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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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KARAJÁS

Indígenas não conseguem lidar com as mudanças sociais e se suicidam, aponta pesquisadora

Foto: José Lucas Salvani/Olhar Direto

Indígenas não conseguem lidar com as mudanças sociais e se suicidam, aponta pesquisadora
Os indígenas não estão conseguindo lidar com as mudanças sociais ocorridas nos últimos anos e estão se suicidando, aponta a pesquisadora Paula Rey Vilela, também mestre e doutoranda em psicologia. Vilela entrou em contato com os karajás, espalhados por Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará, por meados de julho deste ano para uma pesquisa e ouviu diversos relatos de suicídios na comunidade e adjacentes. Muitos, inclusive, se misturam com as crenças locais que envolvem até o lançamento de um feitiço de um pajé.


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No material levantado até o momento, a pesquisadora percebeu que os karajás associam o suicídio com o contato com os tori, aqueles que não são indígenas. Essas comunidades estão cada vez mais inseridas em um contexto globalizado, com acesso ao comércio, tecnologia e outras culturas. Para ela, é este contato que influencia no suicídio por eles não conseguirem lidar com tais mudanças sociais.

“Eles têm esses acessos de tecnologia que mudou muito o pensamento deles. Isso fragiliza muito e foi muito rápido. É como se não tivesse sido digerido ainda. (...) Eles não estão sabendo lidar com este contato da melhor forma, de uma forma saudável e positiva. Eles estão usufruindo deste contato da pior forma, com alto índice de álcool que está ocorrendo. Muitas separações e conflitos conjugais”, explica.

Entre os cinco casos relatados, a maioria se deu por enforcamentos. A corda utilizada no primeiro dos casos, aliás, teria sido pega por um pajé que lançou um feitiço. Muitos dos indígenas acreditam que os suicídios tenham ocorrido por conta de tal feitiço ou um “pagamento” exigido pelos espíritos.

“Eles estão cansados porque não muda nada. Tem muitas pessoas que tem até muito receio por tratar desta temática ou intervir de alguma forma por ser uma questão de feitiço. Muita gente vê dessa forma. ‘Ah, já é um destino, né’. Quando na verdade, o que eu defendi hoje, claro que tem outros aspectos, mas essa questão de resgatar a cosmologia deles pode promover um fortalecimento do grupo”, explica.

725 casos no Brasil

De acordo com dados do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena, entre 2010 e 2017, foram registrados 725 casos de suicídio no Brasil. Deste número, 712 casos foram lesões autoprovocadas intencionalmente, enquanto 13 foram por intoxicação exógena de intenção indeterminada.

Durante este mesmo período de tempo, o município de Cuiabá registrou cinco casos de suicídios indígenas, que representa uma taxa de 5,22 por 100 mil habitantes. O Araguaia teve a maior taxa, com 110,38, e registrou 43 mortes. Apesar do alto número de taxa, o local com o maior número de morte o Alto Rio Solimões, que teve 172 casos, com taxa de 32,11 por 100 mil habitantes. 

XII Seminário Internacional de Psicologia & Senso Religioso

Durante esta semana, foi realizado o XII Seminário Internacional de Psicologia & Senso Religioso, em Cuiabá, onde diversos palestrantes puderam trazer questionamentos sobre o sofrimento psíquico e sentido da vida, como foi o caso de Paula Vilela.
 

“Nós, na verdade, temos discutido essa temática como grupo de pesquisa. Uma das coisas que nós temos observado muito no tempo contemporâneo é que existem várias instâncias que podem promover o vazio de sentido na vida e isso pode produzir muito sofrimento emocional. Nosso mundo é imediatista e consumista. É um mundo acelerado. Isso pode produzir muito sofrimento humano e psíquico e esvaziar o sentido da vida”, explica o Prof. Dr. Rosimar José de Lima Dias, um dos organizadores.
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