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Terça-feira, 19 de março de 2024

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​OPINIÃO

Abílio paga preço alto pela truculência e “derrete” vantagem eleitoral em semana desastrosa

Foto: Rogério Florentino Pereira/ OD

Abílio é o primeiro vencedor do primeiro turno a perder as eleições em Cuiabá

Abílio é o primeiro vencedor do primeiro turno a perder as eleições em Cuiabá

O segundo lugar de Abílio Júnior (PODE) na eleição para prefeito de Cuiabá neste domingo (29) quebrou um tabu. Nunca o candidato mais votado da capital no primeiro turno havia saído derrotado na corrida pelo Palácio Alencastro. Abílio é o maior responsável pela derrota histórica. Em uma semana considerada desastrosa do ponto de vista eleitoral e de construção de imagem, o candidato que liderava as pesquisas de intenção de voto partiu para o ataque contra profissionais da imprensa e mostrou destempero diante de perguntas incômodas. O recado veio das urnas: a população cuiabana já havia dito no primeiro turno que queria mudança, mas no segundo deixou claro que a renovação não deve acontecer a qualquer custo. O eleitor quer ser dirigido por quem consegue manter a racionalidade diante de momentos de pressão. Não quer truculência e rejeita a agressão gratuita.
 
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Abílio entrou no segundo turno como favorito. Liderou as urnas em 15 de novembro com 90.631 votos, contra 82.367 de Emanuel Pinheiro (MDB). A primeira semana após a votação também parecia desenhar um caminho promissor: ganhou o apoio de Gisela Simona (PROS), detentora de 52.191 votos e de Roberto França (PATRI), que alcançou 25.523. O governador do Estado, Mauro Mendes (DEM), declarou apoio e a primeira-dama Virgínia Mendes começou a pedir votos. Antero Paes de Barros, marqueteiro de histórico vencedor em Mato Grosso, também entrou na campanha. Abílio agora teria a chance de brigar de igual para igual com Emanuel nas propagandas. No primeiro turno, o emedebista tinha quase três minutos enquanto Abílio tinha apenas 47 segundos. Agora seriam 5 minutos para cada. Os debates também prometiam dar a chance para ele intensificar sua principal estratégia eleitoral, bater na tecla da delação premiada do ex-governador Silval Barbosa e confrontar Emanuel diante de suspeitas de corrupção.
 
Na segunda-feira (23), o candidato favorito na corrida pelo Palácio Alencastro participou de uma entrevista ao vivo por chamada de vídeo para o portal Gazeta Digital. Ao ser questionado sobre os apoios que recebeu no segundo turno de políticos condenado e investigados, Abílio inaugurou a tônica de truculência que passaria a adotar dali para frente com a imprensa. Fez insinuações contra o jornalista, a quem acusou sem base alguma de ser eleitor do candidato adversário. Na ocasião, Abílio conseguiu fugir da pergunta e ainda alimentou o ímpeto de enfrentamento de seus apoiadores nas redes sociais. Pensou ter vencido a batalha, mas não percebeu que deu mais importância ao questionamento. Ao deixar a pergunta sem resposta, aumentou as dúvidas sobre a pureza do discurso intransigente anticorrupção que o vereador emulava encarnar.   
 
Ainda surfando na conjunção de fatores positivos das últimas semanas, Abílio apareceu como líder na pesquisa Ibope que foi a campo entre 17 e 23 de novembro. No mesmo dia em que acusou o repórter que lhe fez uma pergunta incômoda, o vereador apareceu com 54% das intenções de votos válidos contra 46% de Emanuel Pinheiro. As notas de repúdio começaram a surgir contra a postura abertamente antidemocrática contra a imprensa. A pergunta sem resposta ficou ecoando e precisaria ser refeita mais cedo ou mais tarde. No dia seguinte, estava marcado debate entre Abílio e Emanuel sob mediação de empresários da Fecomércio. Ali, o candidato do Podemos acentuaria a estratégia da truculência e do confronto com jornalistas.
 
Ao chegar para o debate, Abílio foi indagado sobre uma possível busca de apoio da Coronel Fernanda (PATRI) e mandou um repórter perguntar para ela. Na sequência veio o questionamento sobre os apoios recebidos de políticos condenados e investigados. O candidato sacou o celular, pediu que a pergunta fosse refeita e começou a filmar. Antes que o jornalista de A Gazeta concluísse a fala, ele acusou o veículo de “se vender” e começou a atacar a imprensa para, novamente, fugir da questão apresentada. Ladeado por Felipe Wellaton (Cidadania) e Gisela Simona (PROS) que assistiam em silêncio aos ataques, o candidato ainda declarou que o profissional da imprensa deveria fazer uma “pergunta decente”. Ao ser perguntado pelo Olhar Direto sobre o financiamento da campanha no segundo turno, Abílio mirou os ataques a este portal.
 
Wellaton e Gisela Simona mantiveram postura de conivência com as ações truculentas de Abílio. Olhar Direto publicou as cenas de desequilíbrio do candidato e o criticou abertamente em nota da coluna Picantes logo após o ocorrido. Naquela noite, o site foi alvo de ataques coordenados nas redes sociais por militantes e cabos eleitorais da campanha de Abílio e Wellaton, que combinaram uma enxurrada de comentários negativos nas matérias e uma sequência de mensagens intimidadoras nas caixas de conversa privada no Facebook. O intuito do candidato era evidente: evitar questionamentos que considerasse desagradáveis dali para o fim da campanha. Nos bastidores, Wellaton chegou a dizer a um repórter que medida se tratava de uma “vacina”.
 
