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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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“Entreguei a guarda do meu filho”, conta professora que teve ponto cortado

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

“Entreguei a guarda do meu filho”, conta professora que teve ponto cortado
A professora Ângela Maria Ramos, de Cáceres (a 217 km de Cuiabá), teve que dar a guarda de seu filho de 13 anos ao pai, com quem é divorciada, devido ao ponto cortado, que ocorreu em consequência da adesão à greve promovida pela categoria. O movimento soma pouco mais de dois meses de paralisação, em meio à resistência dos professores que exigem o cumprimento da lei complementar nº 510, que propõe o aumento salarial de 7,69%, e melhoria nas escolas estaduais de Mato Grosso.


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“Eu tenho um filho de 13 anos. Para eu estar aqui, ele está na casa do pai. Aliás, eu entreguei a guarda porque não tenho como eu cuidar. Entreguei a guarda na semana passada porque na minha casa não tinha comida”, revela a servidora do estado ao Olhar Direto.

É a primeira vez que Ângela participa ativadamente no movimento na capital mato-grossense, apesar de sempre aderir às greves propostas pela categoria. Ela explica que optou vir para Cuiabá após entregar a guarda do filho ao pai e por não conseguir mais ver seu quarto sem sua presença. “Foi horrível. Eu vim para esse movimento para eu não ficar olhando para o quarto dele. Eu entrei em pânico e choro”, desabafa.

Professora da Escola Estadual Desembargador Gabriel Pinto de Arruda, Ângela teve seu ponto cortado desde o início da greve e teve ajuda de amigos para que algumas contas fossem pagas, mas confessa que não sabe como pagará as contas de água e energia referentes ao mês de julho. Ela acrescenta, entretanto, que irá se manter firme na greve, apesar de se sentir desmotivada às vezes a continuar.

“Ontem foi um dia muito triste para mim. Eu nunca tinha passado por uma situação como essa, de ir para a praça pedir dinheiro. É humilhante a ponto da gente chegar a ter que fazer isso. A gente não é reconhecido. Muitos estão do nosso lado, mas recebemos cada nome… Estamos lutando pelo nosso direito. Não queremos nada mais do que o nosso direito”.

Com duas filhas pequenas, de um ano e quatro meses e dois anos, os professores Léia Raquel Ferreira e Cristiano Santos estão tendo dificuldades para cuidá-las, mas contam com ajuda de amigos e familiares. As filhas, entretanto, estão sempre juntas aos pais, conforme conta a mãe, que é coordenadora da Escola Estadual Malik Didier Namer Zahafi, localizada no Pedra 90, em Cuiabá.
 

“Está difícil, mas é a luta. Quando eu era criança, meu pai também [ficava] na luta de greve. Da mesma forma que a gente passou, elas estão passando pela mesma experiência. A gente tem que lutar pelas nossas experiências e nosso direito”, conta.

Quem ainda não teve o ponto cortado ajuda financeiramente quem teve, como é o caso da professora Cassandra*, que mora no noroeste de Mato Grosso. A mobilização na escola que trabalha quanto a greve é quase nula e “sequer questionou a possibilidade de parar”. Com a unidade educacional em recesso, ela veio para Cuiabá para poder se solidarizar com a causa da categoria.

“Tenho aproveitado o fato de não ter tido o corte no meu salário para ajudar colegas que tiveram o corte de seus salários, até mesmo suprindo na questão de alugueis, alimentação, esses tipos de coisas. A gente tem socializado o salário com os colegas que como eu vieram de outro estado e não temos a quem recorrer. Não tive o meu salário cortado e ele está em prol dos colegas que tiveram”, afirma.

Mineira, Cassandra veio para Cuiabá há cerca de um ano e se preocupa com a situação que a categoria se encontra. “Se a gente não luta por melhores condições de salário e trabalho agora, a gente não consegue imaginar como será o nosso quadro com 60 anos em sala de aula”, pontua em relação a Reforma da Previdência.

Quanto aos pontos cortados e as situações enfrentadas por alguns professores, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), Valdeir Pereira, ao Olhar Direto, pontua que “ninguém escondeu que essa greve seria uma das mais complicadas”.

“O que significa hoje o corte de ponto pela negação da 510 é inferior a dois meses de salário (...) Por isso que há uma convicção por parte das pessoas que a greve está sendo um instrumento legal para buscar e cobrar do governo de Mato Grosso uma legislação ao qual ele está sendo seletivo”.

Nesta terça-feira (30), o governador Mauro Mendes (DEM) afirmou que não dará o “braço a torcer” até o ano que vem, pelo menos. A equipe do governador estuda possíveis impactos que a aprovação do projeto de incentivos fiscais irá trazer para o próximo ano. Os incentivos, de acordo com o governador, irão atender as demandas da categoria, além de garantir que o Estado não ultrapasse a Lei de Responsabilidade Financeira.
 

A greve dos servidores estaduais da educação dura mais de 60 dias e tem adesão de 65% das escolas no estado de Mato Grosso. Em Cuiabá, a adesão chega a 85%, segundo um levantamento feito pelo Sintep-MT.

Decisão

Na noite de terça-feira (30), a desembargadora Maria Erotides Kneip, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), declarou abusivo o movimento grevista dos professores da rede estadual que dura pouco mais de dois meses, dando prazo de três dias para que as atividades retornem. Caso a decisão não seja cumprida pelo sindicato, o TJ estabeleceu uma multa de R$ 150 mil por dia de descumprimento.

*Nome utilizado para manter a identidade da entrevistada.
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