e mostrada acima, justifica um bocado bem.

Além da morfologia única nas costelas e nas costas, o animal também apresentava uma espécie de carapaça no teto do crânio, o que pode reforçar a idéia de que ele tinha adaptações únicas para viver debaixo da terra. "As marcas de inserção dos músculos no esqueleto dele também indicam que era um animal bem robusto. Não encontramos as patas, cujas garras normalmente indicam com clareza o hábito de cavador, mas parece bastante provável", afirma Soares.

Em tamanho, a paleontóloga afirma que o animal se aproximava de um cão da raça labrador de hoje, com pouco mais de 1 m de comprimento. Membro do grupo de cinodontes conhecido como traversodontídeos, muito diversificado há 230 milhões de anos, o bicho certamente era herbívoro, tal como seus parentes mais próximos, e provavelmente tinha ao menos alguns pêlos no corpo, bem como sangue quente.

Apesar da semelhança com os mamíferos de hoje, Soares explica que os nossos ancestrais diretos eram cinodontes de outra estirpe, bem menores e comedores de insetos. O P. cabralensis viveu durante o auge dos cinodontes, no chamado Triássico Médio; há cerca de 200 milhões de anos, quando o Triássico acabou, uma onda de extinções praticamente varreu esses bichos do mapa, deixando apenas duas famílias de cinodontes para contar a história. Os únicos parentes do grupo vivos ainda hoje são mesmo os mamíferos.
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