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Terça-feira, 16 de abril de 2024

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DESABAFO EM SESSÃO

Em primeiro discurso após retorno, Teis questiona julgamentos antecipados: “esses juízes sem toga são melhores que nós?”

Foto: Thiago Bergamasco/TCE-MT

Em primeiro discurso após retorno, Teis questiona julgamentos antecipados: “esses juízes sem toga são melhores que nós?”
O conselheiro Waldir Teis aproveitou sua primeira participação em sessão plenária desde que retornou ao Tribunal de Contas (TCE-MT) para fazer um desabafo sobre o período em que esteve longe das funções, em decorrência da Operação Malebolge, deflagrada em setembro de 2017. Em seu discurso, lamentou ter sido julgado pela sociedade, antes mesmo de a Justiça analisar as acusações que levaram ao seu afastamento, em conjunto com outros quatro conselheiros.


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“Por entender que vivemos em uma sociedade repleta de juízes sem toga, enquanto houver conveniência pelo cargo que exercemos, o que escrevemos e fazemos é útil e respeitado. Mas, quando essa conveniência desaparece somos indesejáveis. Ninguém nos observa mais do que as pessoas que não gostam de nós”, afirmou.

“De todos esses juízes sem toga, quantos colocam a boca no trombone, gastam horas e horas atrás do microfone ou ficam à frente de um teclado para sentenciarem a nossa pena? Será que cumprem seus deveres de cidadão? Quantos desses juízes sem qualquer formação pagam os impostos que devem ao poder público? Quantos desses juízes sem toga registram suas secretárias domésticas junto ao Ministério do Trabalho e Previdência Social? Esses são os que nos julgam e assim fazem, pois é prazeroso julgar e condenar. Nós passamos por esses julgamentos, será que esses juízes são melhores que nós?” questionou.

Nós passamos por esses julgamentos, será que esses juízes são melhores que nós?

O conselheiro declarou que foram aproximadamente 1500 dias de afastamento e que todo esse período foi de “angústia sem trégua”. Revelou que buscou entender os reais motivos que levaram a um afastamento sem causa. “Em que todos os dias dormir e amanhecia com a espada de Dâmocles sobre a cabeça, quando muitas vezes o medo açoitava mais dos que a chibata nas costas de um coitado serviçal. Somente quem passou por isso é que sabe o quanto é difícil suportar uma tortura mental, onde muitas vezes a esperança desaparece e ao olhar para o passado se questiona: o que estou fazendo aqui? Será que vale a pena continuar essas batalhas? Enquanto esse estado de coisas ia corroendo a esperança ao mesmo tempo com muita fé em Deus e apoio da família e alguns amigos renovava forças para suportar mais um tombo, mais um açoite. Nas batalhas pairava sempre um misto de angustia, medo, ira e espera. Nesse conflito buscava conforto em Deus”.

Teis ainda demonstrou mágoa com amigos que teriam lhe abandonado desde que foi alvo da operação da Polícia Federal. Disse que apesar de todo o sofrimento, não se pode lamentar o passado e que todo esse período serviu para reforçar o seu senso de Justiça.

“Nessa quaresma que durou quase 1500 dias aprendi muita coisa e me deparei com muitas questões em relação ao ser humano, cheguei à conclusão de que a espécie humana pouco se respeita, apenas se tolera pela conveniência e a ética não passa de um vocábulo no dicionário. Enquanto alguém é conveniente para outrem, esse alguém é respeitado, bajulado e às vezes, com falsidade até, quase venerado. Esse respeito e dignidade desaparecem da mesma forma que uma folha seca levada por uma tempestade”, disse.

“Para aqueles que apostavam nos corredores que o nosso retorno era impossível, se decepcionaram com a Justiça. A eles o meu muito obrigado, pois o lutador desfecha seus golpes de acordo com a envergadura do seu oponente e cada golpe sofrido, apesar de tudo, as forças se redobram. Estou de volta não para alimentar e lamentar o passado, mas para esquecê-lo e ter a consciência de que ninguém é obrigado a semear, mas se fizer será obrigado à colheita, pois quem semeia o mal recolhe o tormento. Eu sempre semeei o bem e continuarei dessa forma conduzindo a minha vida”, pontuou.

Afastamento e retorno

Teis é o quarto dos cinco conselheiros afastados em setembro de 2017, durante Operação Malebolge, a retornar ao cargo. Antes dele, Valter Albano, Antonio Joaquim e José Carlos Novelli conquistaram o direito de reassumir a cadeira no TCE-MT. Apenas Sérgio Ricardo, que já estava afastado do cargo por determinação do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) continua longe da Corte de Contas.

A decisão que favoreceu Teis foi proferida pelo ministro Raul Araújo. Segundo o magistrado, é fácil reconhecer que tanto a prisão como as medidas restritivas impostas ao acusado já surtiram os efeitos esperados. “Hoje, o risco de o acusado adotar conduta incompatível com o seu retorno às funções de conselheiro é o mesmo dos demais conselheiros investigados, que já estão de volta ao TCE”, ressaltou.

Teis estava impedido de frequentar o Tribunal e de manter contato com colegas da corte. Ele foi denunciado por embaraço no âmbito da Operação Ararath. A denúncia descreve a tentativa do conselheiro afastado de embaraçar a atividade da polícia judiciária que, em 17 de junho de 2020, cumpria mandados de busca e apreensão em um escritório em Cuiabá. 

O denunciado, ao notar que os policiais se concentravam em uma segunda sala, recolheu uma série de talões de cheques com cifras milionárias e outras folhas assinadas, mas sem preenchimento do valor, que estavam em sala ainda não analisada pelas autoridades. Mas acabou sendo flagrado, e o material, que havia sido jogado numa lixeira, foi recolhido.

Na denúncia, além da condenação pela infração de embaraço à investigação, o MPF requereu à Justiça indenização por danos morais coletivos, no valor de R$ 3 milhões.
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