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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Não tem medo

‘Sempre adentrei espaços proibidos para mim’, diz primeira vereadora negra de Cuiabá

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

‘Sempre adentrei espaços proibidos para mim’, diz primeira vereadora negra de Cuiabá
Ana Maria do Couto, Maria Nazaré Hahn, Estevina do Couto Abalém, Bia Spinelly, Enelinda Scala, Verinha Araújo, Lueci Ramos, Chica Nunes, Márcia Campos, Luciana Zamproni. Até 2020, estas foram as únicas dez mulheres que assumiram cadeiras na Câmara de Vereadores de Cuiabá. Nenhuma negra. A partir de primeiro de janeiro de 2021, no entanto, esta realidade mudará com a chegada de Edna Sampaio, do PT, ao parlamento municipal. Em meio a apenas mais uma mulher e outros 23 homens, em sua maioria de direita, no entanto, ela diz que não tem medo.


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“Eu sempre fui minoria. Eu sou uma mulher negra que adentrei espaços proibidos para mim do ponto de vista da estrutura de uma sociedade racializada e machista. Então eu estou acostumada a lidar com essa adversidade no meu cotidiano”, afirma. Além de ser a primeira mulher negra, Edna traz consigo a responsabilidade da volta do Partido dos Trabalhadores à instituição que ganhou, nos últimos anos, o apelido de ‘Casa dos Horrores’. Cuiabana de 53 anos, casada, mãe, professora, líder sindical e militante pelos direitos humanos, a vereadora traz dentre suas pautas principais a luta pela vida das mulheres, dos LGBTs, contra o racismo estrutural e pelo meio ambiente.
 
O Olhar Direto conversou com a vereadora eleita na última semana. Leia a íntegra da entrevista:
 
OD – Queria que você começasse contando um pouco da sua trajetória política.
Edna –
Eu entrei no PT muito jovem ainda. Eu era da Pastoral da Juventude, do meio popular, e comecei na militância aos 16 anos na Pastoral da Juventude, depois, em torno de 20 anos, eu me filiei ao PT. Ainda não sabia exatamente o que isso significava, mas eu sempre votei no PT antes, desde meus 18 anos, que eu sempre votava no PT porque achava mais interessante. Depois da minha passagem pela pastoral da juventude e meio popular, que foi dos 16 aos 21, quando entrei na universidade, eu passei a militar no movimento estudantil, na UFMT. Eu fiz o curso de Serviço Social na UFMT e fui da direção do Centro Acadêmico, participei não da gestão do DCE. Porque quando eu entrei na Universidade eu já era casada e já tinha filho, eu entrei grávida, então meio que me impossibilitou de uma militância no nível do movimento estudantil, mais ampla, na UFMT. Mas fui muito atuante no meu curso. Depois eu passei num concurso público, em 94, na Unemat, e me mudei para Cáceres. Fiquei cinco anos morando lá, e depois continuei trabalhando lá e morando aqui, e sempre nesse vai e vem entre Cáceres e Cuiabá.
 
OD – Trabalhando como assistente social?
E –
Como professora de sociologia. Quando eu entrei para a UNEMAT eu já fui logo pro sindicato. Me filiei ao sindicato e fui presidente do sindicato no ano seguinte da minha entrada, e nunca mais saí do movimento sindical. Agora mesmo, um pouco antes de eu me candidatar, eu me afastei de uma gestão em que eu era vice-presidente na Adunemat. Então, fui candidata na Unemat a reitora duas vezes, porque sempre a minha militância leva a uma questão do poder, inevitavelmente, toda militância é uma militância em razão da desigualdade do poder que existe na sociedade ou num determinado grupo. E as eleições são o momento em que a gente faz esse enfrentamento de forma mais pontual, vamos dizer assim. E eu participei de duas eleições dentro da universidade, mas nunca imaginava participar de uma eleição aberta, uma eleição para cargo político que não fosse dentro da universidade, que é onde tenho minha trajetória inteira de militância.
 
