Um jovem mudo e deficiente auditivo foi detido no último domingo (23) na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, e encaminhado à Polícia Federal por suspeita de tumulto durante o vestibular para o curso de graduação em Letras-Libras. Mateus Magno Silva, de 19 anos, informou ao Olhar Direto que percebeu falhas de acessibilidade na prova elaborada pela instituição e decidiu tentar convencer os demais candidatos a abandonarem o teste e acabou retirado pelos seguranças da instituição.
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Nesta segunda-feira (24), um grupo de 15 deficientes surdos e mudos, acompanha pelo Coordenador de Educação Especial da Área Surdez da Seduc, Riguel Brum, buscou o Ministério Público Federal (MPF), para registrar um termo de declaração sobre o fato. O documento com o relato do grupo será distribuído para um procurador da Justiça que deverá apurar o caso.
A limitação ao acesso dos intérpretes está entre as principais queixas feitas pelo rapaz. Segundo Mateus, a coordenação do vestibular determinou que os intérpretes traduzissem apenas uma palavra caso algum candidato não entendesse. Medida que de acordo com ele restringia a compreensão da prova.
“Os ouvintes não respeitam a cultura surda e muda. A nossa primeira língua não é o português é a línguas de sinais, por isso, nós entendemos o português de uma forma diferente”, declarou Mateus ao Olhar Direto com a ajuda de um intérprete. Ainda conforme ele, a prova até poderia ser elaborada em português, desde que um profissional fizesse toda a tradução.
O jovem também apontou que houve abuso na abordagem dos seguranças da UFMT. Segundo o relato de Mateus, logo quando percebeu o problema na aplicação da prova ele se levantou e questionou os fiscais. Em seguida tentou alertar os demais concorrentes sobre a falha.
“Estava angustiado e quis avisar os outros sobre o descumprimento dos nossos direitos, mas fui retirado da sala. Então entrei nas outras salas e alertei que se eles quisessem poderiam parar a prova, pois tinha o direito”, apontou. Com essa atitude, o jovem foi abordado por três seguranças da instituição e levado para o saguão do Instituto de Linguagens da UFMT. Seus pais tomaram conhecimento do fato e compareceram na coordenação de vestibulares juntamente com Mateus.
Depois de a situação ter sido acalmada, o rapaz conta que ao sair da sala da coordenação estavam os seguranças da instituição acompanhados por dois Policias Militares. Ele e seus pais foram encaminhados à PF.
No local, mais uma vez, o jovem passou por transtornos, pois não havia um intérprete para decifrar seus sinais. Acionado, o profissional chegou e Mateus conseguiu relatar o episódio e foi liberado pelo delegado.
Acessibilidade
Entre as pessoas que buscaram o MPF está Elizabet Umbelinu, mãe do candidato João Paulo Umbelinu. O jovem apresentou problemas de surdez antes de desenvolver a fala. João Paulo chegou a fazer a prova, porém, sentiu dificuldade por não compreender a língua portuguesa.
De acordo com Elizabet, o concurso já começou errado. “Se a instituição não está preparada nem para fazer o vestibular imagine o curso?”, questiona.
Processo seletivo
A instituição recebeu 56 inscrições para o certame. Desses, apenas 35 compareceu a prova. Por meio de nota, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) declarou que não recebeu qualquer notificação do Ministério Público a respeito do Processo Seletivo Específico para Ingresso no Curso de Graduação em Letras- Libras.
A instituição também informou que todas as normas constam no edital, por escrito e no edital em linguagem de sinais (em vídeo), disponíveis no link http://sistemas.ufmt.br/ufmt.ingresso.libras2014, no Portal da UFMT.
A Pró-Reitoria de Ensino de Graduação da UFMT frisou que não recebeu qualquer contestação ao edital. Afiança ainda que o processo seletivo foi executado exatamente como estabelecido nas normas publicadas. Esta é a primeira vez que o certame é realizado pela UFMT.