ESTEJA PRONTO PARA O LAMBADÃO (Wilson Cigano) Em Cuiabá, Várzea Grande e demais municípios da baixada cuiabana, quem dita o consumo musical do povo é o Lambadão O Lambadão é o ritmo de Mato Grosso. Assim como no Rio de Janeiro o funk domina os bailes e, no Recife, o brega cumpre esse papel. Na capital, Cuiabá, e demais municípios da baixada cuiabana, quem dita o consumo musical do povo é o Lambadão, com batida acelerada, feita com sons contagiantes. São mais de 100 grupos, que movimentam uma indústria paralela à das grandes gravadoras, inserindo artistas, músicos, técnicos e inúmeros outros profissionais no mercado de trabalho. Sem contar com grandes estratégias de publicidade ou de divulgação na mídia, o Lambadão conquista aos poucos sua fatia. O rádio, com seu forte apelo popular, não funciona como um dos principais canais de comunicação do Lambadão. Os programas não tocam o Lambadão por pura discriminação a uma cultura da população mato-grossense em desintonia com o que é ouvido nas ruas e casas de shows. Um dos principais expoentes do ritmo é a Banda Erre Som, banda que teve uma projeção nacional por meio do projeto Brasil Total, da atriz e produtora Regina Casé e do antropólogo Hermano Vianna. As bandas de Lambadão não têm recursos para pagar o jabá das rádios e terminam contando com os camelôs, que prensam os CDs e DVDs, fazem a capa e distribuem o produto. Essas bandas de Lambadão acabam estourando e ganhando dinheiro. Mesmo com CD e DVDs lançados, a mídia mais importante para as bandas de Lambadão é a pirataria, esses CD e DVDs são entregues aos camelôs que espalham essas músicas pelas cidades. Como não desperta o interesse de grandes gravadoras, o Lambadão tem na pirataria o seu grande trunfo. São os camelôs, que prensam os CDs e DVDs, fazem a capa e distribuem o produto, fazendo as bandas “estourarem”. O lucro dos artistas, portanto, provém dos shows. “A renda da gente vem de show.”, diz Andrezinho 10, vocalista da Banda Os Indomáveis. “O Lambadão fica mais forte a cada dia, está em todo lugar. A classe média, esta tendo que aceitar por mais que seja difícil para a elite aceitar uma coisa que ela não tem controle”, analisa o produtor musical Cleyton Barros. Para ele, o Lambadão é como o rap, o reggae e o funk: mesmo discriminados, são ritmos que estão sempre na ativa. “Quando furarmos o bloqueio, seremos febre nacional”. E não há dúvidas de que a temperatura está subindo cada vez mais. O Lambadão, assim como o funk e o brega, permite o desenvolvimento de uma cadeia produtiva auto-suficiente, à parte da economia oficial, que não depende dos grandes esquemas de divulgação das gravadoras para dar certo. É mercado paralelo que, cada vez mais, sai da periferia e mostra sua força. Uma grande vitória do Lambadão no tocante à sua inserção como força viva da cultura mato-grossense ocorreu na Eleição para prefeito de 2008. O candidato do PSOL adotou um Lambadão como jingle de campanha, resultando em um sucesso estrondoso, pois, foi a primeira vez que o Lambadão saiu apenas da periferia e pirataria e tocou em todas TVs e Rádios, invadindo o horário nobre e atingindo todas as classes sociais. O sucesso do Lambadão como jingle político foi tão grande que, no segundo turno, o candidato do PSDB, que tinha contratado o forrozeiro Dominguinhos para cantar seu jingle, fez uma nova versão de seu jingle no ritmo de Lambadão. O ponto máximo ocorreu às vésperas do segundo turno quando os candidatos do PSDB e do PR utilizaram o mesmo jingle no ritmo de Lambadão. Agora, o Lambadão começa a viver um novo momento, com a união de artistas, músicos, técnicos e outros profissionais, na busca de inserção junto às políticas públicas de incentivo à cultura que sempre lhe foram negadas. O Lambadão é um exemplo grandioso da força das manifestações culturais do povo mato-grossense, sem nenhuma espécie de incentivo do poder público dita o consumo musical do povo, recebendo incentivos do poder público, com toda certeza, seu sucesso transbordará as fronteiras de Mato Grosso.