Há dez anos, mais ou menos, eu também adicionei à minha militância a pauta dos direitos humanos, porque fui fundadora do Centro de Direitos Humanos em Cáceres, coordenei também o Centro de Referência em Direitos Humanos aqui em Cuiabá, em 2016, e essa experiência na militância por direitos humanos também me fez ver e compreender mais do que eu já havia compreendido a relação de desigualdade econômica, alçar também outros elementos de compreensão sobre desigualdade. E isso foi me tornando uma pessoa mais multifacetada na minha militância, que além da militância sindical, da questão da universidade, dos serviços públicos, também tem a questão da desigualdade étnico-racial, a questão de gênero, passou a ser parte da minha agenda de luta também. E quando em 2016 a Dilma sofre o golpe, essa questão da condição da mulher e a forma como aquele golpe incidiu sobre a personagem daquela mulher, que foi a primeira presidente e a única presidente da República do Brasil, ele teve um viés extremamente misógino, teve, além da questão da classe, que é o interesse dos mais ricos se apropriarem do Estado para poder garantir seus privilégios, e a restrição dos contratos que garantiam lucros a eles, a retirada de direito dos trabalhadores, que é o que estava em pauta no golpe de 2016, também tinha um caráter de misoginia, de desprezo à mulher, de atribuição de adjetivos desqualificantes da mulher no poder, então toda aquela construção machista que nós que somos mulheres ouvimos de forma explícita ou não, passaram a ser revelados na cena política que derrubou Dilma. Aquela situação mexeu profundamente comigo, que já era uma militante, já entendia a questão da desigualdade na distribuição do poder entre os gêneros, a questão racial também foi pauta, esteve nesse palco todo desse momento político triste que nós vivemos, ainda estamos vivendo, né. E isso me fez acreditar que era importante fazer a disputa também num espaço mais amplo na sociedade, que não apenas dentro da própria universidade, que, querendo ou não, é um espaço restrito e é um espaço ainda muito privilegiado. (...)
 
Eu havia decidido, já, que seria candidata na eleição de 2018 e assim o fiz. Claro que teve todos aqueles momentos que, não sei se você acompanhou, sobre a questão da candidatura do governo, que eu havia me colocado, a pedido dos companheiros e das companheiras que naquele momento reivindicavam, assim como eu, uma candidatura própria do meu partido, e não conseguindo sucesso nessa empreitada que era para que a gente pudesse reposicionar o PT, que havia sofrido um golpe por representar os direitos da classe trabalhadora no governo, como não deu certo, então a gente colocou nosso nome também para deputada federal. (...)
 
OD – Agora você se colocou como candidata a vereadora, foi eleita, depois de um mandato em que o PT não esteve na Câmara. Você disse que está no PT há muito tempo, então você passou pelo ápice, os 14 anos do PT no poder, e uma queda de popularidade muito forte nos últimos anos. Qual você acha que é a importância de você estar trazendo o PT  de volta para a Câmara de Vereadores de Cuiabá? Que diferença você acha que o PT pode fazer?
Edna
– Eu acho que o PT enquanto partido político no Brasil fez a invenção da classe trabalhadora mais importante da história recente do nosso país. O PT não é uma invenção das elites para poder fazer a mediação com os interesses da classe trabalhadora. O PT é um partido que nasce dos movimentos sociais, das pessoas que faziam a luta contra a ditadura, das pessoas que faziam a luta sindical, várias esferas da luta dos trabalhadores. É isso que dá origem ao PT. Naquele momento nós vivíamos uma situação de um modelo de desenvolvimento, na recém-saída da ditadura, uma redemocratização, e o PT foi um ator fundamental para a consolidação e ampliação da democracia no Brasil. Os governos do PT são marcados talvez como os únicos governos que, de fato, pegaram a constituição de 88 e colocou em prática, né. Uma constituição chamada Constituição Cidadã, só vai ter um governo amis voltado a uma certa social-democracia com os governos do PT. Antes do PT o que nós vimos foram os governos liberais que entravam em contradição com o que a própria carta magna trazia. (...) Por exemplo, a questão da desigualdade. Um dos princípios fundantes da Constituição é que o Estado deve agir no sentido de combater as desigualdades sociais e as desigualdades regionais. Nunca na história desse país foi enfrentado de forma tão cabal a questão da desigualdade social. (...)

