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Sábado, 20 de abril de 2024

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Explosões de veículos Vectra não motivam GM a recall

Sete casos de explosões de modelos Vectra, da General Motors do Brasil, sendo dois deles em Mato Grosso nos últimos nove anos, ainda não sensibilizaram a montadora norte-americana a realizar um recall. Em quatro desses acidentes, os veículos explodiram sem nenhum motivo aparente. Num deles, ocorrido em agosto de 1999, próximo ao município de General Carneiro, na BR-070, morreram quatro pessoas, sendo três da mesma família, todas carbonizadas.


Os familiares de Antonio Salvino Pedemonte Araújo, Heronildes de Aquino Araújo, Ítala Pedemonte Araújo e Maria Dometila Pinto Gusmão entraram na Justiça para provar que a explosão ocorrera por falha na fabricação do veículo. A condenação da GM aconteceu oito anos depois pela juíza Amini Haddad Campos, da 9ª Vara Cível de Cuiabá. A sentença obriga a montadora a indenizar os parentes das vítimas e determinou que a GM deveria comunicar o consumidor sobre os riscos com o modelo Vectra.

A empresa recorreu ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso da condenação, ocorrida em julho do ano passado. Mas o Ministério da Justiça, por meio do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, e com base na própria sentença da juíza, cobrou da GM a realização de um recall e depois abriu procedimento administrativo para apurar a sua não-realização.

A preocupação do Ministério da Justiça é também com as ocorrências dos outros seis casos de acidentes em que o Vectra pegou fogo, sendo que quatro deles em circunstâncias idênticas ao que matou os membros da família Araújo: os veículos pegaram fogo sem qualquer motivo aparente. Os casos foram relatados à Associação Brasileira de Vítimas de Acidentes de Trânsito.

Semelhanças

Um deles aconteceu em Natal (RN), noticiado pelo Diário de Natal no dia 5 de dezembro de 2006: “Duas ocorrências na mesma hora movimentaram as equipes do Corpo de Bombeiros Militar no início da tarde de ontem. A primeira ocorreu por volta das 13h40, quando um veículo modelo GM Vectra com placas de Natal pegou fogo na Avenida Alexandrino de Alencar, no Barro Vermelho. O carro começou a pegar fogo a poucos metros de distância do Quartel do Corpo de Bombeiros, que fica na mesma avenida do incidente. A viatura dos bombeiros chegou em dois minutos, mas mesmo assim o carro já havia sido quase todo queimado. O proprietário afirmou aos policiais, que estava dirigindo normalmente quando começou a sair fogo do motor. Só tempo de sair do carro.”

Outro caso, desta vez em Belo Horizonte (MG) e noticiado pelo Portal Terra no dia 31 de maio do ano passado: “Um veículo modelo Vectra pegou fogo na avenida Afonso Pena, próximo à rua da Bahia, no Centro de Belo Horizonte, às 17h do último sábado. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o motorista conseguiu sair a tempo e ninguém ficou ferido. Eles ainda não sabem qual foi a causa do incêndio.”

Uma terceira ocorrência foi relatada pelo proprietário do veículo, em e-mail à Associação Brasileira de Vítima de Acidentes de Trânsito. Antônio Carlos Poletini, então secretário de Planejamento do município de Joinville (SC), relatou: “No último dia 22 de junho de 2008, estava viajando com minha família de Jaraguá do Sul a Joinville, em Santa Catarina, quando meu carro VECTRA 2007 travou o motor.

Quando consegui estacionar no acostamento, percebi que já havia fogo no motor e que se alastrou rapidamente por todo o carro. O desespero foi muito grande, pois a minha filha só tem 9 anos. Esse fato gerou muito medo e stress. As revisões do veículo estavam rigorosamente em dia. Quero acionar a montadora, pois entendo que a situação poderia ter sido pior, trazendo prejuízos impagáveis para a minha vida.(...)”

Mais um sinistro, desta vez no dia 24 de julho de 2008, em Três Lagoas (MS), ocorrido na Rua das Marias, Parque São Carlos, conforme reportagem da TV Morena: “Um bebê de seis meses sofreu ferimentos graves na manhã desta quinta-feira (24) após o carro em que estava pegar fogo na garagem da casa de seus pais em Três Lagoas, distante 324 quilômetros de Campo Grande.

A mãe da criança, Lucinéia Rodrigues da Silva Santos, agiu rapidamente e conseguiu salvar a vida da filha. Ela abriu a porta do veículo e tirou o bebê do banco traseiro do automóvel.

De acordo com informações da polícia do município, Lucinéia chegou em sua residência e entrou com o carro Chevrolet Vectra, placa CEG 0345, na garagem. Ela desceu do veículo e foi em direção à porta de entrada da casa, deixando a criança acomodada no banco traseiro do automóvel. Neste momento, o incêndio, cujas causas ainda não foram identificadas, começou e o fogo rapidamente se alastrou. Ao perceber o fato, a mãe correu para o carro e salvou a filha. O fogo consumiu todo o veículo e se alastrou pela garagem do imóvel”.

Nos outros dois casos, os veículos modelo Vectra incendiaram após colisões. Um deles aconteceu no Pará, quando cinco membros de uma mesma família, que estava no Vectra, morreram carbonizados, e o outro também em Mato Grosso, mais precisamente em Poconé, onde três pessoas morreram, uma delas carbonizada.