Fora da bolha de radicalismo que se formou no entorno do candidato, a ação de truculência e de descontrole emocional repercutiu mal de imediato. Aquele Abílio exposto ao ser contrariado era o oposto ao que o marketing eleitoral tentava construir. Depois de falas desastrosas contra mulheres e servidores públicos no primeiro turno, o vereador tentava reabilitar sua imagem, usava e abusava da figura de pai e andava com Gielsa Simona a tiracolo, tentando tomar dela o prestígio construído com esses dois grupos. Abílio não só não conseguiria limpar sua imagem como contaminou a de Gisela. Os dois perderam.
 
O debate também não foi como Abílio planejara. Conseguiu alvejar Emanuel, mas também foi colocado nas cordas. Foi pego de surpresa em uma resposta sobre o tema que mais lhe era caro: combate à corrupção. Ouviu ataques de um adversário pronto para a briga. O emedebista ainda usaria aquela resposta exaustivamente nas redes sociais e a colocaria no horário eleitoral. Na saída do confronto, Abílio baixou o tom e pediu desculpas para os trabalhadores por ele ofendidos. Justificou-se alegando que chegou ao local chateado por conta de ataques que teriam sido feitos ao seu avô, ignorando o fato de que nenhuma das perguntas guardava relação com a família do candidato.
 
Assim como a agressão gratuita, o pedido de desculpas também foi noticiado por Olhar Direto. Mas a bandeira branca levantada pelo candidato não durou até a noite seguinte. Em reunião política na quarta-feira (25), o parlamentar dobrou a aposta. Disse para sua claque que recebeu perguntas de “má-fé”. “A partir de hoje, deixo claro, jornalista que se vendeu, não vai ter meu respeito”, vociferou. Abílio, inebriado diante de uma possível vitória, elencou veículos de comunicação que perseguiria caso eleito. Dentro de sua rasa e populista retórica, anunciou que a “mamata iria acabar”. Para Abílio, o eleitor só deveria conhecê-lo pela propaganda eleitoral e pela versão “oficial” dos fatos que apresenta em suas redes sociais. Tentava fazer o eleitor crer que qualquer um que o questionasse estaria a mando dos adversários.
 
A lógica do ‘nós contra eles’ foi ecoada também por Felipe Wellaton. O vice de Abílio, ao invés de buscar conquistar mais votos, dinamitou pontes com uma parcela relevante dos eleitores do primeiro turno. “Quem vota Emanuel Pinheiro não é eleitor, é cúmplice”, afirmou em uma entrevista à Rádio Capital FM naquela semana. O confronto com tudo e todos que não estavam abertamente com a dupla de vereadores era o combustível da campanha. Estavam certos que ganhariam as eleições e que eram detentores da verdade. Daí a dificuldade em lidar com a pluralidade de pensamento e com os questionamentos que são da natureza da imprensa livre.
 
Na sexta-feira (27), Abílio foi até os estúdios da TV Vila Real, pertencente ao grupo Gazeta de Comunicação, para o penúltimo debate da campanha. Ao entrar no local, foi recebido pelo empresário Dorileo Leal, uma tradição dos debates d’A Gazeta. Ali, Abílio teve a oportunidade de dizer cara a cara ao dono do veículo tudo o que disse da empresa nos últimos dias para profissionais do grupo de comunicação e em discurso para aliados. Poderia também retomar a postura de paz que simulou ao pedir desculpas para profissionais da imprensa. Nem um, nem outro. Agiu como um adolescente contrariado. Se recusou a apertar a mão de Dorileo e filmou tudo para alimentar mais seus eleitores nas redes sociais. No debate, também demonstrou desequilíbrio, ameaçou ir embora no meio do programa e reclamou das regras do confronto que sua assessoria havia aceitado previamente.
 
Truculência, desequilíbrio, ameaças a veículos que o questionaram. As consequências dos últimos movimentos de campanha de Abílio foram captadas por nova rodada de pesquisa do instituto Ibope, publicada na sexta-feira (27). O vereador caiu em poucos dias de 54% dos votos válidos para 50% e assistiu Emanuel subir, no mesmo período, de 46% para 50%. Dali para frente, o jogo estava “zerado”, mas com tendência de crescimento de um e queda do outro. O resultado das urnas foi apertado: 51,15% a 48,85% para Emanuel. O atual prefeito conseguiu manter o tabu de vitórias na capital de quem busca a reeleição. Para quem saiu de um primeiro mandato como vereador, Abílio não tem muito do que reclamar. Conseguiu uma rápida projeção e chegou longe. Mas amarga a primeira derrota da história de Cuiabá de um candidato vencedor do primeiro turno. Sua visão estreita, diversionista, radical, suas táticas truculentas, seus tropeços verbais, suas ameaças a servidores públicos e falas ofensivas às mulheres custavam caro. Em uma semana de incontáveis erros, derreteu por demérito próprio sua vantagem eleitoral. Termina 2020 com capital político para ser competitivo nas eleições de 2022. Que os próximos dois anos sirvam de reflexão.
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