[Depois dos governos do PT] houve uma retomada do liberalismo de uma forma mais radicalizada, pela extrema-direita, um ultra-liberalismo, um desprezo pelas instituições públicas, um fechamento da esfera pública, cessaram-se as políticas públicas que promoviam a equidade social, que poderiam fazer enfrentamento à enorme desigualdade em que o Brasil infelizmente é campeão, continua sendo hoje, voltamos para o Mapa da Fome. Então eu vejo que o PT retornar para a Câmara Municipal, e com uma mulher negra, a primeira mulher negra, petista, eleita para a Câmara Municipal, significa duas coisas muito importantes: primeiro, que o partido que é dos trabalhadores, que tem uma história de luta pelos trabalhadores, é também o partido que se renova na sua pauta, na sua temática, porque as pessoas olharam para essa mulher e elegeram uma mulher negra, uma mulher de esquerda, uma mulher que defende pautas que historicamente são polêmicas na nossa sociedade. Por exemplo, a questão étnico-racial, a igualdade racial, a questão de gênero, que inclui a população LGBT, os direitos da população LGBT, então eu vejo que o PT sai muito fortalecido aqui em Cuiabá com essa vitória, o nosso retorno para a Câmara Municipal. O cuiabano vai ter de volta a combatividade dos petistas na minha pessoa, que não estou sozinha, obviamente, tem um conjunto de pessoas que ajudou a gente a chegar até aqui e que vão estar com a gente nessa construção.
 
OD – Mas lá na Câmara vai ser difícil em questão do número de pessoas que tem a pauta da esquerda... as pessoas que foram eleitas, em sua maioria, são de direita, ou centro-direita, tem muitos policiais militares, pessoas que refletem também um pouco da política nacional. Como você acha que vai ser esse embate seu com esses colegas da Câmara?
E –
Eu não estou com receio disso, na verdade. Porque eu sempre fui minoria. Eu sou uma mulher negra que adentrei espaços proibidos para mim do ponto de vista da estrutura de uma sociedade racializada e machista. Então eu estou acostumada a lidar com essa adversidade no meu cotidiano. Eu penso que os vereadores, independentemente da sua posição ideológica, trazem consigo a chancela da população que os elegeu para promover o bem comum da cidade. E obviamente eu vou estar lá para apresentar projetos que interessam à população de Cuiabá. Não pretendo fazer um mandato que seja um mandato restrito àquela casa, pretendo fazer com que o mandato seja também da classe trabalhadora se organizar e reivindicar seus direitos. Eu imagino que na relação com meus pares essa relação deva ser o mais respeitoso possível, guardando, obviamente, todas as nossas diferenças. Isso não impede, na minha opinião, que em determinados pontos, que possam fazer avançar os direitos daqueles que mais precisam, a gente não possa estar juntos, e eu espero que seja assim.
 
OD – Inclusive você foi eleita junto com a Michelly Alencar, as duas mulheres eleitas para a Câmara. Mas também são duas mulheres que estão em lados opostos. Ela é uma vereadora do DEM, mais conservadora, que leva uma outra pauta. Com ela você acha que pode haver uma união, em alguns momentos, pelas pautas femininas, ou essa ideologia vai mais separar do que unir vocês?
E –
Olha, hoje eu fiz a primeira entrevista junto com a Michelly. Eu já tinha visto ela pela TV, mas não a conhecia pessoalmente. Uma pessoa extremamente simpática. E eu penso o seguinte, obviamente que do ponto de vista de modelo de sociedade, nós temos visões diferentes, e isso nos faz filiadas a partidos tão diferentes. DEM é um extremo e o PT está no outro extremo. Mas isso não impede, por exemplo, que a pauta, inclusive em defesa da vida das mulheres, numa cidade em que ser mulher é perigoso, como Cuiabá - nós somos recordistas em violência contra a mulher, em feminicídio – não impede que nós, enquanto mulheres, possamos pautar essas questões dentro do parlamento, e nos unir para que essas mulheres sejam protegidas, suas vidas. Eu acho que a defesa da vida das mulheres extrapola a questão ideológica e partidária. Nesse sentido eu vi uma possibilidade de diálogo muito forte entre a gente, para que nós possamos atuar em defesa das mulheres, independentemente das nossas cores partidárias.
 
