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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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crise e amnésia

Professora do Estado se afasta por problemas psicológicos causados com rotina escolar

Professora do Estado se afasta por problemas psicológicos causados com rotina escolar
“No final do ano, já com as aulas bem no fim, eu tive uma crise dissociativa e amnésia. Eu não conseguia mais ler, eu não dava conta”, desabafa a professora da rede estadual Ana Clara Guimarães*. A profissional da educação se afastou do cargo de professora de sociologia na escola onde trabalhava por conta de um esgotamento de sua saúde mental.


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Ana Clara conta ao Olhar Direto que somente após muitas dificuldades conseguiu retomar a leitura, mas que não tinha alguma ideia do que estava de fato lendo. Ela explica que mesmo com a chegada do namorado em sua residência não foi possível resolver a situação de imediato. Ela tentava falar e ele completava seu raciocínio.

O acontecimento foi determinante para que ela fosse procurar ajuda profissional, em específico um psiquiatra. Segundo seu médico, o episódio em questão se deu por conta de um estado de estresse tão grande a ponto de seu corpo mandar uma espécie de aviso para que ela se afastasse daquilo que lhe faz tão mal.

Professora de sociologia há sete anos, Ana Clara tinha ao todo 20 turmas em uma única escola e, durante alguns dias da semana, chegava a ter uma jornada de oito aulas. Os problemas começaram entre agosto e setembro, com ataques de pânico que se tornaram diários com o passar do tempo. “Vem aquela sensação de que parece que você é invisível e que você não vale coisa alguma”, desabafa.

“Eu comecei a sentir muita pressão e o desgaste no cotidiano. Parece que foi um momento em que eu não estava mais aguentando aqueles problemas que iam acontecendo, somada a outras coisas, como perseguição política, partindo de algumas alunas”, completa.

Os colegas de trabalho, como conta Ana, chegaram a perceber os problemas que ela estava passando porque era comum vê-la chorando pelos corredores da unidade escolar. Alguns até mesmo sugeriram para que ela fosse atrás de algum profissional, mas Ana explica que optou por não procurar ajuda naquele momento para não deixar seus alunos sem professor. Por se tratar de ano eleitoral, a partir de junho a escola não poderia estar contratando um substituto.

A busca por ajuda se deu por ela mesma. O Estado de Mato Grosso, de acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), Valdeir Pereira, não disponibiliza qualquer suporte neste sentido aos profissionais da educação. “O estado é omisso”, declara o presidente em entrevista ao Olhar Direto.

“Infelizmente, o afastamento dos servidores é uma consequência das condições precárias de trabalho. São somativas que a gente sempre trata. Quando vai se agravando os problemas e a impotência de resolver por parte do servidor, aí acaba tendo afastamento, depressão, e em alguns casos até mesmo suicídio”, explica.

Ana Clara acredita que o estado deve prover suporte aos professores e alunos quanto a problemas psicológicos causados por conta da rotina escolar. “Tem que ser repensado tudo porque essa questão é uma consequência da estrutura da educação, que é falha e falida. (...) Não tem suporte nenhum. Não tem assistência social na escola, não tem psicólogo, não tem nada. Se a gente não tiver dinheiro para pagar um psicólogo ou psiquiatra, você continua indo doente”.

Por meio de nota ao Olhar Direto, a Secretaria de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT) esclarece que existe uma equipe psicossocial que atende os profissionais da educação quando acionada pela escola. “Ocorre quando o servidor apresenta casos como quadro de tristeza profunda ou comportamento inadequado para o ambiente de trabalho”, explica.

A secretaria ainda afirma que não faz os tratamentos, mas orienta o servidor procurar um médico que irá indicar o afastamento, fazendo o acompanhamento da rede e monitoramento no sistema de Gestão de Pessoas (GPE) do período em que o profissional ficará em tratamento.

Indisciplina nas escolas

A indisciplina dos alunos é um dos fatores que também contribuem para os problemas despontados nos professores. Na última quarta-feira (27), uma estudante de 36 anos foi detida após ofender uma professora e arremessar seu celular na cabeça de um segundo professor, que também é policial civil.

Segundo informações do boletim de ocorrência, a aluna teria se irritado com a professora porque não havia lançado sua nota no sistema, que estava em manutenção. A estudante começou a proferir palavras de baixo calão e quando o professor policial interviu, dando voz de prisão, ela teria arremessado um celular em sua cabeça. O caso ainda está sendo apurado pelas autoridades.

Valdeir Pereira defende que é competência das gestões educacionais evitar com que tais problemas se agravem. “A peça chave desse processo é uma gestão que quando está antenada ao problema social que é a violência, ela estando presente dentro da escola, e a tratativa que ela dá a isso”.

O presidente da Sintep recomenda que em casos mais extremos de indisciplina, que configuram crime, o professor procure a Policia Militar e seja feito um boletim de ocorrência, se tratando de alunos maiores de idade. Para alunos menores, é recomendado procurar o Conselho Tutelar ou o Ministério Público da Infância e da Juventude para intervir de alguma forma.

Confira a nota da Seduc na integra abaixo.

Em relação aos casos de afastamentos de professores por problemas de saúde, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) informa que:

Uma equipe psicossocial atende os profissionais da educação assim que a unidade escolar solicita. Isso ocorre quando o servidor apresenta casos como quadro de tristeza profunda ou comportamento inadequado para o ambiente de trabalho. A equipe vai ao local e faz o relatório.

Dependendo do quadro, o servidor é orientado a procurar um médico que poderá indicar o afastamento.

A Seduc faz o acompanhamento da rede. Isso ocorre quando o servidor é encaminhado para tratamento de saúde apresentando os laudos patológicos.

Através dos laudos, a Seduc faz o monitoramento no sistema Gestão de Pessoas (GPE) do período em que o profissional ficará em tratamento.

A Seduc informa que não faz tratamento clínico, apenas encaminha para o tratamento.


*Nome criado para preservar a identidade da vítima.
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