A Justiça decidiu essa semana mandar a júri popular Lindemberg Alves, acusado de matar com dois tiros a jovem Eloá Pimentel, de 15 anos. Durante cinco dias, ela ficou na mira de Lindemberg dentro de um apartamento em Santo André, na Grande São Paulo. A reportagem do Fantástico conseguiu entrar no local do crime, um imóvel de um conjunto habitacional, e teve acesso, com exclusividade, às fotos feitas pela perícia.

Com base nos depoimentos dados esta semana e nas análises técnicas feitas pela polícia, o promotor encarregado do caso, Antônio Nobre Folgado, não tem dúvida: Lindemberg agiu com intenção de matar.

O apartamento, de 44 metros quadrados, foi desocupado pela família após o crime. As marcas da violência permanecem: as portas dos quartos arrebentadas a chutes; e uma flecha desenhada por um perito mostra um dos tiros disparados pelo motoboy.

O promotor explica cada uma das marcas. "Tem um tiro na parede, da espingarda do pai [de Eloá]. Ele estava mexendo e ocorreu um disparo acidental. Outro disparo que ele atirou propositalmente na parede para assustar as meninas lá dentro", diz Antônio Nobre Folgado.
A invasão do apartamento pela polícia e os últimos momentos de Eloá foram revividos pela perícia em novembro. Fotos da reconstituição do crime foram anexadas ao processo e não tinham sido mostradas até agora.

Nayara, abalada, pediu para não participar. Ficou ao lado do promotor enquanto investigadores da Polícia Civil faziam o papel das vítimas e de Lindemberg. A sobrevivente contou em detalhes como foram os últimos momentos da melhor amiga. Lindemberg havia empurrado uma mesa para a porta e a polícia invadiu o apartamento.

"A última imagem que ela tem dele é ele com o revólver na mão. Ela puxa o edredom e se vira para o lado, deitada no chão. Eloá está no sofá, no lado esquerdo dela", reproduz o promotor. Lindemberg dá alguns passos e procura abrigo atrás de uma parede. "Lindemberg anda até a região do corredor. Ele se abriga dos disparos que porventura seriam efetuados pelo Gate, ele protege sua vida."

Quatro segundos depois da invasão, Lindemberg começa a atirar. "Se ele quisesse, poderia ter se entregue, poderia ter se abrigado e jogado a arma e levantado as mãos. E as meninas estariam vivas hoje. Ele não fez isso", comenta o promotor.

Ao contrário. Lindemberg disparou três vezes. A prova: marcas de pólvora, na parede e na cortina. Eloá recebe dois tiros fatais. Nayara, que estava um pouco mais distante, é atingida uma vez no rosto.

O promotor vai pedir a condenação de Lindemberg por homicídio duplamente qualificado, duas tentativas de homicídio - contra Nayara e contra um policial -, cárcere privado e disparos de armas de fogo. Crimes que poderão deixar Lindemberg na cadeia pelos próximos 30 anos. Ele, que falou muito antes de matar Eloá, agora prefere o silêncio.

Tapas e chutes

Caminhando pelo apartamento vazio, não é fácil imaginar como foram as horas de terror a que foram submetidas as duas meninas - Eloá e a amiga Nayara. Transtornado, Lindemberg ameaçou Eloá o tempo todo.

"Ela sofreu muito antes de morrer. Ela foi agredida fisicamente com tapas no rosto, chutes nas pernas, puxões de cabelo, e psicologicamente, para ela foi uma tortura - a ponto de em uma oportunidade implorar para o Lindemberg matá-la. Ele fica sem saber o que fazer, agarra a Nayara, aponta um revolver para cabeça de Nayara e fala: 'Se você não ficar quieta eu mato a Nayara aqui'. Ela se acalma e depois eles vão dormir. Isso, se não me engano, foi na noite anterior da morte dela", aponta o promotor Antônio Nobre Folgado.

Era da janela de uma pequena cozinha que Eloá aparecia durante os cinco dias de cativeiro para conversar e negociar com os policiais, e também para acalmar a família e receber alimentação por meio de uma corda improvisada. E foi dali também que ela foi vista com vida pela última vez.