OD – Quais vão ser suas principais bandeiras na Câmara?
E –
Nós definimos cinco linhas de atuação dentro da Câmara dos Vereadores. A primeira é um modo diferente de fazer política, integrando a representação na Câmara, com a participação direta daqueles e daquelas que ajudaram a construir nosso mandato, por isso nós estamos chamando de mandato coletivo, porque as pessoas vão poder participar e orientar, decidir sobre o que é que o mandato vai encaminhar como pauta na Câmara dos Vereadores. Avaliar, reorientar, decidir sobre o que é que o mandato vai encaminhar como pauta na Câmara dos Vereadores. (...) O segundo eixo da nossa proposta é justamente a defesa da vida das mulheres, que a gente vai atuar fortemente em função de políticas públicas integradas para proteção à vida das mulheres. Não basta simplesmente ter uma delegacia da mulher com um monte de restrições, por exemplo, que não atenda mulheres trans. Mulheres trans também são mulheres e precisam da atenção do poder público. Quando nós estamos falando de mulheres nós não estamos falando apenas das mulheres cis e as mulheres hetero, nós estamos falando de todas as formas de ser mulher, não existe um padrão para ser mulher. Também gostaria muito de trabalhar, e isso é um ponto da nossa pauta, o desenvolvimento econômico das mulheres, as iniciativas de empreendimento das mulheres, para dar capacidade para que as mulheres possam se emancipar com autonomia financeira, então nesse ponto apoiar e indicar políticas públicas que possam servir para isso, além de outras questões relacionadas a isso. E também, dentro desse eixo, que é a igualdade de gênero, a gente também poder atuar no sentido de garantir os direitos da população LGBT, tanto no atendimento à saúde pública, à assistência, inserção no mercado de trabalho, tudo isso são questões que estão dentro do eixo da igualdade de gênero para nós.
 
A outra questão é a questão do combate ao racismo estrutural. Cuiabá é uma cidade eminentemente de pessoas pretas e pardas, e se você entrar em qualquer instituição aqui em Cuiabá você vai achar que nós estamos num país nórdico. Só vamos ver brancos, pessoas de pele muito clara, seja no governo, seja no legislativo, seja no executivo, seja no judiciário, seja nos veículos de comunicação. Ou seja, nós padecemos aqui de um racismo estrutural gigantesco e ninguém fala nada sobre isso aqui nessa cidade. Nós precisamos debater, o que que significa isso, que políticas o município pode adotar para permitir que pessoas pretas possam também ter acesso a posições de decisão política, a participação, a pensar soluções, e os problemas da nossa cidade. Então o racismo estrutural, o combate ao racismo estrutural, e a igualdade étnico-racial é um ponto da nossa proposta muito importante.
 
A outra coisa é a questão ambiental.  Nós vimos aqui neste ano as queimadas criminosas no Pantanal, que destruíram parte significativa desse bioma, e nós não sabemos ainda estimar quantas vidas foram exterminadas naquele ecossistema, porque afinal de contas as vidas não são apenas aquelas que a gente enxerga, né? Tem muitas vidas que a gente nem sabe, nem vê, e que foram destruídas, e que são necessárias para o equilíbrio ambiental. E nós não vimos nenhuma medida do poder público local, nenhuma discussão na Câmara dos Vereadores, nenhuma medida que pudesse conter, ou para o próximo ano, prever situações como essas, e o poder público local atuar. Então esse é um ponto muito importante. Práticas sustentáveis dentro da cidade, de agroecologia, o governo municipal apresentar com antecedência anual o plano de contenção das queimadas e desmatamento no município, queimadas urbanas e queimadas rurais. Não é só o poder estadual e federal que tem que cuidar disso, a constituição é clara também sobre a competência do ente municipal em relação a essa temática.
 
