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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Policial penal conta os desafios da profissão: "Se a gente não se impor, não consegue ter voz"

Foto: Reprodução / Sindspen

Policial penal conta os desafios da profissão:
Apesar dos números apontarem que elas ainda são minoria, as policiais penais de Mato Grosso estão no comando de nove unidades penitenciárias do Estado. Em uma realidade envolvida por ameaças, carga horária exaustiva e até mesmo rebeliões, elas precisam lidar diariamente com os desafios proporcionados pela carreira, que por muito tempo foi taxada como sendo uma profissão apenas para homens.


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Para Jacira Costa, atual presidente do Sindicato dos Servidores Penitenciários de Mato Grosso (Sindspen), a profissão que ela exerce representa a oportunidade de poder mudar a vida das pessoas que precisam de ressocialização. Formada em Educação Física, ela entrou na carreira há 17 anos, quando fez o concurso buscando estabilidade. No entanto, em seu primeiro ano como servidora se deparou com uma grande rebelião. 

"Eu observei que ali poderia ajudar muito as pessoas que haviam quebrado as regras sociais. Percebi que aquelas pessoas precisavam de bons exemplos e de um trabalho qualificado, um desafio que eu me envolvi e apaixonei", conta Jacira. 

Jacira conta que apesar de se realizar com a escolha da profissão, o preconceito começou dentro de casa, com as críticas dos familiares. "A primeira pessoa que me falou que não era lugar para mim foi a minha mãe. Depois vieram as minhas irmãs falar para eu desistir. Entendo a preocupação delas, por causa das notícias que a gente via na época, mas vi que no sistema poderia fazer diferença e dar voz às pessoas que até então eram invisíveis".   

Entre as rebeliões que presenciou ao longo da sua trajetória como polícia penal estão conflitos nas penitenciárias Ana Maria do Couto e Central do Estado, unidades que deixaram lembranças de muito aprendizado para a servidora. "Me lembro de uma presa que estava drogada e subia pelas grades e depois escorregava lá de cima. Do cheiro dos colchões queimados. Das placas de aço que foram quebradas na rebelião. Mas em vez de desistir, isso me deu mais força para lutar por melhores condições de trabalho para a categoria, por entender que poderíamos fazer melhor", afirma Jacira. 

Outra mulher que também integra essa realidade de desafios constantes que é a de policiais penais, é Leyd Laura Potencio Luz. Sua história com a Polícia Penal começou por acaso há 7 anos atrás quando sua tia a convenceu de prestar o concurso. Àquela época, ela trabalhava como técnica de enfermagem, mas viu no funcionalismo público um desafio a se permitir. 

"Eu costumo falar que não fui eu que escolhi a carreira, mas ela que me escolheu. Eu vinha da área da saúde e uma tia minha fez a minha inscrição também. Por uma ironia do destino, eu passei e ela não. Acabei gostando, vi ali um desafio para enfrentar. Hoje gosto do que faço e sou muito realizada", conta Leyd. 

Entre os seus primeiros desafios esteve um que nada tinha a ver com as atividades de rotina de uma policial penal: a necessidade de se impor para ganhar respeito em um espaço que é majoritariamente ocupado por homens. "Em certas unidades deixam as mulheres de fora de certas atividades apenas por ser mulher. Ouço muitos relatos de mulheres que se sentem desvalorizadas na carreira por causa dos colegas. Eu decidi não me deixar abalar e me impor. Se é para pegar arma de cano longo eu pego, se é para dirigir viatura, eu dirijo. Não abaixo a cabeça", relata a policial.   

Apesar disso, Leyd enfatiza que conseguiu conquistar o seu espaço, não apenas através do fruto do trabalho, mas também com a constante imposição que teve que desempenhar para garantir respeito ao seu ofício: "Gostam de falar que a gente é igual, mas nem sempre é assim. Se a gente não se impor, não consegue ter voz. Se falam alto comigo, eu falo alto também. Não deixo que me oprimam, que me calem".
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