A Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) conseguiu identificar, em quase dois anos de investigação, os membros das organizações criminosos responsáveis por comandar o ‘jogo do bicho’, em Mato Grosso e cada uma das suas respectivas funções. João Arcanjo Ribeiro, Giovanni Zem (genro do ex-comendador) e o empresário Frederico Muller Coutinho são apontados como líderes dos grupos e acabaram presos na quarta-feira (29), durante a ‘Operação Mantus’.
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As investigações, comandadas pelo delegado Luiz Henrique Damasceno, atualmente lotado na Delegacia Especializada de Fazenda e Crimes Contra a Administração Pública (Defaz), mas responsável pelo caso, apontaram que Arcanjo e Zem dividem o comando do grupo denominado ‘Colibri’ e que atua há pelo menos 30 anos no Estado.
Noroel Braz da Costa Filho, apontado como assessor direto de Arcanjo, seria o ‘braço armado’ do ex-comendador e o responsável pela segurança das operações e cobranças. Em uma conversa interceptada pelas autoridades, ele afirma que está no sistema há mais de 30 anos, trabalha direto com a presidência e que “Mato Grosso tem dono”.
Outro funcionário de Arcanjo destacado na investigação é Mariano Oliveira da Silva, responsável por gerenciar os pontos no norte do Estado. Segundo o próprio, em conversa interceptada, ele tomaria conta de aproximadamente 60 pontos na região.
Fábio Pliz de Oliveira, que teria sido sequestrado pelo grupo de Arcanjo para evitar que o concorrente entrasse na sua região, relatou em boletim de ocorrências que após o crime, Mariano passou em frente ao seu hotel e o intimidou.
ELLO (FMC)
As investigações referentes a segunda organização, colocam Frederico Muller Coutinho como o líder. Enquanto pessoa física, ‘Dom’ (apelido do delator) teria movimentado R$ 6,4 milhões. Já através da pessoa jurídica, foram R$ 4,6 milhões (Muller Coutinho Assessoria de Cobrança LTDA/ME) e R$ 341 mil (Muller Coutinho Corretora de Seguro LTDA).
Indinéia Moraes Silva, conhecida como ‘Jones’, é apontada como a gerente financeira do grupo de Frederico, sendo a número dois no comando da organização e a responsável pelo caixa do Estado inteiro, com a atribuição de controlar o recolhimento das arrecadações das apostas e a movimentação financeira.
Confira abaixo os nomes e as funções dos integrantes das organizações criminosas:
ELLO (FMC)
- Frederico Muller Coutinho (‘Dom’): líder
- Indinéia Moraes Silva (‘Jones’): gerente financeira
- Dennis Rodrigues de Vasconcelos (‘James’): gerente comercial
- Kátia Mara Ferreira Dorileo: assessoria de gerência comercial e esposa de Dennis
- Madeleinne Geremias de Barros (‘Mady’): assessoria de gerência financeira
- Glaison Roberto Almeida da Cruz: gerente em Rondonópolis
- Werechi Maganha dos Santos: gerente em Campo Verde
- Patrícia Moreira Santana: responsável pelo caixa em Campo Verde
- Laender dos Santos Andrade: suporte e captação de clientes em Rondonópolis
- Edson Nobuo Ybumoto: gerente em Tangará da Serra
- Bruno Almeida dos Reis: supervisor da baixada cuiabana
- Eduardo Coutinho Gomes (‘Dudu’): apoio operacional/suporte
- Marcelo Conceição Pereira: recolhedor/suporte
- Alexsandro Correia (‘Alex’): supervisor de Cuiabá
- Haroldo Clementino Souza: recolhedor/suporte
- João Henrique Sales de Souza: recolhedor
- Rosalvo Ramos de Oliveira: supervisor
- Tulio de Tal (não identificado): recolhedor
- Adrielli Marques: recolhedora
- Ronaldo Guilherme Lisboa dos Santos: recolhedor
COLIBRI
- João Arcanjo Ribeiro: líder
- Giovanni Zem Rodrigues: líder
- Noroel Braz da Costa Filho: assessoria de Arcanjo
- Mariano Oliveira da Silva: gerente no norte de Mato Grosso
- Adelmar Ferreira Lopes: assessoria de Mariano no norte de Mato Grosso
- Sebastião Francisco da Silva (‘Coco’ ou ‘Tião’): responsável em Juara
- Marcelo Gomes Honorato: recolhedor e suporte
- Agnaldo Gomes de Azevedo: gerente em Tangará
- Paulo Cesar Martins: supervisor/recolhedor
- Bruno Cesar Martins: recolhedor
- Bruno Cesar Aristides Martins: recolhedor
- Augusto Matias Cruz: supervisor/recolhedor
- José Carlos de Freitas (‘Freitas’): gerente em Cáceres
- Valcenir Nunes Inerio (‘Badeco’): atua em conjunto com Marcelo Gomes Honorato
Mantus
As investigações iniciaram em agosto de 2017, conseguindo descortinar duas organizações criminosas que comandam o jogo do bicho no Estado de Mato Grosso, e que movimentaram em um ano, apenas em contas bancárias, mais de R$ 20 milhões. Uma das organizações é liderada por João Arcanjo Ribeiro e seu genro Giovanni Zem Rodrigues, já a outra é liderada por Frederico Muller Coutinho.
Durante as investigações, foi identificada uma acirrada disputa de espaço pelas organizações, havendo situações de extorsão mediante sequestro praticada com o objetivo de manter o controle da jogatina em algumas cidades.
Os investigadores também identificaram remessas de valores para o exterior, com o recolhimento de impostos para não levantar suspeitas das autoridades. Foram decretados os bloqueios de contas e investimentos em nome dos investigados, bem como houve o sequestro de ao menos três prédios vinculados aos crimes investigados.
Os suspeitos vão responder pelo crime de organização criminosa, lavagem de dinheiro, contravenção penal do jogo do bicho e extorsão mediante sequestro, cujas penas somadas ultrapassam 30 anos.
No total, foram expedidos 63 mandados judiciais, sendo 33 de prisão preventiva e 30 de busca e apreensão domiciliar, expedidos pelo juiz da 7ª Vara Criminal da Comarca de Cuiabá, Jorge Luiz Tadeu.