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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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sobras da desossa

Mãe de sete filhos acorda 6h e vai a pé ao CPA 2 buscar doação de ossinhos em açougue

Foto: Fabiana Mendes / Olhar Direto

Mara tem sete filhos e mora no bairro Planalto.

Mara tem sete filhos e mora no bairro Planalto.

Afetadas pela alta no preço dos alimentos e pelo desemprego, muitas famílias de Cuiabá encontraram esperança de comida na mesa em ossinhos de carne distribuídos por um açougue localizado no bairro CPA II. Mãe de sete filhos e moradora do bairro Planalto, Mara Siqueira sai de casa por volta das 6h e vai andando até o açougue, onde distribuição das sobras da desossa dos bois começa as 11h. Já Zilda Pereira da Silva, de 63 anos, do bairro 1º de Março, vê nos ossinhos uma maneira de melhorar sua saúde através da alimentação. Ela, recém-recuperada da Covid-19, conta que tem medo que um dia não tenha comida na panela e afirma não ter condições de comprar carne em um açougue.  


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“Tudo que vem é bem-vindo, tudo que vem a gente agradece a Deus, apresenta a Deus a vida das pessoas. Eu sou muito grata ao Senhor por ele abrir essa porta. A gente está hoje nessa fila porque faz a diferença. Muitas vezes a gente não pode comprar carne, mas esses ossinhos ajudam. Deles saem algo que vem para fortalecer. Passei pela Covid-19 e só tenho a agradecer a Deus por ter esses ossinhos para fazer algo para me fortalecer. A gente fica em uma fraqueza tremenda”, comentou.
 
Zilda pontua que mesmo com a possibilidade de contrair o coronavírus novamente, ela se arrisca pegando carona com uma amiga para pegar os ossinhos. “É necessário [sair de casa]. Nós que já somos de idade, a gente não vai deixar nossos compromissos, nossos afazeres, para vir aqui por enfeite. A gente está vindo aqui por uma necessidade. Eu não tenho vergonha de falar, eu preciso”.
 
A idosa vive com R$ 600 de aposentadoria, mas usa R$ 400 para pagar o aluguel e os outros R$ 200 para conta de água e luz. “Eu sou aposentada, mas é quase a mesma coisa que não ser. Eu moro em casa alugada, pago R$ 400 de aluguel, meu esposo problema de artrose no pé, está parado, desempregado. A gente vive pela misericórdia de Deus e por pessoas boas que ainda tem nesse mundo, pessoas que ajudam a gente”, diz.

Zilda com pacote de ossinhos na mão. Foto: Olhar Direto

Zilda afirma ter medo de um dia não ter comida em casa. “Eu tenho [medo de ficar com a panela vazia], mas nunca chegou um dia que não tenha nada, sempre tem, mas é o básico”.
 
Questionada se teria condições de comprar carne em um açougue, ela respondeu de modo firme: “Não tenho mesmo. Não vou falar que eu tenho, porque eu não tenho. Eu pego R$ 600 [de aposentadoria] e pago R$ 400 de aluguel, vem também energia e água. O que vai sobrar para mim? A misericórdia do Senhor. Ainda dou graça porque sou uma pessoa que não gasta com remédio. Mas o financeiro vive no limite”, desabafa.
 
O estabelecimento concede o alimento há dez anos, mas viu o movimento de pessoas aumentar consideravelmente nos últimos meses. Antes da intensa movimentação, os ossinhos eram distribuídos para quem passasse no açougue, mas a doação teve que ser reorganizada e agora acontece sempre às segundas, quartas e sextas-feiras, às 11h.  
 
Para garantir a chegada no horário, a mãe solo de sete filhos, Mara Siqueira sai de sua residência no bairro Planalto por volta das 6h e vai andando até o açougue. Por volta das 8h, ela chega ao local e aguarda sentada em uma calçada até às 11h, quando as porta na lateral do comércio se abrem para a distribuição. São formadas duas filas, uma com mulheres e crianças e outra com homens. 
 
Antes da pandemia, Mara costumava trabalhar como diarista. Porém, viu as oportunidades diminuírem, não consegue mais trabalhar e hoje vive de doações. “Eu não trabalho, mas vivemos de doação, a gente pede. Vamos no açougue, verduraria pedir. Sobrevivemos de doações, as pessoas pegam nosso número e entram em contato. Uma doa cesta básica, a outra doa leite e assim vai. Tem um ano que eu venho buscar o ossinho e funciona muito bem, tratam todo mundo bem e estamos aqui”.
 
Mara tenta manter a organização das pessoas e mantém um canal de comunicação aberto (telefone (65) 99338-7370) para quem tem interesse em ajudar os colegas que, assim como ela, vivem em situação de vulnerabilidade social. 

Ana Lúcia Costa, 71 anos, sai de sua casa no bairro Doutor Fábio de bicicleta para buscar os ossinhos. Há três anos, ela lembra que não havia tanta procura como vê hoje.  “Eu lembro que quando comecei [pegar], eu ia na porta e eles davam e a gente ia embora. Não tinha esse tanto de gente, mas de um ano para cá, aumentou”.

Foto: Olhar Direto

 
Era por volta de 10h50 e a idosa explicava o modo de preparo dos ossinhos em sua residência, quando uma fila se formou. “Eu primeiro coloco uma panela de água fervendo e passo da panela ferventando para a panela com alho, cebola e frito bem para tirar o óleo. Tem muito óleo, depois escorro e coloco água, quando não coloco uma mandioquinha”, disse ela, que seguiu em busca de seu alimento.
 
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso teve 180 mil pessoas desempregados no primeiro trimestre de 2021.
 
Paralelo a isso, o botijão de gás no Estado custa cerca de R$ 125 e é o mais caro do país.

Em Cuiabá, a cesta básica sai por R$ 594,99, se tornando a segunda mais cara do Brasil. A capital mato-grossense fica atrás somente da cidade de São Paulo, onde o valor é de R$ 595,87, conforme Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Veja reportagem em vídeo:
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