E por último a nossa temática é a questão da defesa dos serviços públicos. Talvez nunca na história do país recente, os servidores foram tão atacados por conta da ganância de alguns que querem controlar os recursos públicos para ver ainda mais ricos os que já são ricos, e mais pobres os que precisam do serviço público. Nosso mandato será um instrumento de defesa da esfera pública, que sem ela a gente não tem democracia, dos serviços públicos, porque sem serviços públicos a gente não tem o mínimo de equidade para as pessoas, num país e numa cidade tão desigual, e obviamente do servidor público que é quem produz os serviços. (...)
 
OD – Queria saber de você se tem algum dos candidatos [do segundo turno] que você faria o apoio, e caso cada um vença, se você pretende ser oposição, base, ou independente na Câmara ao Abílio ou ao Emanuel?
 
E –
Eu acredito muito na democracia, e acho que a vontade popular é soberana. Ainda que essa democracia seja permeada por muitas desigualdades, por muitas assimetrias. Você tinha um prefeito que era candidato e ao mesmo tempo controlava a máquina pública, e portanto numa condição privilegiada na disputa. E por outro lado você tem um outro candidato que foi para o segundo turno que se utilizou de um instrumento público, do mandato como vereador, os dois, o candidato a prefeito e o vice, para poder concorrer. Então duas candidaturas que chegaram ao segundo turno e se utilizaram dos instrumentos dos recursos públicos para poder chegar no segundo turno. Eu acho lamentável que nós tenhamos que decidir entre um e outro, gostaria muito que o segundo turno não fosse esse. Mas, já que a população colocou para que todos nós decidíssemos qual vai ser o candidato, o PT vai hoje a noite, às 18 horas, discutir a sua posição política. Nós não vamos advogar pelo voto nulo, essa é uma coisa que nós já superamos, porque o voto nulo é algo que nos descredencia da política. Nós participamos do primeiro turno, apresentamos nossa candidatura, temos um projeto de cidade para Cuiabá, esse projeto não foi içado ao segundo turno, e a população escolheu dois projetos. Desses dois projetos o que é inadmissível, na minha opinião, é o apoio ao candidato Abílio. Porque nós temos uma candidatura que nega a política, que nega a democracia. Nós estamos vendo o que é o governo da extrema direita no governo federal, né? Nós temos mais de 160 mil mortes por Covid e ainda o presidente da República continua banalizando a pandemia e negando o direito da população de acesso à vacina. Nós temos uma destruição acelerada do nosso país, do que temos, por exemplo, de reservas cambiais, de empresas públicas que estão sendo sucateadas para serem privatizadas, o Brasil voltando para o Mapa da Fome em nível internacional, desrespeitado, quer dizer, nós não podemos aceitar que Cuiabá continue um movimento da extrema direita que no Brasil já está diluído. Nós precisamos voltar à normalidade. As disputas têm que ser entre pessoas, que por mais diferenças que tenham, respeitem o marco democrático, respeitem as instituições, e não é isso que a gente percebe no candidato Abílio. Então certamente, independentemente da posição do PT, não se cogita, em absoluto, um apoio a um candidato que é anti-política, portanto anti-democracia, e anti-esfera pública e instituições.
 
OD – Mas caso o Emanuel vença você pretende fazer oposição a ele também?
E –
Qualquer um dos dois que vença, seremos oposição. Porque são projetos que não representam o projeto que nós, o Partido dos Trabalhadores, defendemos. Não podemos também, por outro lado, dizer que apoiamos um Prefeito que usa da máquina pública para se garantir no segundo turno, e mais do que isso, que tem um projeto de cidade que é excludente. Se nós olharmos para Cuiabá, se a gente andar pela cidade, pelas periferias, pelos arredores da cidade, você vai ver que a cidade não é um direito de todos. Nós temos a maioria absoluta dos trabalhadores e das trabalhadoras que tem o transporte público mais caro, para poder beneficiar o interesse de alguns empresários, um monopólio inadmissível, uma irresponsabilidade do poder público em relação ao direito fundamental que é o direito a ir e vir da população trabalhadora – transporte de péssima qualidade, diga-se de passagem. Nós temos uma cidade que 60% não é servida por saneamento básico, populações de bairros periféricos, famílias, crianças, vivendo à margem de esgotos, com lixos amontoados à beira das casas das pessoas... são os humilhados da cidade, invisibilizados por uma política que privilegia o centro em detrimento da periferia. Então não é um projeto de cidade que o PT possa dizer que apoia. Então o segundo turno é realmente um momento muito delicado, muito difícil, e há de se ter muita responsabilidade na hora de decidir como nós vamos no segundo turno.
 
