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Na ausência do Estado, moradores ‘são’ as leis e fortalecem auto defesa em período de guerra por resistência

16 Dez 2012 - 17:30

Da Reportagem local - Lucas Bólico e Renê Dióz - enviados especiais a Estrela do Araguaia (Posto da Mata)

Foto: José Medeiros/ Olhar Direto

Na ausência do Estado, moradores ‘são’ as leis e fortalecem auto defesa em período de guerra por resistência
Não existe um policial sequer em Posto da Mata (Estrela do Araguaia), no nordeste de Mato Grosso. Também não existem médicos. Nem saneamento básico ou fornecimento de água. O distrito ‘tem’ duas prefeituras (Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia), mas parece ‘descolado’ da pátria brasileira. O poder público ainda não chegou.


Estrela do Araguaia, até pouco tempo atrás, contava com dois policiais civis e uma escrivã, mas todos saíram do distrito após a decisão que determinou a desintrusão de não-índios do local, em operação iniciada na segunda-feira (10).

Da delegacia só sobraram escombros. Os próprios moradores quebraram a estrutura, mas sem arrependimento algum, pois explicam que a própria comunidade é que construiu a estrutura. O medo era que as forças policiais usassem o local como base.

Agora, a mando do delegado regional lotado em Porto Alegre do Norte, o ponto é protegido por Rivaldo Mariano, 32 anos, que se sente o xerife da área. "Doutor Ronan que mandou eu ficar cuidado. Eu que rocei tudo aí ao redor. Ele pediu que ninguém entrasse aqui dentro. Eu venho e aviso para os caras não entrar", explica. Questionado sobre como procede caso alguém insista em ocupar a estrutura em ruínas, Rivaldo manda o recado: "Aí a gente vê se o cara é forte mesmo, se ele é potência".


José Medeiros / Olhar Direto


“Aqui nunca teve polícia, não. Quando acontecia alguma coisa ai era o povo mesmo que prendia [o suspeito]”, declara dona Helena Maria de Jesus. A saúde também é precária. A única ambulância que transita no distrito é privada, propriedade do fazendeiro local Antônio Mamed Jordão, conhecido como ‘Alemão’. O povoado conta apenas com um posto de saúde, conta com uma enfermeira.

“Se aqui você quebrar um pé, amigo, como aconteceu comigo, eu fiquei dois dias pra ser engessado. Eu fui pra Alto [Boa Vista] e de Alto fui pra São Felix [do Araguaia] e depois fui pra Confresa. Dois dias. 700 e poucos quilômetros. Não tem uma ortopedia. Que covardia, o cara tem que ter uma saúde de ferro pra morar aqui”, afirma Alemão, durante uma volta por sua propriedade.


José Medeiros / Olhar Direto



A ausência do Estado fez com que a própria população reclamasse para si os poderes de direção coletiva. “Aqui não tem lei, né? Aqui não tem delegacia, quando tinha delegacia não se atuava tanto e quem fez o prédio da delegacia foi o povo. Quem fez a energia foi o povo, então o povo é quem fez tudo aqui. O povo que faz. O povo aqui tem as falhas, mas é trabalhador”, defende Jordão, dono de uma das maiores fazendas da região.

E aquilo que tinha potencial para o surgimento de um poder paralelo acabou ganhando contornos mais fortes agora. Além da necessidade de organização básica, os moradores, que vivem um momento de guerra pela resistência na área, tiveram de se estruturar em núcleos mais específicos e estratégicos.

O número de lideranças emergentes, no entanto, é grande, levando-se em conta a população local. A ausência de centralização da tomada de decisões faz com que não haja planejamento ou consenso nas as ações tomadas neste momento de ‘luta’.


José Medeiros / Olhar Direto


Muito se falava - nas conversas informais pelo distrito desde que a desintrusão começou - em queimar pontes. Na manhã deste sábado (15), quando o tráfego foi liberado na BR 158, um caminhão caiu. A estrutura da ponde havia sido destruída, suspeita de sabotagem. Rapidamente os moradores começaram um ato de mobilização para reconstruir a ponte e negam que tenham sido os autores do atentado.

A ausência de policiamento em tal ambiente só acirra os ânimos. Durante momentos de maior tensão, os caminhoneiros usaram as câmeras de televisão para fazer um apelo pela vinda da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para a região. As estradas acabaram sendo liberadas brevemente, mas a PRF ainda não chegou.

Os únicos policiais na área são os da Força Nacional de Segurança (FNS), Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal instalados próximos ao Posto da Mata e escalados para a operação de desintrusão.

De acordo com a assessoria de imprensa da PRF, no entanto, o quadro no distrito está prestes a mudar. Os policiais já possuem autorização superior para encerrarem o bloqueio da rodovia que dura mais de uma semana.
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