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Sábado, 20 de abril de 2024

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Semana da enfermagem

“A gente deixa nossa família para cuidar de entes de outras pessoas. Tenham empatia”, clama enfermeira

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

“A gente deixa nossa família para cuidar de entes de outras pessoas. Tenham empatia”, clama enfermeira
Todos os dias de plantão, a rotina começa muito antes do início e termina muito depois do final do dia de trabalho. O equipamento de proteção individual (EPI) machuca  e marca a pele, mas mais difícil ainda é ficar longe da família e, ao mesmo tempo, ver a população duvidando dos números, zombando da necessidade de isolamento e se aglomerando em festas. Esta é a realidade de milhares de enfermeiros em todo o Brasil, e em Cuiabá não é diferente. A socorrista do Samu Giovana Cristina da Silva, 34, por exemplo, já não vê os três filhos há mais de um mês.


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Na última terça-feira (12) foi comemorado o Dia Internacional da Enfermagem, mas, para eles, não há motivo para festa. “Independente da pandemia, a maior dificuldade é a situação da desvalorização da profissão. Infelizmente nós não recebemos o valor adequado pelo que a gente exerce, pelo risco que a gente corre, pelo que a gente leva pra família. E atualmente, na pandemia, [o problema] é a sociedade não acreditar. Não adianta a gente fazer uma política educativa se continua tendo lugares lotados, pessoas que não se previnem, porque acaba aumentando os casos”, lamenta.
 
Giovana é formada desde 2012 e atualmente trabalha no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Desde que começou a atender casos suspeitos do novo coronavírus (Covid-19) ela deixou seus filhos, de 15, 12 e 4 anos de idade, com sua mãe, que é idosa, e não mais os viu. Ainda assim, ela não mora sozinha, e enfrenta uma rotina exaustiva para proteger os familiares com quem ainda tem contato, o que inclui um teste invasivo e dolorido todas as semanas.
 
“Eu já tinha o costume, um certo cuidado, de não entrar em casa com meu coturno, mas agora os cuidados são redobrados. O material de serviço é pra fora de casa, agora eu tiro o uniforme no trabalho e ele vem dentro de uma embalagem pra levar direto pra lavanderia. Chego em casa, já coloco separado pra lavar. Todos os dias, antes de ter contato com alguém, a gente toma banho, se higieniza, pra depois ter contato com a família. Ainda assim a gente segue com medo”, lamenta.
 
Nada disso, no entanto, é tão difícil quanto lidar com a desconfiança das pessoas. “As pessoas tem que entender que os números de mortos são familiares de alguém. [É preciso] que a sociedade tenha mais empatia pela situação. Nós, profissionais da saúde, estamos afastados da família, a gente deixa nossa família para cuidar de entes de outras pessoas, tenham empatia”, clama.
 
Quem também teve que ficar longe da filha, de apenas cinco meses, foi o chefe da enfermagem do hospital São Matheus, Daniel Santos Ávila, de 36 anos. Sua esposa, que também é enfermeira, terminou a licença maternidade no interior, mas quando ela teve que voltar a trabalhar, não teve mais jeito de manter o isolamento.
 
“É uma rotina totalmente diferente. Mesmo eu sendo gerente e ficando na parte administrativa, eu também vou na UTI, vou no pronto atendimento, tenho que entrar no quarto, então é uma rotina diferente. Chego em casa, tiro o sapato e a roupa na porta, já jogo tudo num balde pra lavar e vou direto pro banho, não passo nem perto da minha esposa e da minha filha. Os sapatos ficam todos fora de casa, roupas lavadas todos os dias, e é uma rotina diferente que a gente já deveria fazer antes do Covid”, afirma. Para o enfermeiro, esta nova rotina de higiene veio para ficar, e deverá permanecer em todas as casas, mesmo depois que o coronavírus for vencido.

Daniel (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)
 
Ele também encara como um desafio lidar com uma doença totalmente nova, em que não há protocolos, e que o aprendizado para o enfrentamento deve ser diário. “Nao é fácil! A gente tem medo do novo, a gente não tem noção do que é, então profissionalmente o enfermeiro é capacitado pra doenças conhecidas, e essa é uma doença que ninguém conhecia, não tem procedimento, não tem cura específica”, alerta.
 
As alegrias, no entanto, também existe. E uma delas foi, por exemplo, ver uma colega de profissão vencer a doença. “A gente teve um colega que entrou no hospital com suspeita de Covid... falta de ar... todos os sintomas. Febre, tosse, e internou”, lembra. “Ela acabou indo pra UTI, voltou, foi pro posto e foi embora bem, andando... foi muito gratificante a gente poder participar da alta dela! Porque ela passou por todos os medos que a gente passou e se viu com a doença, e venceu”, finaliza.

*Colaborou Rogério Florentino.
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