OD – Você acha que pode ter dificuldade de ser ouvida nas suas pautas e na sua luta por causa da pecha que grudou no PT nesses últimos anos, de o PT ter sido demonizado?
E –
Olha, eu acho o seguinte, os que estão dentro da política sabem muito bem o que é o PT. Eles sabem muito bem quem nós somos. E eles produziram essa demonização. Justamente porque o PT defende a maioria do povo trabalhador. E o poder é organizado para a minoria. Então obviamente que a criminalização do PT tem a ver com o fato de que no PT trabalhadores e trabalhadoras como eu podem adentrar os espaços da política e defender a sua classe. E nós temos uma democracia que é pautada pela plutocracia, na verdade. Quem tem dinheiro é que consegue se eleger. E o PT é uma organização voltada à defesa da classe trabalhadora, então eles sabem muito bem quem somos nós. E obviamente que a ideia de demonização, de criminalização do PT, é justamente a estratégia para nos silenciar. Mas não vão conseguir, como não conseguiram. Nós estamos muito vivos, muito resistentes, ocupando nossos espaços com a qualidade que o povo trabalhador dessa cidade merece. Não tenho dúvidas de que num acirramento das relações internas, que eu espero que não aconteça, talvez a gente realmente tenha que nos defender desse tipo de comportamento, mas eu espero que essa Câmara, que está renovada - são 13 vereadores novos que não exerceram mandato antes - possa ter um comportamento institucional muito melhor do que aqueles que nos antecederam. E que nós possamos reinaugurar a imagem da Câmara Municipal, dotada de pessoas capazes de dialogar, embora as suas diferenças partidárias sejam respeitadas, em muitos momentos a gente não vai entrar em acordo mesmo. Somos diferentes, temos visões diferentes, mas onde é possível ter acordo, onde é possível dialogar eu acho que pessoas inteligentes devem fazer isso. Imagino, pelo menos quero manter minha boa expectativa em relação àqueles e àquelas que foram eleitos para esse mandato. (...)
 
OD – Você quase foi candidata a governadora, foi candidata a deputada federal... tem pretensões de continuar na política, de depois de ser vereadora ser candidata a outros cargos?
E –
Eu tenho pretensão de ser vereadora. São quatro anos de mandato, tenho pretensão de cumprir o meu mandato, eu acho que é importante, eu acho que a política é um instrumento pedagógico incrível. Como eu sou professora, eu sempre acho que a educação, o aprendizado, a gente não tem só nos espaços escolares, nas instituições de ensino. A vida toda da gente, as relações sociais são relações de aprendizagem, e a participação política é uma delas. Importantíssima, porque ao conversar, ao falar, ao as pessoas me ouvirem, e ao ouvir as pessoas, a gente troca e a gente aprende. E ensina também. Eu não sei o que vai ser do futuro. Eu sou uma pessoa que estou à disposição do meu partido, e é nessa disponibilidade, porque política não se faz sozinho, eu não sou Edna Sampaio sozinha, a eleição da Edna Sampaio é resultado de um esforço coletivo e partidário, e também não partidário, por todas aquelas pessoas que apoiaram, que pediram voto para o 13131 e que nem filiadas ao PT são. Muita gente nem se simpatizava com o PT e mesmo assim votou na Edna Sampaio por conta das propostas, por conta do projeto, por conta da trajetória. Mas tudo isso é construção coletiva, então eu não posso dizer agora o que vai ser o futuro. Hoje eu digo para você que eu sou candidata a cumprir meu mandato como vereadora e estou muito feliz com isso.
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