O caso do Pará ocorreu no dia 28 de julho de 2008 e foi noticiado pelo Jornal O Liberal: “O último domingo de julho foi marcado pela violência nas estradas do Pará, terminando com nove mortos. Na PA-324, uma colisão entre dois veículos terminou com oito mortos, cinco deles passageiros de um dos carros, que explodiu depois da batida. Na BR-316, outra colisão deixou passageiros presos entre ferragens e fez uma vítima fatal. De acordo com o relato dos oficiais do 5º Subgrupamento do Corpo de Bombeiros, em Capanema, que atenderam à ocorrência na PA-324, o Vectra de placa JUX-2702, de Ananindeua, e o EcoSport de placa JUY-1471, de Marituba, se chocaram, aparentemente depois de uma tentativa de ultrapassagem em local proibido empreendida pelo EcoSport. 'O EcoSport estava na contramão e o Vectra no acostamento, pelo que deduzimos que houve uma tentativa de ultrapassagem', afirmou o cabo BM Amorim. O Vectra explodiu imediatamente e os cinco passageiros - uma família, incluindo pelo menos uma criança - morreram carbonizados(...)”

Em Poconé o acidente aconteceu no dia 10 de agosto, também do ano passado, na Rodovia MT-060. A TV Centro América noticiou: “Três pessoas morreram neste acidente na MT-060, rodovia que liga Várzea Grande a Poconé.

Uma caminhonete bateu de frente com um automóvel Vectra. Com o impacto, de acordo com a Polícia Civil da cidade, os veículos explodiram. Ainda segundo a polícia, o acidente aconteceu na tarde de domingo em um trecho distante cerca de sete quilômetros da entrada da cidade. Um policial civil disse ao site da TV Centro América que no local do acidente havia dois corpos. Só que uma terceira pessoa foi encontrada carbonizada(...)”.

Sem resposta

A reportagem do Olhar Direto entrou em contato com as assessorias Jurídicas e de Imprensa da General Motors. A Assessoria Jurídica prometeu retornar, mas não o fez até hoje. A Assessoria de Imprensa, por meio do jornalista Carlos Augusto de Souza, atendeu a reportagem, mas pediu que as perguntas fossem enviadas por e-mail. 

Foi enviado a seguinte mensagem:


“Ao jornalista Carlos Augusto de Souza
Assessor de Imprensa da GM
Prezado colega:
Conforme contato telefônico (...), estou fazendo uma
reportagem sobre o caso da explosão de um Vectra aqui em Mato Grosso em
1999, fazendo quatro vítimas fatais, o que resultou na condenação, em
primeira instância, da montadora, por a Justiça considerar que houve falha
na fabricação do veículo.
E com base nessa condenação, foi ainda exigida, pelo Ministério da Justiça,
em julho de 2008, um recall dos veículos do mesmo modelo para verificação
do problema, o que não ocorreu até o presente momento. 

Seguem as perguntas solicitadas: 

1 - Por que a GM ainda não acatou a determinação da Justiça e do Ministério
da Justiça para realizar o recall com base na constatação de que há erro na
fabricação do veículo, o que pode ter ocasionado a explosão?
2 - Por que a GM constituiu um advogado que é o mesmo da seguradora? Isto
não é permitido nem pela OAB nem pela Justiça. A companhia tem ciência que seu representante está cometendo um crime?
3 - Há suspeitas de que a GM, por meio de uma perícia contratada, inseriu
fotos sete anos após o ocorrido, o que se materializaria como ter ocultado
provas, o que também pode ser constituído como crime. A montadora tem
ciência disso?
4 - A GM foi condenada a tornar público o caso, como alerta aos
proprietários do modelo Vectra. Por que não o fez ainda, seis meses depois
da condenação? A montadora, obviamente, tem direito a recurso, mas não
seria o caso de atentar para a segurança de seus consumidores, mesmo
colocando em dúvida se houve ou não problema na fabricação?
5 - A GM tem conhecimento de que existem mais seis outros casos de explosão do modelo Vectra em condições semelhantes ou parecidas com a do sinistro de 1999?
6 - Seria possível nos informar quantos recalls e seus objetivos a GM
realizou nos últimos dez anos?
Por enquanto são estas as perguntas.
Agradeço a sua atenção e fico no aguardo das respostas.
Abraços.”

Quase três semanas depois, o assessor envia o seguinte e-mail: 

“Caro Repórter do site Olhar Direto. Em relação à sua pauta
abaixo temos a transmitir-lhe o seguinte: ‘O referido caso está sob a
apreciação da Justiça e a GM do Brasil respeitará, como sempre fez, a
decisão final dos Tribunais Brasileiros’. Se possível confirme o
recebimento desta mensagem. Grato e abraço.”

A reportagem retornou: 

“Obrigado pelo retorno, Carlos, mas eu insisto: já que a GM sempre respeita a decisão dos Tribunais Brasileiros, por que ainda não acatou a decisão da 9ª Vara Cível de Cuiabá, de, por exemplo, tornar público o caso envolvendo o Vectra?
É óbvio que o caso está em grau de recurso, mas o que se nota é uma grande falta de preocupação da GM com uma situação que pode estar colocando em risco a vida de usuários de seus produtos. Ou podemos afirmar - a GM afirmaria? - que não há risco nenhum e que os outros seis casos, mais este de Mato Grosso, são apenas coincidências?
Gostaria de reforçar a última pergunta do email anterior:
- Seria possível nos informar quantos recalls e seus objetivos a GM
realizou nos últimos dez anos?

E acrescentar mais uma: 

- Qual critério a GM utiliza para convocar recall? Como ela verifica essa possibilidade? Pelo seu próprio controle de qualidade? Por um certo número de ocorrências sobre problemas em determinadas peças ou mecanismos, verificadas nas oficinas de suas concessionárias? Ou por condenações na Justiça?
Creio que essas últimas perguntas não estão especificamente no âmbito do caso em questão e poderia ser muito bem respondidas, até porque a empresa dever ter sua preocupação com a transparência.
Mais uma vez obrigado por sua atenção.
Abraços.”
Ainda não houve retorno.
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